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Healing leadership

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A liderança na jornada ESG

Fundos ESG – que levam em conta os aspectos ambiental, social e de governança – são uma realidade no Brasil e no mundo. E foram potencializados pela pandemia

Dario Neto e Marcel Fukayama

16 de Dezembro

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Artigo A liderança na jornada ESG

Durante a pandemia, o mercado de capitais sofreu com a volatilidade e a incerteza geradas pela queda abrupta na produção e no consumo. Em meio a tudo isso, o maior gestor de ativos do mundo, o BlackRock, evidenciou que seus fundos do tipo ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança) estão apresentando melhor performance do que fundos convencionais. Soa música para os ouvidos de quem tem acompanhado o CEO da gestora de investimentos, Larry Fink, e suas cartas ao mercado nos últimos três anos, com uma visão que combina lucro com propósito.

Os investimentos do tipo ESG deram um salto globalmente em 2020. Segundo a Index Industry Association (IIA), até setembro foi registrado um aumento de 40% no número de índices com esse perfil, frente a um aumento de 13,9% no ano anterior. Aliás, segundo a Pesquisa “Realidade Sustentável: 2020 Update”, do Morgan Stanley, que analisou 1,8 mil fundos de investimento e fundos de índice no primeiro semestre de 2020, o retorno médio de fundos de ações com práticas ESG analisados superou em 3,9 pontos percentuais a rentabilidade de outros fundos, reforçando a narrativa capitalista consciente de resiliência das empresas conscientes, em especial em tempos de crise.

Uma pesquisa do HSBC, publicada em outubro, mostrou que 30% dos investidores reconhecem a importância dessa agenda em meio à Covid-19; 41% das empresas emissoras consideram que ser sustentável é importante, e apenas 2% dos emissores e 1% dos investidores dão menos importância às questões ambientais, sociais e de governança devido à pandemia. Uma estimativa da PwC aponta que 60% dos ativos sob gestão serão do tipo ESG até 2025.

Brasil acompanha

O Brasil também segue a tendência mundial. Um estudo da Empresa B GlobeScan, encomendado pelo Instituto Akatu, mostrou que 71% dos brasileiros preferem uma retomada econômica que priorize a redução das desigualdades e a defesa do meio ambiente. Apesar de tantas evidências lastreadas com dados e fatos, a recente demanda quatro vezes superior à oferta de R$ 582 milhões em debêntures para financiamento da usina termelétrica de carvão da Engie em Pampa Sul – coordenada pelo BTG – nos lembra que ainda temos uma longa jornada e que o risco derivado das transições climáticas ainda é ignorado por parte relevante do mercado. Nesse contexto, é fundamental que as lideranças estejam preparadas para alinhar o discurso à prática. A seguir, apresentamos exemplos que nos ajudam a ver, concretamente, como aterrissar a agenda ESG nas organizações:

  • (E) Práticas Ambientais: a Movida, uma Empresa B associada ao Capitalismo Consciente, tornou-se este ano a primeira empresa de soluções urbanas de mobilidade a criar um programa de neutralização de carbono para toda a sua frota. Entre 2020 e 2022 serão plantadas 1 milhão de árvores no corredor de biodiversidade do Araguaia em aliança com a Fundação Black Jaguar, como parte de um projeto único de reflorestamento com 2,6 mil quilômetros de extensão, 1,7 bilhão de árvores por serem plantadas até a sua conclusão e 8% da meta do Brasil no Acordo de Paris. Um passo pioneiro e concreto que precisa ser seguido por mais e mais organizações.
  • (S) Práticas Sociais: incorporar práticas de equidade, diversidade e inclusão são um imperativo nas empresas alinhadas com a agenda ESG. O corajoso passo concreto e legal – seguindo a Lei nº 12.288 – da Magalu para abordar a agenda antirracista por meio do programa trainee exclusivo para pessoas negras, com o objetivo de elevar a proporção de pessoas negras em papéis de liderança (16% atualmente) nos próximos anos, e toda a sua repercussão no mercado é um grande exemplo de combate ao racismo estrutural. Com certeza, isso está em linha também com as estratégias na busca por ser uma empresa melhor, capaz de gerar mais retorno aos seus acionistas, conforme declarado pelo CEO Fred Trajano.
  • (G) Práticas de Governança: uma das práticas mais objetivas no Sistema B é a exigência de todas as Empresas B Certificadas para adoção da linguagem legal no contrato ou estatuto social. Em abril de 2015, a Natura aprovou unanimemente na Assembleia Geral de acionistas a adoção das cláusulas B. Trata-se de uma cláusula no objeto social e outra na administração que vincula a responsabilidade dos administradores com a geração de impacto positivo, bem como a consideração dos stakeholders nas decisões de curto e longo prazos. Pode ser considerado um importante compromisso institucional feito pela empresa e seus líderes em linha com a governança para stakeholders. É importante destacar que não precisa ser Empresa B Certificada para gerar esse compromisso. O modelo das cláusulas está disponível em sistemabbrasil.org.

O alinhamento do discurso com a prática, mais do que nunca, é crítico. Como Robert Armstrong nos alertou em seu artigo no Financial Times em agosto, há evidências de que mais da metade das empresas que firmaram o manifesto da Business Roundtable implementaram nenhuma ou apenas poucas práticas de governança de stakeholders. Poucas coisas fragilizam mais a liderança do século 21 do que a incoerência.

Portanto, essas práticas mostram como, de forma objetiva e concreta, essas empresas estão abordando cada dimensão da tríade ESG. É fundamental, no entanto, sempre pensar o tema de forma integrada. Não cremos que haja uma letra do ESG mais importante que outra. O impacto – seja ambiental, seja social, seja de governança – é simbiótico.

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Autoria

Dario Neto e Marcel Fukayama

Dario Neto é diretor geral do Instituto Capitalismo Consciente Brasil e CEO do Grupo Anga. Também é pai do Miguel e marido da Bruna. Marcel Fukayama é diretor geral do Sistema B Internacional e cofundador da consultoria em negócios de impacto Din4mo.

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