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Maternidade e carreira são opostos? Lideranças femininas discutem os desafios do mercado de trabalho

Líderes relatam como o mercado corporativo pode ser um fator decisivo na escolha de exercer ou não a maternidade e como as empresas podem ser aliadas neste cenário

Nayara Campos

14 de Maio

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Artigo Maternidade e carreira são opostos? Lideranças femininas discutem os desafios do mercado de trabalho

Perder o emprego após a licença-maternidade é um medo que impacta 35% das mulheres no Brasil, de acordo com estudo feito pelo Empregos.com.br. Apesar do avanço do debate sobre equidade de gênero nas empresas e dos direitos previstos na CLT, a maternidade ainda é um ponto sensível para quem tem o desejo de ser mãe, mas que não pode ou não pretende abrir mão da carreira.

Esbarrando em aspectos culturais e estruturais, a postura do mundo corporativo diante da maternidade intensifica a insegurança das mulheres sobre como conduzir a carreira após a chegada dos filhos e, até mesmo, na decisão sobre ser ou não mãe.

Uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas constatou este impacto em números: as saídas das mulheres do trabalho se iniciam imediatamente após a licença-maternidade (quatro meses). Depois de 24 meses do retorno da licença, quase metade delas está fora do mercado de trabalho e a maioria das saídas se dá sem justa causa e por parte do empregador.

“No meu primeiro dia de retorno, fui desligada”

Mãe de dois filhos e Diretora de Marketing da GT7, Unidade de Negócios do Grupo TODOS Internacional, da qual o Cartão de TODOS faz parte, Mariana Rangel avalia que a maternidade teve grande impacto em sua carreira, principalmente no retorno ao trabalho. “Na primeira gravidez, fiz um acordo e negociei a saída da empresa.

Já na segunda, no meu primeiro dia de retorno, fui desligada. Se soubesse da decisão da empresa com alguma antecedência, poderia ter me preparado de outra forma e não teria sido tão traumático como foi, pois já havia organizado todo o esquema de apoio, deixei de amamentar para estar pronta para o retorno, em vão”, ressalta.

Para Gisele Morais, Coordenadora de Call Center da GT7, a decisão de ser mãe trouxe um receio antes e depois da chegada dos filhos, em relação ao futuro de sua carreira. “A maternidade traz responsabilidades física, afetiva e intelectual e não é toda empresa que acolhe de forma receptiva essas questões, muitas vezes, isso é colocado, de forma velada, como se fosse um problema”, afirma.

Sem rede de apoio após a licença-maternidade, ela conta que precisou se desdobrar para equilibrar o trabalho e o maternar. “Tive de recorrer a profissionais para cuidar das crianças, então, durante o trabalho, eu precisava fazer algumas pausas para ligar e ver como estava a adaptação.Tive muita sorte, pois meus gestores sempre me apoiaram”.

Quem ainda não é mãe, mas tem o desejo de ter filhos também passa pela pressão da maternidade versus carreira, como é o caso de Nathalia Queiroz, Gerente de Projetos da GT7, que conta que já teve medo do impacto no trabalho e cogitou não ser mãe.

“Sempre priorizei a minha carreira e hoje consigo ver que é possível ter equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. Há aquele medo de sair de licença-maternidade e, na volta, ser demitida, vi isso acontecer com colegas de trabalho. Porém, entendo que hoje muitas empresas têm mudado seu posicionamento, inclusive promovendo suas colaboradoras grávidas. Acredito que o que vale mesmo é se sentir completa e feliz, entre suas realizações pessoais e profissionais”, enfatiza.

Para Pauline Lopes, também Gerente de Projetos da GT7, a escolha por priorizar a carreira não foi o motivo principal para não se tornar mãe, mas o impacto na vida profissional era um receio. “Nunca decidi que não seria mãe, apenas não encontrei o meu momento certo para planejar um filho e essa vontade passou. Acredito que, inconscientemente, acabei priorizando minha vida profissional por acreditar que a maternidade poderia me deixar vulnerável dentro da empresa em que trabalhava e, consequentemente, ser desligada por causa disso”, comenta.

Ser mãe não significa se tornar uma profissional menos capacitada

Parte do senso comum a ideia de que a maternidade faz as mulheres darem menos importância para a vida profissional. Este argumento traz à tona um pensamento de que é da mulher a maior responsabilidade pelos filhos e que não fica somente no âmbito cultural, visto que, no Brasil, a licença-paternidade concede apenas cinco dias para que o pai participe e divida as demandas com mãe no puerpério e no máximo 20, no caso das empresas que aderem ao programa Empresa Cidadã.

“Sempre fui muito dedicada e isto não mudou com a maternidade. Às vezes, sentia que o dia precisava ter 48 horas para fazer tudo que gostaria, mas como isto não era uma alternativa, me tornei mais resiliente e comecei a aceitar melhor que nem tudo está sob nosso comando e temos que lidar da melhor maneira possível com inúmeras situações que fogem do nosso controle.

Também comecei a planejar mais minha rotina de modo a priorizar o que é mais importante”, diz Mariana. Para Gisele, a maternidade serviu como um motivo a mais para ser destaque no trabalho. “Eu criei uma meta: se era boa antes, agora preciso ser duas vezes melhor. Quero que meus filhos olhem e digam ‘quando crescer quero ser um profissional igual a minha mãe”.

O que as empresas podem fazer para mudar este cenário?

Além do apoio do parceiro, Nathália conta que para sentir-se segura para engravidar a postura da empresa é decisiva. “O acolhimento da empresa conta bastante, afinal, dedicamos grande parte do nosso tempo ao trabalho. Nenhuma mulher deveria se sentir menos capaz, ou ser tachada dessa forma por ser mãe, todas nós temos o direito de realizar nossos sonhos e sermos respeitadas por isso”.

Para conquistar um ambiente corporativo diverso, com equidade de gênero, as empresas precisam fazer mais do que apenas conceder os quatro meses de licença-maternidade — que, na verdade, são direitos protegidos por lei e não uma boa ação das organizações.

Pensar em medidas práticas, como as que seguem abaixo, é necessário para que maternidade e carreira não sejam mais vistas como áreas opostas da vida:

  1. A licença-maternidade de 120 dias não tem sido capaz de reter as mães no mercado de trabalho. Outras políticas apontadas pelo estudo da FGV, como expansão de creches e pré-escolas, podem ser mais eficazes para atingir o objetivo.

2. Incentivar a participação na vida escolar do filho: muitas mães terceirizam essa responsabilidade por falta de apoio da empresa.

3. Flexibilidade de horários nas rotinas com a saúde: “já presenciei casos em que a mãe, por receio de ser demitida, espera o dia de folga para levar o filho ao médico, mesmo em necessidade extrema”, conta Gisele.

4. Transparência em relação aos planos: mesmo antes da volta da licença-maternidade, deixar claro as intenções de mudanças e promoções podem criar um ambiente mais seguro.

5. Locais para colher leite: na volta da licença, um local seguro e com privacidade para que as funcionárias possam extrair e estocar adequadamente o leite é um cuidado genuíno para recebê-las bem. De acordo com o Ministério da Saúde, apenas 271 empresas tinham salas de amamentação para que as funcionárias pudessem fazer a coleta e armazenamento do leite em 2023.

6. Feedbacks de apoio:_ muitas vezes o simples fato de ouvir fará essa profissional sentir-se segura e engajada para exercer seu trabalho.

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Autoria

Nayara Campos

Jornalista e Assessora de Imprensa da GT7

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