ESG
4 min de leitura

Por que será que não escutamos?

Cada vez mais palavras de ordem, imperativos e até descontrole tomam contam do dia-dia. Nesse costume, poucos silêncios são entendidos como necessários e são até mal vistos. Mas, se todos falam, no fim, quem é que está escutando?
Cofounder & Chief Learning Officer da Trillio

Compartilhar:

São tantas as respostas para essa pergunta que trazer aqui uma short list é correr o risco de ser rasa. Risco assumido.

Como sei que muitos de nós estamos na busca pelo conhecimento express, compartilho aqui o que vejo do meu ângulo.

Em 90% dos diagnósticos que fazemos em nossos clientes, o gap na competência “comunicação” está presente. E quando aprofundamos um pouco mais, problemas relativos à falta de escuta como geradoras de conflitos nas organizações é alarmante. Esses problemas acontecem na hora de um feedback, nas divergências de posicionamentos entre pessoas e áreas, na gestão de mudanças, e até mesmo nas interações cotidianas, onde a escuta genuína é frequentemente substituída pela pressa de responder ou impor ideias.

A ausência de uma escuta adequada cria barreiras para a colaboração e inibe o fluxo de inovação, prejudicando o ambiente de confiança necessário para a construção de relacionamentos saudáveis e o sucesso organizacional. Esse fenômeno é amplificado por pressões de tempo, sobrecarga de informações e, muitas vezes, pela falta de empatia, gerando conflitos que poderiam ser evitados com uma comunicação assertiva.

A oficina que mais gosto de facilitar é a de Escuta, porque também tenho meus desafios com essa habilidade por ser muito ansiosa. Pesquisar esse tema e falar sobre ele me ajuda na consolidação da minha própria aprendizagem. Nessa aula, destaco três pontos:

  • Começando pela tal da raiva. Quando estamos com raiva de uma pessoa, não importa se ela está certa naquilo que está nos dizendo. A mente rejeita os dados dissonantes e tenta ser fiel ao que se sente: “se estou com raiva de você, você não estará certo em nada do que diz”.
  • Outro detrator da escuta é a pessoa dona da verdade. Essa pessoa é incapaz de olhar pela perspectiva do outro. Geralmente, é vista como alguém teimosa, inflexível e que impõe suas ideias como sendo as únicas válidas, sem espaço para diálogo ou construção colaborativa.
  • E a última que sempre enfatizo: saúde mental e inteligência emocional. Como escutar alguém se estamos em depressão, com stress, exaustão emocional, burnout e num momento em que 68% dos brasileiros sentem-se ansiosos, mas menos da metade busca ajuda, segundo pesquisa do Instituto Cactus em parceria com a AtlasIntel.

Não sou psicóloga, mas sou uma eterna aprendiz no tema “desenvolvimento humano e suas competências essenciais para liderarmos futuros melhores”. Minha energia fica aqui dedicada a pensar conteúdos e estratégias para desenvolvê-las, e foi explorando muitas facetas da comunicação que me deparei com a importância de cuidarmos e desenvolvermos nossas escutas.

Uma conclusão simples, como todo esse texto: precisamos nos curar emocionalmente para escutarmos melhor.

A cura emocional, recomendo sempre que possível, que seja buscada com a ajuda de um profissional de saúde. Muitas vezes achamos que “damos conta” dos desafios diários e vamos dando um jeitinho para seguir em frente, ignorando os sinais que nosso corpo e mente nos enviam.

No entanto, essas emoções mal resolvidas podem se acumular, afetando não só nosso bem-estar pessoal, mas também nossas relações e desempenho profissional. Trabalhar com um terapeuta ou profissional capacitado nos permite entender a raiz de nossos sentimentos, desenvolver ferramentas para lidar com eles de forma saudável e, assim, promover um crescimento mais equilibrado e sustentável em todas as áreas da vida.

Para escutarmos melhor, sugiro conhecer os diferentes tipos de escuta e praticá-los sempre, lembrando que aprendizado é o conhecimento colocado em prática com excelência.

Conheci esses tipos de escuta com a querida Dra. Mara Behlau, Consultora em Comunicação Humana, e sigo compartilhando nas minhas aulas e praticando nas minhas relações.

Existem diferentes tipos de escuta, cada uma adequada a contextos e necessidades específicos. Elas podem ser divididas em cinco categorias principais: a escuta apreciativa passiva, a escuta empática passiva, a escuta organizativa ativa, a escuta perspicaz e a escuta avaliadora.

Escuta Apreciativa Passiva
Esse tipo de escuta é utilizado em contextos leves, como quando alguém conta uma história engraçada ou um fato curioso. Aqui, o mais importante é demonstrar sua emoção, mostrando que você está genuinamente engajado no que está sendo compartilhado.

Escuta Empática Passiva
Quando o contexto envolve problemas ou situações difíceis, a escuta empática passiva se torna essencial. Nesse caso, é importante estar totalmente presente e demonstrar solidariedade, sem tentar resolver o problema imediatamente ou dar conselhos não solicitados. Reconhecer o que o outro está passando é o mais importante aqui.

Escuta Organizativa Ativa:
Este tipo de escuta é fundamental em situações em que há muitos detalhes envolvidos, como discussões corporativas ou conflitos. O objetivo é ajudar a pessoa a reconstruir a história que está contando. Perguntas como “De tudo o que você está me dizendo, o que é mais importante?” podem ser úteis para ajudar o outro a se organizar e compreender melhor a situação.

Escuta Perspicaz:
A escuta perspicaz é voltada para o aprendizado e pesquisa de boas práticas. Aqui, fazer boas perguntas é essencial para captar insights e aprender a partir da experiência compartilhada.

Escuta Avaliadora:
Finalmente, a escuta avaliadora surge quando alguém se justifica, talvez ao explicar por que não atingiu uma meta ou não cumpriu uma tarefa. Nesse caso, é importante fazer perguntas que ajudem a entender as razões por trás do comportamento descrito, permitindo assim uma avaliação mais precisa da situação.

E para inspirar, deixo aqui uma frase do Marshall Rosenberg, psicólogo e mediador norte-americano, conhecido por desenvolver o conceito de Comunicação Não-Violenta (CNV): “Quando escutamos os sentimentos e necessidades de alguém, damos a eles o que há de mais precioso: nossa presença”.

Compartilhar:

Artigos relacionados

A aposta calculada que levou o Boticário a ser premiado no iF Awards

Enquanto concorrentes correm para lançar coleções sazonais inspiradas em tendências efêmeras, o Boticário demonstra que compreende um princípio fundamental: o verdadeiro valor do design não está na estética superficial, mas em sua capacidade de gerar impacto social e econômico simultaneamente. A linha Make B., vencedora do iF Design Award 2025, não é um produto de beleza – é um manifesto estratégico.

Quando o colaborador é o problema

Ambientes tóxicos nem sempre vêm da cultura – às vezes, vêm de uma única pessoa. Entenda como identificar e conter comportamentos silenciosos que desestabilizam equipes e ameaçam a saúde organizacional.

Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
17 de setembro de 2025
Ignorar o talento sênior não é só um erro cultural - é uma falha estratégica que pode custar caro em inovação, reputação e resultados.

João Roncati - Diretor da People + Strategy

3 minutos min de leitura
Inovação
16 de setembro de 2025
Enquanto concorrentes correm para lançar coleções sazonais inspiradas em tendências efêmeras, o Boticário demonstra que compreende um princípio fundamental: o verdadeiro valor do design não está na estética superficial, mas em sua capacidade de gerar impacto social e econômico simultaneamente. A linha Make B., vencedora do iF Design Award 2025, não é um produto de beleza – é um manifesto estratégico.

Magnago

4 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Bem-estar & saúde, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
15 de setembro de 2025
O luto não pede licença - e também acontece dentro das empresas. Falar sobre dor é parte de construir uma cultura organizacional verdadeiramente humana e segura.

Virginia Planet - Sócia e consultora da House of Feelings

2 minutos min de leitura
Marketing & growth, Inovação & estratégia, Tecnologia & inteligencia artificial
12 de setembro de 2025
O futuro do varejo já está digitando na sua tela. O WhatsApp virou canal de vendas, atendimento e fidelização - e está redefinindo a experiência do consumidor brasileiro.

Leonardo Bruno Melo - Global head of sales da Connectly

4 minutos min de leitura
Liderança, Cultura organizacional, Inovação & estratégia, Tecnologia & inteligencia artificial
11 de setembro de 2025
Agilidade não é sobre seguir frameworks - é sobre gerar valor. Veja como OKRs e Team Topologies podem impulsionar times de produto sem virar mais uma camada de burocracia.

João Zanocelo - VP de Produto e Marketing e cofundador da BossaBox

3 minutos min de leitura
Cultura organizacional, compliance, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Liderança
10 de setembro de 2025
Ambientes tóxicos nem sempre vêm da cultura - às vezes, vêm de uma única pessoa. Entenda como identificar e conter comportamentos silenciosos que desestabilizam equipes e ameaçam a saúde organizacional.

Tatiana Pimenta - CEO da Vittude

5 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Inovação & estratégia
9 de setembro de 2025
Experiência também é capital. O ROEx propõe uma nova métrica para valorizar o repertório acumulado de profissionais em times multigeracionais - e transforma diversidade etária em vantagem estratégica.

Fran Winandy e Martin Henkel

10 minutos min de leitura
Inovação
8 de setembro de 2025
No segundo episódio da série de entrevistas sobre o iF Awards, Clarissa Biolchini, Head de Design & Consumer Insights da Electrolux nos conta a estratégia por trás de produtos que vendem, encantam e reinventam o cuidado doméstico.

Rodrigo Magnago

2 minutos min de leitura
Tecnologia & inteligencia artificial, Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
5 de setembro de 2025
O maior desafio profissional hoje não é a tecnologia - é o tempo. Descubra como processos claros, IA consciente e disciplina podem transformar sobrecarga em produtividade real.

Diego Nogare

6 minutos min de leitura
Marketing & growth, Cultura organizacional, Inovação & estratégia, Liderança
4 de setembro de 2025
Inspirar ou limitar? O benchmark pode ser útil - até o momento em que te afasta da sua singularidade. Descubra quando olhar para fora deixa de fazer sentido.

Bruna Lopes de Barros

3 minutos min de leitura