Os últimos meses têm sido árduos para as ações das mais valiosas empresas chinesas com capital aberto. Em grande parte, em decorrência da guerra comercial deflagrada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que, entre outras medidas, restringiu a exportação de tecnologia norte-americana para a Huawei, gigante chinesa das telecomunicações.
Investidores temem que os efeitos negativos das disputas entre China e Estados Unidos atinjam outras empresas chinesas de tecnologia – por exemplo, tornando mais difícil o acesso a componentes e softwares de última geração. Apesar disso, de acordo com reportagem recente da revista The Economist, o cenário é mais de incertezas do que de ameaças significativas.
Sinais positivos chegam com o aumento de receita. No segundo trimestre de 2019, as gigantes Alibaba, Tencent e JD.com registraram resultados acima do previsto por analistas de mercado.
A própria Huawei mostra que as retaliações norte-americanas não são capazes de derrubar as estrelas da tecnologia chinesa. Muitos de seus funcionários se sentem motivados pelas disputas com os norte-americanos, a partir da percepção de que as medidas de Trump comprovam as proezas chinesas e representam uma oportunidade de aumentar a independência tecnológica do país.
Ainda assim, lembra a reportagem, as empresas chinesas de tecnologia não são invulneráveis. A Tencent tem enfrentado concorrência inesperada de startups do país e a Alibaba ainda depende demais do e-commerce, que responde por 85% de sua receita.
Ao mesmo tempo, é importante observar que o setor de tecnologia é mais sensível às turbulências geopolíticas do que outros mercados e que a guerra comercial entre Estados Unidos e China não deve se encerrar em breve. E falta pouco para terminar o prazo concedido à Huawei para adquirir componentes de empresas norte-americanas, sem perspectiva de que seja estendido.
Por fim, as potenciais ameaças às atuais gigantes tecnológicas da China podem vir de dentro, não do exterior. Por exemplo, pela concorrência das startups e pela redução do ritmo de crescimento da economia. Também pode decorrer das respostas que o país der à guerra comercial. Se a escolha for voltar-se exclusivamente ao mercado interno, as empresas poderão cair na armadilha de se afastar do mundo globalizado e das ideias que circulam fora das fronteiras chinesas.