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O planejamento estratégico desempenha um papel crucial nos contextos organizacionais, exercendo um impacto significativo na transformação dos negócios. A prática "Estuarine Mapping", desenvolvida por Dave Snowden, professor e consultor galês, emerge como uma abordagem capaz de viabilizar uma estratégia eficaz, principalmente diante de contextos complexos.
A ausência de planejamento estratégico tem sido apontada como uma das principais causas do declínio de muitos negócios. Contrapondo-se a isso, a prática exagerada e projetizada com fluxo unidirecional, como os planejamentos estratégicos anuais ou de cinco anos, é percebida muitas vezes como um exercício abstrato desconectado da realidade, que quando operacionalizado leva a um esgotamento desnecessário.
A prática "Estuarine Mapping", a mais recente contribuição de Dave Snowden, sugere que a dinâmica dos negócios em contextos complexos se assemelha mais a um estuário do que a um rio. É como se isso implicasse em múltiplos fluxos ocorrendo em diferentes direções simultaneamente, com uma dependência energética fortemente influenciada pelo contexto, como no caso da maré.
Snowden destaca a importância de focalizar na identificação dos múltiplos fluxos do contexto e compreender a disposição dos elementos que impactam a estratégia para que, em ambientes mais complexos, uma estratégia eficaz possa surgir diante da incerteza inerente aos negócios. Além disso, busca-se assegurar que as pessoas envolvidas no planejamento também sejam capazes de identificar essas disposições, promovendo um entendimento mais profundo e integrado sobre a estratégia em si.
A busca por estratégias organizacionais mais inovadoras e eficazes está intimamente entrelaçada com os desafios e tendências no atual cenário de negócios. Por isso, é preciso estar atento às transformações tecnológicas, políticas e econômicas, com um olhar global e local, uma vez que esses elementos se mostram cruciais para a perenidade das organizações. Tais mudanças demandam uma adaptação contínua através de experimentação qualificada, requerendo uma busca constante por inovação e flexibilidade.
Os problemas nas práticas convencionais
Dentro das práticas tradicionais de planejamento estratégico, um dos principais problemas reside na organização sequencial do fluxo de eventos, como Snowden cita o exemplo do rio. Essa abordagem limita a capacidade de descobrir oportunidades não óbvias, antecipar problemas e direcionar eficientemente o trajeto do negócio.
No Brasil, dados do IBGE indicam que somente 40,7% das empresas conseguem se manter no mercado após cinco anos de sua abertura, destacando a falta de um plano estratégico como uma das causas.
Estuarine Mapping como "Pré-Estratégia"
Ao adotar o Estuarine Mapping como uma prática dentro de uma empresa ou na área de negócios, rompemos com a abordagem convencional do planejamento estratégico, focando na criação de um senso de direção contínuo em vez de objetivos finais e muitas vezes abstratos.
Este processo, é considerado uma "pré-estratégia", pois o aprendizado decorrente molda significativamente a estratégia ao longo do planejamento.
Diferentemente das práticas convencionais, o Estuarine Mapping busca entender o tempo e a energia necessários para cada elemento a ser mudado ou transformado, evitando priorizar ações que consumiriam recursos excessivos.
O objetivo é reduzir o custo de intervenção, direcionando esforços de forma eficiente para alcançar uma estratégia bem-sucedida.
Principais benefícios do Estuarine Mapping:
● Ter senso realista de direção: Compreender nossa posição atual e, a partir desse ponto, desenvolver um senso de direção revela-se mais eficaz do que estabelecer objetivos abstratos ou elaborar desenhos ambiciosos pouco alinhados com a realidade.
● Realizar microprojetos: Em vez de empreender a elaboração de um extenso projeto estratégico, optar por realizar múltiplos microprojetos que experimentem de maneira segura as intervenções necessárias e desejadas pode ser uma alternativa promissora.
● Reduzir o custo de intervenção: Diminuir o custo de intervenção, influenciando tanto a energia quanto o tempo, nas mudanças ou transformações necessárias para a concretização da estratégia, torna-se essencial.
● Decompor situações: Aplicar a decomposição de situações possibilita a abordagem estratégica em um nível de granularidade que fuja dos objetivos abstratos.
● Identificar problemas com clareza: Obter uma visão mais nítida e reconhecer aquilo que está além de nossa capacidade de alteração, ao mesmo tempo em que identificamos e monitoramos elementos sobre os quais não exercemos controle na mudança, revela-se fundamental.
Atualmente, o Estuarine Mapping ganha popularidade em empresas propensas à complexidade e agilidade. Espera-se que, em 2024, essa prática se torne uma estrutura central para empresas em busca de dinamismo e eficiência em seus planejamentos estratégicos. No Brasil, ainda é considerado um trabalho de vanguarda, adotado principalmente por empresas desiludidas com os desgastes de planejamentos estratégicos anteriores.
Nas empresas em que implementei o Estuarine Mapping, percebi ao longo do processo a sensação de que grande parte deste tipo de trabalho estratégico mais antigo se torna dispensável. É uma percepção que sugere que este tipo de abordagem pode representar um passo inicial para que as organizações compreendam que estratégia e transformação devem ser contínuas, escapando da rigidez de calendários preestabelecidos.
Ao encarar a complexidade frente-a-frente, sem tentar simplificá-la, o Estuarine Mapping não apenas proporciona clareza e eficiência, mas, acima de tudo, instiga uma compreensão mais profunda de que as estratégias e transformações devem ser moldadas pela dinâmica real e em constante evolução dos negócios.
Alexandre Magno é CEO da The Cynefin Co Brazil. Nos últimos anos, ocupou a posição de liderança no Escritório de Transformação do Itaú.
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