Uma simples pergunta é capaz de revelar muitas histórias, aprendizados e realidades que muitas vezes parecem distantes da maioria das pessoas no cotidiano. Dessa forma, comecemos com uma questão: aquela história de que um cooperado é igual a um voto é real? Sim, pois as cooperativas são organizações democráticas, controladas pelos seus sócios, que participam ativamente na formulação das suas políticas e na tomada de decisões. As pessoas, eleitas como representantes dos demais membros, são responsáveis perante esses.
Nas cooperativas de primeiro grau, os associados têm igual direito de voto, independentemente da quantidade de cotas que possuam (um sócio, um voto). Significa dizer que a sociedade cooperativa, quanto à sua governança, deve guiar-se pelos princípios próprios da democracia, que pressupõe a atuação responsável de todos os membros. Votar e ser votado, de acordo com as condições estatutárias, constituem direitos e, por consequência, deveres basilares do associado.
Um dos pontos altos de toda essa democracia ocorre durante a assembleia geral ordinária (AGO). Essa assembleia é realizada, no máximo, em até quatro meses após o encerramento do exercício. O encontro tem como finalidade tomar as contas dos administradores, examinar, discutir e votar as demonstrações financeiras. Essa assembleia ainda tem a finalidade de deliberar sobre a destinação das sobras do exercício e, se for o caso, eleger o conselho de administração e membros do conselho fiscal.
No encontro, pode ocorrer, inclusive, a convocação e realização cumulativa de assembleia geral ordinária e extraordinária (AGO/E), desde que convocadas simultaneamente e realizadas no mesmo local, data e hora, além de instrumentalizadas em ata única. Como já colocado anteriormente, em ambas, todos os acionistas podem participar e têm o direito ao voto.
Nas cooperativas maiores, os cooperados são divididos de forma regionalizada e passam a ser representados por delegados, eleitos pelo voto dos próprios associados. Nesse caso, essas cooperativas promovem além das assembleias gerais, também as pré-assembleias, reuniões de cooperados que antecedem a Assembleia Geral Ordinária de uma cooperativa. As pré-assembleias são mecanismos formais de governança cooperativa, visto que um de seus principais objetivos é garantir transparência e prestação de contas ao cooperado, dono da cooperativa, sobre as condições econômico-financeira e social da organização.
Um dos itens mais esperados durante a assembleia, e para alguns o ápice dela, é a deliberação sobre a destinação das sobras. Com a consolidação das cooperativas, amadurecimento dos sistemas, profissionalização das administrações e fiscalizações muito bem executadas pelos órgãos responsáveis, cada vez mais as cooperativas têm tido a satisfação de levar para apreciação dos seus sócios as sobras advindas de uma boa gestão.
Nesse tipo de deliberação, normalmente se tem um direcionamento sugerido pelo conselho de administração, porém a última palavra acontece mesmo quando os sócios ou seus representantes votam, após é claro, do momento aberto para de discussão, para críticas ou sugestões.
## Olhar atento aos deveres
Não posso deixar de citar que estamos falando de uma sociedade privada, onde os sócios possuem não só direitos, mas também deveres, e isso se aplica no caso de uma situação de resultado negativo. Quando isso ocorre, o trâmite assemblear é o mesmo, só que ao invés de se discutir como serão distribuídas as sobras, se faz necessário deliberar sobre como deverá ocorrer o saneamento da instituição.
Para se ter uma ideia de como o [cooperativismo de crédito](https://www.mitsloanreview.com.br/podcasts/marco-almada-cooperativismo-solucoes-criativas-digitais-gestao-de-risco-na-crise) vem se desenvolvendo fortemente, e se consolidando cada vez mais, em 2020, os dois maiores sistemas, Sicredi e Sicoob, alcançaram, juntos, um resultado da ordem de R$ 6,4 bilhões, e grande parte desse valor retornou diretamente aos seus associados. Isso reforça a máxima que estamos trabalhando com muito empenho, onde afirmamos que você pode ser realmente dono de uma instituição financeira e participar ativamente de seu dia a dia.
Em uma publicação recente, o CEO do Sicoob, Marco Aurélio Almada, nos apresentou um dado muito importante obtido através de um estudo realizado pelo Sicoob. Ele mostrou que os cooperados deixaram de gastar R$ 8,3 bilhões em juros, taxas e tarifas somente ao fazer negócios com a sua própria instituição financeira cooperativa.
Segundo Almada, isso ocorre principalmente porque nós não visamos lucro. Portanto, já praticamos os melhores preços. Além desse valor economizado, ainda foram distribuídos mais R$ 3,2 bilhões em sobras. Fazendo uma divisão desses valores pela média de cooperados ativos, chegamos a mais de R$ 3 mil economizados por cooperado durante o ano de 2020.
Já abordamos em artigos anteriores temas como a [evolução tecnológica das cooperativas](https://www.revistahsm.com.br/post/cooperativismo-high-tech), a inovação de produtos e serviços, a proximidade dos cooperados com cada vez [mais pontos de atendimentos](https://www.revistahsm.com.br/post/minha-agencia-bancaria-fechou-e-agora) e é claro, o interesse pela comunidade com ações sociais, inclusão financeira, disponibilidade de linhas de crédito, entre outros fatores, fomentando, assim, o famoso círculo virtuoso onde os recursos giram na economia local, promovendo uma aceleração no desenvolvimento econômico.
Agora mostramos, além de tudo isso, que realmente o sócio participa efetivamente da sociedade e seus resultados. Em um momento em que se fala tanto de propósito, humanização das relações num mundo virtual, distribuição de renda, alta tecnologia, enfim, deixo aqui um questionamento. Por que você ainda não veio para o cooperativismo de crédito?
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