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Adam Grant: Originalidade sem mitos

Reportagem de 2016 revelava quão original é o conceito de criatividade do professor da Wharton School

Adriana Salles

Diretora-editorial na Qura Editora...

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Todos temos histórias de erros homéricos para contar, mas poucas se assemelham à do psicólogo organizacional Adam Grant, da escola de negócios da University of Pennsylvania. Em 2009, ele recusou a proposta de investir na startup de venda online de óculos que um aluno estava desenvolvendo – a startup veio a ser a Warby Parker e, em agosto de 2020, seu valuation chegou a US$ 3 bilhões. Esse episódio teve tanto impacto sobre Grant que o inscreveu, ao mesmo tempo, na lista dos investidores cegos e na dos best-sellers seriais.

Por que o professor não foi capaz de perceber a originalidade do aluno? Como a edição nº 118 de HSM Management relatou, ele foi buscar uma resposta pesquisando sobre como nascem as ideias e o que faz as pessoas investirem nelas. Grant entendeu que uma capacidade específica explica as duas coisas, capaciade essa que batizou com o neologismo “vuja de”, o contrário da expressão francesa “déjà vu”. Se esta define aquela sensação de que algo apresentado como novo não é novo, “vuja de” seria a capacidade de olhar de um jeito novo para algo familiar. Pessoas realmente criativas e que reconhecem a criatividade alheia têm essa capacidade. Então, Grant se aprofundou nos traços comuns a essas pessoas originais e descobriu que são bem diferentes do que se pensa. Publicou o livro *Originais – Como os inconformistas mudam o mundo*, e nós publicamos um artigo sobre a publicação.

## O que Grant disse na revista nº 118, em 2016
“Raramente as pessoas que se destacam pela originalidade tiveram uma infância diferente da média, como mostram estudos recentes”, afirmou Grant para começo de conversa. Na verdade, é o contrário: entre as crianças com capacidades muito fora da curva para a idade, são poucas as que se tornam adultos originais. Segundo achado: raramente as pessoas criativas são destemidas, como reza a lenda. São pessoas “normais” e, quanto mais avançam na originalidade, mais medo sentem. E não passa de mito que a originalidade requer a tomada de riscos extremos. Segundo Grant, as pessoas que movem o mundo – na política, nas artes, na ciência ou nos negócios – o fazem a partir apenas de ideias, e vão tateando, avançando, recuando, até verem essas ideias serem implementadas. Por fim, de acordo com o professor de Wharton, também é raro que as pessoas originais sejam – como a maioria de nós imagina – gente obsessiva e hiperfocada, que acorda muito cedo e dorme muito pouco. Grant garante que grande parte das pessoas criativas costuma ser mais generalista e, pasme, tende a procrastinar. (A lógica é: quando demoramos mais processando uma ideia, descartamos o que vem primeiro à mente para sermos mais originais.)

Se é tão comum ser criativo, por que não há mais criatividade no mundo, em especial no mundo dos negócios? Grant dá essa resposta na reportagem que publicamos, é claro. O que os originais fazem de diferente é administrar um portfólio de atividades, mais ou menos como se recomenda fazer no mercado financeiro. Se decidem correr mais riscos em um projeto profissional “diferentão”, eliminam ao máximo o risco em outro, fazendo com que seja bem convencional.

Um exemplo que Grant oferece é o de Henry Ford, o fundador da montadora Ford Motors. No início do século 20, Ford já tinha desenvolvido o carburador mecânico que seria a base para o desenvolvimento dos seus automóveis, e até já tinha registrado a patente do invento, mas ainda assim ficou mais dois anos no seu emprego na empresa de Thomas Edison.

## O que Grant diz hoje
“Se você não olhar para trás e pensar: ‘Uau, como fui burro um ano atrás’, então você não deve ter aprendido muito no ano passado.” Essa frase, do gestor de fundos hedge Ray Dalio, aparece no novo livro de Grant, sobre o poder de repensar, lançado em fevereiro de 2021 – *Think again: the power of knowing what you don’t know*.

Grant descreve o novo título como “um convite para abandonar o conhecimento e as opiniões que não estão mais servindo a você; um chamado para ancorar seu senso de identidade na flexibilidade e não na consistência”. E, de muitas maneiras, *Think again* é uma continuação perfeita para *Originais*, porque, sem abandonar as velhas ideias, fica muito difícil conseguir abrir espaço para que venham as novas. A citação de Ray Dalio se refere a isso: devemos ser humildes sobre nossas convicções e crenças, curiosos sobre as alternativas e abertos à descoberta e à experimentação. Nas palavras de Grant, devemos pensar mais como cientistas (que são perfis criativos por definição) e menos como padres ou políticos. E devemos estar atentos, porque nossa inteligência pode ser uma maldição: “ser bom em pensar pode nos tornar piores em repensar”.

No livro, influenciado pelo negacionismo geral, Grant sugere criatividade inclusive para as conversas com as pessoas que se recusam a acreditar nos fatos e dados. “Se você quiser convencer um conservador a agir sobre a mudança climática, não desafie sua liberdade pessoal propondo restrições às emissões. Apresente ideias para tecnologias verdes emocionantes e para a criação de empregos”, comenta ele. “Você se concentra na inventividade humana e em nossa capacidade de encontrar soluções para problemas complexos.”

Aparte o novo livro, é um alento reler o artigo sobre Originais cinco anos depois. Não só porque os achados de Grant continuam a ser comprovados empiricamente por um número crescente de pessoas, como também por Grant acreditar que “muitas vezes o pessimismo é mais energizante que o otimismo”.
É quase impossível sermos otimistas hoje, sabemos. Mas felizmente isso não significa que não conseguiremos ser criativos. Sobre isso, Grant cita experimentos da psicóloga alemã Gabriele Oettingen que compararam a criatividade de grupos de pessoas com pensamento positivo e negativo; os pessimistas foram os mais motivados a criar.

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