Inovação

Porque você não pode parar de inovar, mesmo quando o mundo diz o contrário!

É preciso deixar para trás valores e práticas que funcionaram como combustível para o negócio corrente, eles provavelmente vão falhar nos novos
Daniel Lugondi é principal innovation manager na Zup Innovation. Possui mestrado em engenharia de produção com foco em gestão da inovação e empreendedorismo, é especialista em design de interação e bacharel em design.

Compartilhar:

Para muitos executivos, em meio a um cenário de crise, o posicionamento comumente seguido é o de se reservar e esperar o que está por vir. Invariavelmente, o que ocorre em seguida são cortes para verbas de publicidade e, para aquelas companhias que dizem ter compromisso com inovação, cortes nas áreas de gestão da inovação, ou até mesmo lay-offs para readequação de caixa e indicadores que poderiam expor a empresa em um momento de inúmeras incertezas.

Como grande fã dos três horizontes da [McKinsey](https://www.mckinsey.com/business-functions/strategy-and-corporate-finance/our-insights/enduring-ideas-the-three-horizons-of-growth), percebi que sua função em conciliar, em uma linguagem familiar para executivos de alto escalão, a necessidade de ambidestria da empresa e investimentos em frentes díspares, foi de enorme contribuição, porém não suficiente, já que a interpretação pode ser dúbia em alguns momentos. Tanto para este caso, que se apoiou, na prática, muito em relação a prazos de entrega, quanto para conceitos errôneos em torno de disciplinas tão caras como [inovação disruptiva](https://hbr.org/2015/12/what-is-disruptive-innovation) e open innovation, infelizmente, elas se tornaram vítimas de seu próprio sucesso. Apesar da ampla disseminação, os conceitos centrais da teoria são amplamente mal compreendidos e seus princípios básicos frequentemente mal aplicados.

Neste sentido, muitos pesquisadores, escritores e consultores se apoiaram no uso da “inovação disruptiva” para descrever qualquer situação em que uma indústria é abalada, e empresas anteriormente bem sucedidas tropeçam de alguma forma. Porém, essa abordagem é muita ampla e não deve ser força motriz para se deixar de lado o que é realmente importante para a companhia. Enfrentar cenários de incerteza não é tarefa fácil, são muitos trade-offs, mas é ultra importante que as forças continuem atuando sem titubear.

Considerando isso, em seu livro *Three Box Solution*, o professor Vijay Govindarajan, do Dartmouth College, propõe um modelo que não somente endereça a ambidestria, mas coloca a empresa frente a frente com um desafio muito mais espinhoso: abrir mão dos valores e crenças de ontem, que mantêm a organização aprisionada ao passado. Em outras palavras, ao deixar para trás valores e práticas que foram combustível para o negócio corrente, elas provavelmente vão falhar nos novos.

O futuro é a execução imperfeita do desconhecido no presente. Nos negócios, o futuro é sempre questão de vida ou morte. Quem consegue dar o salto entre o aqui e agora e o lá e então… sobrevive. Todos os outros caem, com o tempo – o que, para muita gente, às vezes é muito pouco, no grande cemitério dos CNPJs. Estamos acostumados a associar inovação (a mudança de comportamento de agentes no mercado, como fornecedores e consumidores) com o futuro. Mas a inovação começa a ser feita no presente. Ou, estendendo a linha do tempo, no passado, segundo Govindarajan.

Dessa forma, o modelo consiste em trazer um novo vocabulário para quem já entende que a ambidestria é inerente aos negócios, mas que também ajuda executivos a lidarem – todos os dias – com demandas conflitantes de administrar os requisitos do presente e as possibilidades do futuro em meio à tensão e à urgência de que as pessoas inovem e conduzam o negócio ao mesmo tempo. As três caixas implicam, portanto, nos seguintes procedimentos:
1. Presente: gerenciar o negócio central com máxima eficiência e rentabilidade.
2. Passado: escapar das armadilhas do passado, identificando e abrindo mão de negócios, práticas, ideias e atitudes que perdem relevância conforme o ambiente se transforma.
3. Futuro: gerar ideias inovadoras e convertê-las em novos produtos (conforme a figura a seguir).

![Thumb blog – image-02](//images.ctfassets.net/ucp6tw9r5u7d/65deoNF8kxHN704ZBUY6Kp/746817da538afe9524507dba22230a35/Thumb_blog_-_image-02.png)

Para gerenciá-los, líderes de todos os níveis, em especial CEOs, devem manter-se sempre atentos a cada uma das caixas e ter o comportamento adequado para cada momento. Na caixa 1, a do presente, por exemplo, deve-se se concentrar em definir metas desafiadoras para atingir o máximo de desempenho. Analisar dados para detectar e resolver depressa exceções e ineficiências, assim como criar uma cultura de se fazer tudo de maneira mais inteligente, rápida e econômica passa a ser um diferencial na otimização do negócio atual.

Para líderes que forem designados à caixa 2, a do passado, o foco deve estar em estabelecer um regime formal de oportunismo planejado (detecção e análise de sinais fracos) assim como promover ideias de pensadores divergentes. Punir o obstrucionismo com penalidades exemplares e públicas, além de se antecipar à necessidade de um processo ordenado de experimentação.

Por último, na caixa 3, a do futuro, os líderes precisam estar atentos e mensurar o desempenho não pela evolução da receita, mas pela qualidade e ritmo do aprendizado resultante dos experimentos. Como muitas ideias não lineares são lançadas em mercados embrionários, é importante testar hipóteses não apenas sobre o produto, mas também sobre o modelo de negócio, o mercado em desenvolvimento e a disposição em pagar pelos clientes.

Esses são apenas alguns dos fatores em que líderes, executivos e C-levels deveriam estar colocando em voga em suas reuniões em tempos de crise, mas também naqueles em que a empresa parece estar saudável e navegando por águas tranquilas; a partir de um processo contínuo ao longo do tempo e não como um evento único e divisor de águas – a famosa bala de prata tão mencionada no dialeto da Faria Lima – sendo o senhor de seu próprio futuro. Como diz o professor Gonvidarajan, “o futuro depende do que você faz, e do que não faz, hoje”.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Amy Webb SXSW 2025

O que são sistemas multiagentes, biologia generativa e o inteligência viva, destacados por Amy Webb no SXSW 2025

A palestra de Amy Webb foi um chamado à ação. As tecnologias que moldarão o futuro – sistemas multiagentes, biologia generativa e inteligência viva – estão avançando rapidamente, e precisamos estar atentos para garantir que sejam usadas de forma ética e sustentável. Como Webb destacou, o futuro não é algo que simplesmente acontece; é algo que construímos coletivamente.

Tecnologias exponenciais
Para líderes e empreendedores, a mensagem é clara: invista em amplitude, não apenas em profundidade. Cultive a curiosidade, abrace a interdisciplinaridade e esteja sempre pronto para aprender. O futuro não pertence aos que sabem tudo, mas aos que estão dispostos a aprender tudo.

Rafael Ferrari

5 min de leitura
ESG
A missão incessante de Brené Brown para tirar o melhor da vulnerabilidade e empatia humana continua a ecoar por aqueles que tentam entender seu caminho. Dessa vez, vergonha, culpa e narrativas são pontos cruciais para o entendimento de seu pensamento.

Rafael Ferrari

0 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A palestra de Amy Webb foi um chamado à ação. As tecnologias que moldarão o futuro – sistemas multiagentes, biologia generativa e inteligência viva – estão avançando rapidamente, e precisamos estar atentos para garantir que sejam usadas de forma ética e sustentável. Como Webb destacou, o futuro não é algo que simplesmente acontece; é algo que construímos coletivamente.

Glaucia Guarcello

5 min de leitura
Tecnologias exponenciais
O avanço do AI emocional está revolucionando a interação humano-computador, trazendo desafios éticos e de design para cada vez mais intensificar a relação híbrida que veem se criando cotidianamente.

Glaucia Guarcello

7 min de leitura
Tecnologias exponenciais
No SXSW 2025, Meredith Whittaker alertou sobre o crescente controle de dados por grandes empresas e governos. A criptografia é a única proteção real, mas enfrenta desafios diante da vigilância em massa e da pressão por backdoors. Em um mundo onde IA e agentes digitais ampliam a exposição, entender o que está em jogo nunca foi tão urgente.

Marcel Nobre

5 min de leitura
Tecnologias exponenciais
As redes sociais prometeram revolucionar a forma como nos conectamos, mas, décadas depois, é justo perguntar: elas realmente nos aproximaram ou nos afastaram?

Marcel Nobre

7 min de leitura
ESG
Quanto menos entenderem que DEI não é cota e oportunidades de enriquecer a complexidade das demandas atuais, melhor seu negócio se sustentará nos desenhos de futuros que estão aparencendo.

Rafael Ferrari

0 min de leitura
Inovação
O impacto de seu trabalho vai além da pesquisa fundamental. Oliveira já fundou duas startups de biotecnologia que utilizam a tecnologia de organoides para desenvolvimento de medicamentos, colocando o Brasil no mapa da inovação neurotecnológica global.

Marcel Nobre

5 min de leitura
Empreendedorismo
SXSW 2025 começou sem IA, mas com uma mensagem poderosa: no futuro, a conexão humana será tão essencial quanto a tecnologia

Marcone Siqueira

4 min de leitura
ESG
Precisamos, quando se celebra o Dia Internacional das Mulheres, falar sobre organizações e lideranças feministas

Marcelo Santos

4 min de leitura