A população de animais de estimação superou em muito a população de crianças – os pets já somam mais de 160 milhões de indivíduos, segundo dados da ABINPET; enquanto o Censo Demográfico 2022 revelou que a população de crianças entre 0 e 14 anos no Brasil é formada por 40 milhões de pessoas. Esses dados revelam mudanças comportamentais e culturais da sociedade e estão gerando impactos no mercado, na legislação brasileira e no ambiente de trabalho.
Primeiro é preciso entender as mudanças culturais e comportamentais que levaram a população de animais nos lares a crescer ao nível de movimentar mais de 285 mil empresas no país e bater mais de R$ 76 bilhões de faturamento em 2024. Na pandemia, o número de pets aumentou 30%, e esse crescimento pode ser explicado por fatores ligados à saúde mental e psicológica. O isolamento social favoreceu a criação e fortalecimento dos vínculos com os animais que, em muitos casos, eram a única companhia possível na situação de risco sanitário enfrentada durante os anos de 2020 a 2022. O cuidado e afeto dos tutores transformou a relação, trazendo o cachorro, por exemplo, para o status de membro da família, tendo suas necessidades priorizadas e incluídas no orçamento familiar.
Olhando a situação por outra perspectiva, também comportamental, a população em idade produtiva cada vez menos está tendo filhos. A taxa de fecundidade no Brasil tem apresentado uma tendência de queda nas últimas décadas. Dados do IBGE mostram que, entre 2000 e 2023, essa taxa diminuiu de 2,32 para 1,57 filhos por mulher – uma proporção menor que a de pets por residência, que está em 1,6.
A recente aprovação do projeto de lei 5636/23 pela Comissão de Trabalho da Câmara dos Deputados vem para atualizar a CLT, reconhecendo as mudanças sociais impulsionadas pela convivência com os animais de estimação. Essa PL, que trata sobre a inclusão de planos de saúde para animais domésticos como benefício corporativo, reforça a responsabilidade social das empresas e contribui para a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores. A expectativa do mercado de saúde animal e benefícios corporativos pela sanção da nova lei é alta, visto que essa mudança pode impactar significativamente a relação entre empresas e colaboradores. Nos Estados Unidos, que ocupa a primeira posição no ranking de população animal, há mais de 20 anos, algumas empresas já oferecem plano de saúde pet como benefício. No Brasil, que é o terceiro em número de pets no mundo, esse movimento começou a ganhar força apenas em 2020. A oferta de benefícios voltados aos pets não é apenas uma questão de conveniência, mas um reflexo das novas prioridades dos profissionais.
Ao analisar esses dados e como eles fazem parte da realidade dos trabalhadores, é possível perceber o grande potencial do mercado de benefícios corporativos pet. Empresas que acompanham as transformações sociais e culturais se destacam na atração e retenção de talentos, tornando-se mais competitivas no cenário atual. Uma das primeiras barreiras a serem enfrentadas é o entendimento das necessidades dos profissionais e suas famílias e como os benefícios corporativos podem ser alinhados às novas demandas que incluem os pets. Uma forma eficaz de lidar com essa questão é a realização de pesquisas internas para mapear o perfil dos colaboradores. Esse levantamento permite que os RHs compreendam melhor as prioridades da equipe e embasem propostas estratégicas para a diretoria. Saber, por exemplo, se há mais pets do que filhos humanos entre os funcionários e quais benefícios agregariam mais valor a eles é essencial para decisões alinhadas às expectativas do time.
Vale destacar que nesse contexto, os profissionais entre 28 e 34 anos são os que mais valorizam benefícios voltados aos pets, pois muitos priorizam a companhia dos animais em detrimento da parentalidade tradicional. Esse comportamento reflete uma mudança no perfil dos trabalhadores e exige um olhar mais atento das empresas para garantir engajamento e retenção. O Brasil tem potencial para se tornar uma grande referência em benefícios corporativos pets, a nossa cultura e até a legislação caminham para isso, o próximo passo é a mudança de entendimento dos RHs tradicionais ao lidar com as novas demandas do mercado.