Uncategorized

Por que nunca sonhei ser empreendedora?

CEO e fundadora da moObie, comunidade de mobilidade urbana com mais de 60 mil pessoas conectadas. Graduada na FGV-EAESP e com MBA na Kellogg School, atuou no BCG e foi diretora da Smiles.

Compartilhar:

Hoje, aos 38 anos, eu me sinto completamente realizada por estar construindo a moObie, uma startup de aluguel de carros de pessoa para pessoa que oferece uma experiência 100% mobile para os usuários, e renda complementar para donos de veículos sem uso. E a moObie só desperta em mim o desejo de construir ainda outras startups de tecnologia. Mas, às vezes, penso: “Por que nunca sonhei em ser empreendedora?”. Acredito que tem um pouco a ver com a questão de equidade de gênero no mundo dos negócios. 

Tive muito pouco estímulo em relação ao tema. Lembro que durante a adolescência, em Campo Grande (MS), quando escutava que alguém era um empresário de sucesso, eu logo associava a homens, mais velhos, com capital e donos de algum comércio físico, o que nunca me deixou curiosa. Outro motivo são os casos não bem-sucedidos de empreendedorismo feijão-com-arroz na minha família. Meu sonho na faculdade era me tornar uma executiva de multinacional. Não me recordo de nenhuma aula sobre empreendedorismo na graduação, aliás. Foi no MBA, em 2011, na Kellogg School, que tive as primeiras aulas de empreendedorismo, mas ainda voltadas para manufacturing.

O que mudou para que pudesse me tornar uma empreendedora e justamente em tecnologia? A robustez do ecossistema de startups em São Paulo. Por meio da troca de experiências com outros fundadores, em ambientes como coworkings, contato com investidores e mão de obra qualificada (desenvolvedores e designers que são disputados a tapa, o que me fez perder dois dos primeiros funcionários para startups em Berlim). Outro fator foi a eliminação da barreira do capital para inovação. Hoje podemos desenvolver uma tecnologia disruptiva quase sem capital. Qualquer um pode montar uma infraestrutura na Amazon, utilizar banco de dados e ferramentas open source gratuitas e bem robustas e desenvolver um aplicativo ou um site. Não é mais necessário fazer contratos caros com IBM ou Oracle ou contratar um Windows Office; basta ter muita vontade e curiosidade para aprender.

Outra grande mudança foi o advento do mobile. Para quem trabalhou em internet dial-up na Telefônica em 2003 e comprou um Nexus One durante o summer job no Google, no Vale do Silício, em 2010, quando quase não havia aplicativos para celular, é realmente impressionante ver como os smartphones e a internet móvel evoluíram e permitiram a rápida distribuição de novas tecnologias. A moObie atingiu mais de 60 mil usuários cadastrados em menos de um ano de operação e com pouco investimento em marketing.

Nunca sonhei ser empreendedora, mas hoje é possível sonhar; creio que todos nascemos para ser empreendedores, homens ou mulheres, de qualquer parte do mundo.  É um presente estar empreendendo – e nas áreas de tecnologia e de economia compartilhada. Sorte? Não sei. Acho que anos de coaching e terapias me ajudaram a receber o presente.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Há um fio entre Ada Lovelace e o CESAR

Fora do tempo e do espaço, talvez fosse improvável imaginar qualquer linha que me ligasse a Ada Lovelace. Mais improvável ainda seria incluir, nesse mesmo

Carreira, Cultura organizacional, Gestão de pessoas
A área de gestão de pessoas é uma das mais capacitadas para isso, como mostram suas iniciativas de cuidado. Mas precisam levar em conta quatro tipos de necessidades e assumir ao menos três papéis

Natalia Ubilla

3 min de leitura
Estratégia
Em um mercado onde a reputação é construída (ou desconstruída) em tempo real, não controlar sua própria narrativa é um risco que nenhum executivo pode se dar ao luxo de correr.

Bruna Lopes

7 min de leitura
Liderança
O problema está na literatura comercial rasa, nos wannabe influenciadores de LinkedIn, nos só cursos de final de semana e até nos MBAs. Mas, sobretudo, o problema está em como buscamos aprender sobre a liderança e colocá-la em prática.

Marcelo Santos

8 min de leitura
ESG
Inclua uma nova métrica no seu dashboard: bem-estar. Porque nenhum KPI de entrega importa se o motorista (você) está com o tanque vazio

Lilian Cruz

4 min de leitura
ESG
Flexibilidade não é benefício. É a base de uma cultura que transformou nossa startup em um caso real de inclusão sem imposições, onde mulheres prosperam naturalmente.

Gisele Schafhauser

5 min de leitura
Tecnologias exponenciais
O futuro da liderança em tempos de IA vai além da tecnologia. Exige preservar o que nos torna humanos em um mundo cada vez mais automatizado.

Manoel Pimentel

7 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Setores que investiram em treinamento interno sobre IA tiveram 57% mais ganhos de produtividade. O segredo está na transição inteligente.

Vitor Maciel

6 min de leitura
Empreendedorismo
Autoconhecimento, mentoria e feedback constante: a nova tríade para formar líderes preparados para os desafios do trabalho moderno

Marcus Vaccari

6 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Se seu atendimento não é 24/7, personalizado e instantâneo, você já está perdendo cliente para quem investiu em automação. O tempo de resposta agora é o novo preço da fidelização

Edson Alves

4 min de leitura
Inovação
Enquanto você lê mais um relatório de tendências, seus concorrentes estão errando rápido, abolindo burocracias e contratando por habilidades. Não é só questão de currículos. Essa é a nova guerra pela inovação.

Alexandre Waclawovsky

8 min de leitura