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Coprodução HSM Management + Softys

6 min de leitura

E se o Brasil parasse de perder os 40% da água potável que trata?

Não fossem os vazamentos, um enorme volume de água poderia chegar à população sem a necessidade de construir novas estações de tratamento. Soluções inovadoras, como o projeto Softys Contigo, visam ajudar a solucionar o problema da água no Brasil

André Schröder

07 de Julho

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Artigo E se o Brasil parasse de perder os 40% da água potável que trata?

Um novo relatório divulgado em junho pelo Instituto Trata Brasil mostra que 40% da água tratada no país é perdida antes de chegar às torneiras. Segundo a organização, o volume desperdiçado anualmente poderia abastecer 66 milhões de habitantes — quase o dobro dos 35 milhões de brasileiros que ainda não têm acesso à água potável. Para cumprir a meta do Novo Marco Legal do Saneamento, de garantir o recurso para 99% da população até 2033, o Brasil precisa diminuir as perdas – baixando para 25% da água tratada. O objetivo é considerado realista, mas carece de uma série de aperfeiçoamentos no sistema de distribuição.

A maior causa de desperdício são os vazamentos. A rede precisa de pressão para que a água alcance as moradias, em especial nos lugares mais altos. Porém, essa pressão tensiona a tubulação debaixo da terra, gerando fissuras e rompimentos. A questão é que os derramamentos só costumam ser notados quando a água aflora na superfície, muitas vezes após vários dias de escape. A triste realidade do sistema é que reparos costumam ser feitos apenas depois que grandes quantidades de água tratada já foram perdidas.

De acordo com Luana Siewert Pretto, presidente-executiva do Instituto Trata Brasil, a solução do problema começa com uma setorização adequada da cidade, com redes de distribuição mais bem planejadas para cada área. O primeiro benefício dessa ação é preventivo, pois evita pressão excessiva na tubulação em regiões menores ou planas.

Há ainda vantagens corretivas porque a divisão torna mais eficaz a identificação dos vazamentos com ajuda de sensores de vazão e outros dispositivos capazes de achar o trecho danificado. “Essa falta de setorização das redes das cidades é um entrave para a implantação de soluções tecnológicas existentes para melhorar o sistema”, afirma Pretto.

As ações para reduzir a perda de água potável no país concorrem com investimentos para a ampliação da coleta de esgoto e a construção de novas estações de tratamento. O objetivo do estudo do Trata Brasil é fornecer dados em busca de um maior equilíbrio entre esses três esforços. “Quando falamos na redução de perdas é sobre um volume de água que poderia chegar à população sem precisar construir uma nova estação de tratamento. É possível abastecer um número maior de pessoas com o recurso que estava sendo perdido”, explica a presidente-executiva do Trata Brasil. “De qualquer forma, o Brasil precisa ampliar os investimentos na área para melhorar a situação”, ressalva.

Na trilha das soluções

Atenta a essas questões, a iniciativa privada tem investido em projetos para minimizar os problemas de água e saneamento. Um exemplo é a Softys que no final de abril anunciou investimento de 6 milhões de dólares para garantir o acesso à água potável e saneamento a famílias de áreas populares na América Latina. Nos próximos cinco anos, com a ajuda da Organização Não Governamental Teto, a companhia de produtos de higiene e cuidados pessoais quer construir 2 mil soluções de água e saneamento para favorecer cerca de 30 mil pessoas. Entre as estruturas estão unidades sanitárias, recursos de água potável, sistema de captação de água da chuva para consumo humano e pias comunitárias.

Como parte do projeto Softys Contigo, no ano passado a empresa implementou 15 sistemas de captação de água da chuva no bairro de Calcárea (em Caieiras, São Paulo) em parceria com a Teto e a Isla Urbana, startup mexicana que desenvolve projetos de captação de água da chuva, beneficiando 52 moradores diretamente, mas com impacto indireto para mais de 200 pessoas. Apesar de estar presente em oito países, a companhia optou pelo Brasil para lançar o projeto devido ao potencial de crescimento do mercado local. Já a escolha por Caieiras está de acordo com a política da Softys de cuidar das comunidades onde ela está inserida já que a companhia tem uma fábrica na cidade.

Além do Brasil, a iniciativa ajudará comunidades e assentamentos no Chile, México, Peru, Colômbia, Argentina, Equador e Uruguai. “Somente através do acesso seguro e oportuno à água e ao saneamento podemos contribuir para melhorar as condições de higiene em nossas comunidades, cumprindo com o nosso propósito de fornecer os melhores cuidados que as pessoas precisam em seu dia a dia”, afirma Gonzalo Darraidou, gerente-geral corporativo da Softys.

De olho no futuro

A Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) estima que 12% da água doce do planeta está no Brasil. Apesar de abundante, a riqueza não é bem distribuída. A faixa costeira abriga mais de 45% da população e apenas 3% dos recursos, o que já provoca episódios de estresse hídrico. O cenário vai ficar mais delicado diante do aumento da demanda previsto para os próximos anos, com retirada de água 42% maior em 2040. Há ainda preocupações com os efeitos das mudanças climáticas, que podem alterar o regime de chuvas, criando dificuldades para regiões até agora imunes aos problemas de abastecimento.

Diante dessas perspectivas inquietantes é imprescindível reduzir o desperdício de água potável no país. Para Jefferson Nascimento de Oliveira, professor de hidrologia e gestão ambiental da Universidade Estadual Paulista (Unesp), novas tecnologias podem ajudar na redução dos desperdícios. Mas é ainda mais fundamental ter parcimônia no uso da água, pois em grande parte do país o recurso é limitado.

“Precisamos parar com essa história de por sermos o maior detentor de água do mundo acharmos que as fontes são inesgotáveis. É hora de uma mudança de paradigma, de conceito. O Brasil precisa ter uma política de Estado para a água para estimular o uso consciente e investir em iniciativas de reutilização”, defende o especialista.

À procura de um benchmark, o Brasil poderia aprender com Israel – onde mais da metade do território é desértico. O país localizado no Oriente Médio sempre contou com a água do Jordão, mas o rio está secando, com volume cada vez menor. Para não deixar mais de 9 milhões de habitantes na seca, Israel adotou uma série de medidas para garantir o fornecimento hídrico e tornou-se o maior exemplo mundial quando o assunto é usar a água com sabedoria para evitar desperdícios. Antes de mais nada, esse esforço exigiu uma mudança cultural.

Os israelenses foram educados para economizar água, aceitando o fato de que esse recurso fundamental é escasso na região. Além disso, gastar mais que o necessário pode doer no bolso, pois a água lá é cara. O aumento dos preços incentivou a instalação de torneiras com arejadores para reduzir a vazão, além da adoção de outras medidas para conter o consumo. Lá o reaproveitamento agora é política nacional. O país reutiliza três quartos de seus rejeitos na agricultura — o esgoto da cidade é tratado para irrigar plantações no deserto. O sistema de irrigação é por gotejamento, que usa menos de 5% da água dos métodos de aspersão aplicados na maior parte do mundo. Por fim, Israel investiu em soluções tecnológicas em busca de segurança hídrica, abrindo espaço para empresas desenvolverem inovações que já são exportadas para outros países.Entre os avanços estão sensores e outros instrumentos para detectar vazamentos e reduzir perdas.

“Desafios de água e saneamento no Brasil” será tema do Deep Dive by HSM Management, transmitido pelo canal do YouTube da HSM Management no dia 14 de julho, a partir das 10h. O evento contará com a participação dos executivos da Softys, do Trata Brasil, da Aegea, do Grupo Águas do Brasil e da ONG TETO. Inscreva-se aqui.

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Autoria

André Schröder

André Schröder é colaborador da HSM Management