Vale oriental

Pontos de inflexão com implicações globais

O novo BRICS e os chips fabricados pela Huawei mudam o jogo; a economia global vai (parcialmente) se desdolarizar, dando lugar a moedas nacionais
Edward Tse é fundador e CEO da Gao Feng Advisory Company, uma empresa de consultoria de estratégia e gestão com raízes na China.

Compartilhar:

Dois fatos importantes com uma semana de diferença entre si no mês passado podem ter significado histórico. O bloco econômico BRICS, que agrupa Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, anunciou em 25 de agosto que seis novos países-membros se juntaram ao grupo, elevando o número total para 11. E, em 29 de agosto, a big tech chinesa Huawei lançou seu novo Mate Smartphone 60 Pro, que vem com chips desenvolvidos pela própria empresa, com conectividade 5G, além de suporte para chamadas via satélite.

Esses dois acontecimentos vistos como um só marcam um ponto de virada rumo a uma nova ordem mundial.

O grupo alargado dos BRICS representa agora mais de 40% da população mundial, 25% do produto interno bruto global, bem como um terço do crescimento econômico do planeta. Possui a maior potência industrial do mundo (China), grandes nações produtoras de óleo e gás (Arábia Saudita, Rússia, Irã e Emirados Árabes Unidos), importantes produtores agrícolas e minerais.

Tecnologicamente, o novo smartphone da Huawei significa que vários marcos foram alcançados. Os chips de 7 nm do conglomerado marcam um avanço na autossuficiência, apesar das sanções dos Estados Unidos à indústria de chips da China. Quais seriam as implicações que esses eventos terão no mundo?

Tais fatos partem de pontos cruciais anteriores, com os BRICS já tendo ultrapassado as economias do G7 em paridade de poder de compra em 2020, e o comércio no âmbito da Iniciativa Cinturão e Rota (BRI), liderada pela China, excedeu o comércio com os EUA, a União Europeia e o Japão em 2022.

As tendências apontam um reequilíbrio de poder, com o Ocidente a permanecer integral e o Sul global a tornar-se cada vez mais influente. Muitas nações que dependem principalmente de recursos naturais para as exportações poderão tornar-se orientadas para a produção e as exportações. Nações com grandes recursos, como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, pretendem ser elas próprias detentoras de tecnologia, utilizando inovações do Ocidente e da China.

A descoberta dos chips na China irá redesenhar o panorama global da produção de semicondutores e, nesse sentido, a forma como a globalização irá evoluir. Como resultado, a posição da China como centro de produção de uma vasta gama de produtos tecnológicos se fortalecerá ainda mais, tal como acontece com suas supply chains associadas. E, à medida que o mundo se diversifica, a capacidade de produção vai se espalhar por outras nações do Sul global.

Com a ascensão da classe média nas economias emergentes, a procura aumentará tanto por bens de consumo como por alimentos. Poderíamos esperar mais comércio de produtos agrícolas e de consumo entre as nações do Sul global. uso de moedas nacionais para liquidações internacionais vai se acelerar, embor eu não creia em “desdolarização” total. O novo mundo pode parecer mais complicado para alguns, mas também fará muito mais sentido para outros. As empresas deveriam refletir mais sobre o que isso significa.

Artigo publicado na HSM Management nº 160.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Calendário

Não, o ano ainda não acabou!

Em meio à letargia de fim de ano, um chamado à consciência: os últimos dias de 2024 são uma oportunidade valiosa de ressignificar trajetórias e construir propósito.

Gestão de Pessoas
Conheça o conceito de Inteligência Cultural e compreenda os três pilares que vão te ajudar a trazer clareza e compreensão para sua comunicação interpessoal (e talvez internacional)

Angelina Bejgrowicz

4 min de leitura
Liderança
Entenda como construir um ambiente organizacional que prioriza segurança psicológica, engajamento e o desenvolvimento genuíno das equipes.

Athila Machado

6 min de leitura
Empreendedorismo
Após a pandemia, a Geração Z que ingressa no mercado de trabalho aderiu ao movimento do "quiet quitting", realizando apenas o mínimo necessário em seus empregos por falta de satisfação. Pesquisa da Mckinsey mostra que 25% da Geração Z se sentiram mais ansiosos no trabalho, quase o dobro das gerações anteriores. Ambientes tóxicos, falta de reconhecimento e não se sentirem valorizados são alguns dos principais motivos.

Samir Iásbeck

4 min de leitura
Empreendedorismo
Otimizar processos para gerar empregos de melhor qualidade e remuneração, desenvolver produtos e serviços acessíveis para a população de baixa renda e investir em tecnologias disruptivas que possibilitem a criação de novos modelos de negócios inclusivos são peças-chave nessa remontagem da sociedade no mundo

Hilton Menezes

4 min de leitura
Finanças
Em um mercado cada vez mais competitivo, a inovação se destaca como fator crucial para o crescimento empresarial. Porém, transformar ideias inovadoras em realidade requer compreender as principais fontes de fomento disponíveis no Brasil, como BNDES, FINEP e Embrapii, além de adotar uma abordagem estratégica na elaboração de projetos robustos.

Eline Casalosa

4 min de leitura
Empreendedorismo
A importância de uma cultura organizacional forte para atingir uma transformação de visão e valores reais dentro de uma empresa

Renata Baccarat

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Em meio aos mitos sobre IA no RH, empresas que proíbem seu uso enfrentam um paradoxo: funcionários já utilizam ferramentas como ChatGPT por conta própria. Casos práticos mostram que, quando bem implementada, a tecnologia revoluciona desde o onboarding até a gestão de performance.

Harold Schultz

3 min de leitura
Gestão de Pessoas
Diferente da avaliação anual tradicional, o modelo de feedback contínuo permite um fluxo constante de comunicação entre líderes e colaboradores, fortalecendo o aprendizado, o alinhamento de metas e a resposta rápida a mudanças.

Maria Augusta Orofino

3 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A Inteligência Artificial, impulsionada pelo uso massivo e acessível, avança exponencialmente, destacando-se como uma ferramenta inclusiva e transformadora para o futuro da gestão de pessoas e dos negócios

Marcelo Nóbrega

4 min de leitura
Liderança
Ao promover autonomia e resultados, líderes se fortalecem, reduzindo estresse e superando o paternalismo para desenvolver equipes mais alinhadas, realizadas e eficazes.

Rubens Pimentel

3 min de leitura