Diversidade

Por uma diversidade racial real nas empresas

Para além de atrair, recrutar e selecionar adequadamente pretos e pardos, o RH deve promover o desenvolvimento desses profissionais e preparar o ambiente para recepcioná-los
Angela Miguel é editora de conteúdos customizados em HSM Management e MIT Sloan Review Brasil.

Compartilhar:

Embora estudos de consultorias ao redor do mundo apontem uma série de ligações entre a inclusão e a diversidade nas empresas com sua saúde financeira, esse tema ainda é um terreno complicado quando ele chega ao RH, especialmente na questão racial. A consultoria McKinsey, em seu estudo *Diversity wins: How inclusion matters*, apontou que organizações que possuem diversidade racial em cargos de liderança apresentam 33% mais propensão à lucratividade.

Contudo, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os profissionais negros têm muito mais dificuldade na hora de conseguirem um emprego do que os brancos, ainda que apresentem o mesmo currículo, e chegam a receber salário até 31% mais baixo ao ocuparem a mesma posição. Já um levantamento do Instituto Ethos indicou que pretos e pardos estão em pouco mais de 6% de funções gerenciais e em 4,7% de cargos executivos no Brasil.

Então, como as empresas podem [alavancar a entrada de negros em seus quadros organizacionais](https://www.revistahsm.com.br/post/programas-de-talentos-derrubem-os-estereotipos) – e não apenas ampliar o acesso, mas colaborar para que todo o sistema empresarial colabore para o ingresso, a atração, o recrutamento, a seleção e, especialmente, o desenvolvimento das pessoas negras?

Foi esse o principal mote do Enegrecendo na Prática, evento realizado pela Eureca, consultoria de RH especializada em juventudes, que a __HSM Management__ acompanhou. Durante três dias, profissionais da área de recrutamento e seleção de empresas do país participaram de reflexões com o objetivo de estabelecer ações de curto, médio e longo prazo para, de fato, aumentar a diversidade racial em suas estruturas.

## Um chamado urgente
“Todo recrutador que deseja trazer [diversidade racial para sua organização](https://www.revistahsm.com.br/post/negros-empoderamento-e-o-mercado-de-trabalho) deve pensar: quem é a pessoa negra que chega no RH? Qual é a carga que essa pessoa traz, inconsciente ou conscientemente, de exclusão, marginalização, rejeição ao se colocar diante do selecionador?”. Com essa premissa, o Frei David Santos, diretor da Educafro, deu início à sua palestra na primeira noite, resgatando os atos oficiais da história que decretaram a marginalização do negro no país até chegar às expressões do racismo no mundo empresarial atual.

Segundo ele, uma forma de o recrutador ser mais consciente do seu papel e poder perceber os vieses que existem dentro de si – e que podem influenciar em suas decisões de recrutamento – é mergulhar na história do povo negro no Brasil. Após ações afirmativas de inclusão nas universidades públicas e particulares, na educação básica, no serviço público federal e estadual, Frei David acredita que as empresas privadas devem dar o próximo passo, mas ainda falta coragem.

“Esse é um desafio que precisa ser enfrentado urgentemente e as empresas não têm feito o esforço necessário. Não se iludem, vocês, empresas, precisam investir na formação do povo negro porque esse povo sempre foi vítima da exclusão. Crie estratégias para formação, desenvolvimento e educação das pessoas negras”, decreta. “Propostas novas de negócios estão sendo tocadas com vícios velhos de racismo e exclusão. É isso que precisamos combater.”

## Talentos negros no mercado
À frente da aceleradora de negócios FA.VELA, João Souza foi o convidado da segunda noite e trouxe um olhar sobre quem é o negro que chega aos processos de seleção. Para Souza, o primeiro conselho é que o jovem negro jamais tente mimetizar o que a empresa está buscando, pois bons recrutadores não acreditam na imitação: “em um processo seletivo, não finja ser quem você não é, mostre seus valores e seu discurso, nossos ancestrais modernos e antigos lutaram muito para a gente ter nossas liberdades hoje”.

Ao mesmo tempo, de acordo com Souza, as organizações precisam entender que não se deve fazer “bricolagem com diversidade”, pois a construção de um [programa de diversidade racial](https://www.revistahsm.com.br/post/diversidade-e-inclusao-em-pauta-na-pandemia) envolve questões profundas, inclusive sobre o ambiente que receberá os candidatos negros aprovados.

“Estamos falando de criar ambientes diversos, é mais do que RH, e já vi casos de empresas que não estavam preparadas para isso, havia problemas estruturais, e a gestão de pessoas deve liderar a atmosfera ideal para que essas pessoas sejam recepcionadas de verdade. Não é só tratar igual, treinar o ambiente, a cultura, não é olhar na perspectiva assistencial. Queremos garantir acesso às pessoas, não é apenas absorver aquelas mais vulneráveis, a gente precisa ter empresas dispostas a abrir portas a todo tipo de minorias e desenvolvê-las”, reforça.

## Índice racial nas empresas
Na última noite, Gustavo Borges e Tatiana Pio, da Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial, apresentaram resultados do primeiro Índice de Inclusão Racial Empresarial (IIRE), levantamento criado pela organização em parceria com a Faculdade Zumbi dos Palmares e a ONG Afrobras.

A primeira rodada de resultados mostrou que, embora tenha aumentado em 50% o ingresso de alunos negros em universidades públicas, o crescimento dos profissionais negros nas empresas não chegou a 10%. Além disso, pretos e pardos ocupam, em sua maioria, posições de aprendizes e trainees, em menos de 5% estão em cargos executivos.

“O IIRE aponta que existe um preparo das empresas, até certo ponto, para aumentar a entrada desse público, mas o nível de conscientização precisa estar capilarizado, e um dos maiores desafios é a média gerência, responsável principalmente pelo desenvolvimento desse profissional”, afirma Borges. Para apoiar ações afirmativas a serem realizadas de forma ética e legal, a organização sugere planos de ações baseados em seis iniciativas:

– Recenseamento: ter uma fotografia da situação da empresa

– Conscientização: entendimento da importância da temática racial para que as proposições se transformem em práticas concretas

– Recrutamento: processos seletivos precisam captar profissionais pretos

– Capacitação: esses profissionais precisam ser desenvolvidos internamente

– Ascenção: empresas devem trabalhar no plano de carreira desses profissionais para que alcancem as [altas lideranças](https://www.revistahsm.com.br/post/sua-lideranca-e-inclusiva)

– Publicidade e engajamento: é preciso divulgar todas as vantagens que essas ações trazem à organização

“Principalmente em 2020, tivemos a missão de tornar público os programas de discriminação positiva no processo seletivo que já estavam acontecendo em empresas privadas. Acreditamos que, diante de exemplos positivos e com a defesa jurídica já existente, mais companhias podem fazer esse movimento com mais segurança, tranquilidade e preparo, tanto para o lado da corporação quanto para os candidatos” finaliza Tatiana.

Confira mais artigos sobre juventude no mercado de trabalho no [Dossiê Jovens Talentos](https://www.revistahsm.com.br/dossie/jovens-talentos).

Compartilhar:

Artigos relacionados

Inovação & estratégia
27 de outubro de 2025
Programas corporativos de idiomas oferecem alto valor percebido com baixo custo real - uma estratégia inteligente que impulsiona engajamento, reduz turnover e acelera resultados.

Diogo Aguilar - Fundador e Diretor Executivo da Fluencypass

4 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Inovação & estratégia
25 de outubro de 2025
Em empresas de capital intensivo, inovar exige mais do que orçamento - exige uma cultura que valorize a ambidestria e desafie o culto ao curto prazo.

Atila Persici Filho e Tabatha Fonseca

17 minutos min de leitura
Inovação & estratégia
24 de outubro de 2025
Grandes ideias não falham por falta de potencial - falham por falta de método. Inovar é transformar o acaso em oportunidade com observação, ação e escala.

Priscila Alcântara e Diego Souza

6 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
23 de outubro de 2025
Alta performance não nasce do excesso - nasce do equilíbrio entre metas desafiadoras e respeito à saúde de quem entrega os resultados.

Rennan Vilar - Diretor de Pessoas e Cultura do Grupo TODOS Internacional.

4 minutos min de leitura
Uncategorized
22 de outubro de 2025
No setor de telecom, crescer sozinho tem limite - o futuro está nas parcerias que respeitam o legado e ampliam o potencial dos empreendedores locais.

Ana Flavia Martins - Diretora executiva de franquias da Algar

4 minutos min de leitura
Marketing & growth
21 de outubro de 2025
O maior risco do seu negócio pode estar no preço que você mesmo definiu. E copiar o preço do concorrente pode ser o atalho mais rápido para o prejuízo.

Alexandre Costa - Fundador do grupo Attitude Pricing (Comunidade Brasileira de Profissionais de Pricing)

5 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
20 de outubro de 2025
Nenhuma equipe se torna de alta performance sem segurança psicológica. Por isso, estabelecer segurança psicológica não significa evitar conflitos ou suavizar conversas difíceis, mas sim criar uma cultura em que o debate seja aberto e respeitoso.

Marília Tosetto - Diretora de Talent Management na Blip

4 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Marketing & growth
17 de outubro de 2025
No Brasil, quem não regionaliza a inovação está falando com o país certo na língua errada - e perdendo mercado para quem entende o jogo das parcerias.

Rafael Silva - Head de Parcerias e Alianças na Lecom

3 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde, Tecnologia & inteligencia artificial
16 de outubro de 2025
A saúde corporativa está em colapso silencioso - e quem não usar dados para antecipar vai continuar apagando incêndios.

Murilo Wadt - Cofundador e diretor geral da HealthBit

3 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
15 de outubro de 2025
Cuidar da saúde mental virou pauta urgente - nas empresas, nas escolas, nas nossas casas. Em um mundo acelerado e hiperexposto, desacelerar virou ato de coragem.

Viviane Mansi - Conselheira de empresas, mentora e professora

3 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)