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Tecnologia e inovação

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Efeito startup na pandemia

O que as grandes empresas, diante das incertezas provocadas pela crise atual, podem aprender com as startups? Vejo três lições principais.

Fernando Vilela

21 de Julho

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Artigo Efeito startup na pandemia

Vivemos um momento em que tudo o que tínhamos de planejamento - comitês, processos e estratégia organizacional - teve de ser revisto da noite para o dia. Quer ver só um exemplo? Imagine-se no lugar do Brian Chesky, CEO e co-fundador do Airbnb, que liderava um business disruptivo, construído em doze anos que, do nada, precisou ser inteiramente revisado - modelos, planos, organogramas, finanças, tudo. Escutando uma entrevista de Chesky e conversando com amigos dos mais diversos setores e empresas, cheguei à conclusão que grandes companhias hoje estão vivenciando, em partes, o dia a dia de uma startup. E vejo que há três grandes aprendizados proporcionados por este novo contexto.

1. Planejamento: flexibilidade para ajustes rápidos de rota

O primeiro deles é a ausência de uma claridade translúcida sobre um plano de cinco anos. Muitas empresas desenham planos de um, três ou cinco anos e, com base neles, definem como a organização caminhará. Com a chegada de uma pandemia com efeitos ainda não conhecidos e uma potencial depressão econômica à frente, todos esses planos se esvaziam e se tornam praticamente inúteis.

No dia a dia de uma startup, é bastante comum a ausência de planos de longo prazo. Como uma empresa que não sabe se estará viva daqui um mês pode se dar ao luxo de gastar semanas e semanas em alinhamentos para montar um plano para os próximos cinco anos?

Diferente de grandes empresas, que têm planos com slides infinitos, startups usam modelos simples com direcionais claros. Agora, com a pandemia, grandes corporações passaram a viver o dia a dia de planejamento de uma startup, ou seja, mutável o tempo todo e, por isso, necessariamente flexível e rápido para ser revisitado quantas vezes forem necessárias.

2. Recursos: criatividade para superar escassez

Uma startup, principalmente no early stage, convive com muitas restrições, que vão desde limitações orçamentárias - tanto para contratação de pessoas quanto de ferramentas -, como da quantidade de iniciativas a serem tocadas ao mesmo tempo. Com recursos escassos, a arte de priorizar passa a ser mais do que fundamental - dela depende a sobrevivência da empresa.

Conforme um negócio vai crescendo, as restrições vão diminuindo, tudo passa a ter um orçamento, a lista de prioridade se torna lista de atividades e, com isso, perdemos a sensibilidade e a criatividade que se obtêm quando se vive com pouco.

Muitas organizações viram sua entrada de caixa despencar e, com isso, foram obrigadas a inovar, e se adaptar, sem dinheiro, sem poder contratar nenhuma consultoria ou especialista. Elas estão conhecendo, na prática, como funciona a vida de um startup, um ambiente onde a criatividade é exacerbada diante de tantas restrições impostas.

3. Modelo mental: resiliência para superar obstáculos

O terceiro e último ponto é a resiliência. Nunca vou me esquecer da frase que ouvi de um dos fundadores da Rappi: “Startup é 99% do tempo frustração”. Exageros à parte, a frase ilustra bem o dia a dia de uma startup, onde a busca por inovação e por servir o usuário seguem lado a lado de uma extensa lista de questões para serem tratadas. Daí a frustração constante e, ao mesmo tempo, a necessidade de uma capacidade de resiliência gigante.

Estamos vivendo um momento em que muitas vezes tudo parece dar errado; um momento que muitas grandes empresas já nem lembravam mais como era. São momentos como esse que nos amadurecem, que nos preparam para qualquer tipo de crise e dão a resiliência para seguir tentando alcançar aquele sonho, independentemente de qualquer obstáculo que venha à frente.

Dessa forma, acredito que na conjuntura atual muitas empresas acabaram conhecendo um pouco sobre o dia a dia de uma startup: operar com planos altamente flexíveis que podem ser revisitados a qualquer momento; conviver com uma série de restrições e usar a criatividade para superá-las; e ter a resiliência para enfrentar os mais variados obstáculos e fracassos que vão surgindo ao longo da jornada. E, por mais difícil que possa parecer neste momento, tenho certeza de que sairemos todos profissionais melhores do outro lado.

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Autoria

Fernando Vilela

Diretor de estratégia e performance da Rappi no Brasil. Formado em Economia no Insper, passou pelo mercado financeiro em Private Equity, depois foi trainee e seguiu na área de Revenue Management na Ambev. Entrou focado em expansão na Rappi, respondendo pelo crescimento e marketing da startup no Brasil, e hoje responde pela estratégia da empresa.

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