Saúde Mental

Saúde mental no trabalho: otimizando o ROI do seu maior ativo

Se as doenças mentais custam tanto aos bolsos das empresas, por que a implementação de programas de saúde psicológica e bem-estar ainda é lenta?
Sócio da Redpoint eventures, Co-Fundador do Buscapé, Stanford GSB, Poli-USP.

Compartilhar:

É inegável que a saúde mental no ambiente de trabalho será trending topic em 2020. Ansiedade, burnout e depressão viraram capa de revista (HSM Management saiu na frente, com a capa de julho/2019), e não é por acaso. Somos o país mais ansioso do mundo e o quinto mais depressivo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Além disso, só ficamos atrás do Japão quando o indicador é o estresse.

![](https://revista-hsm-public.s3.amazonaws.com/uploads/b5d7c175-5c7f-4798-ac27-bc5a278a6499.png)

_Imagem 1 – Fonte: Isma-BR_

Os problemas relacionados à saúde psicológica já constituem a segunda maior causa de incapacidade no Brasil, sendo que, em alguns setores e atividades, eles já assumiram o primeiro lugar em 2019. No entanto, por mais que diversos veículos estejam noticiando e cumprindo seu papel de conscientizar a população, os índices de adoecimento mental não param de piorar.

No universo corporativo, o adoecimento emocional afeta diretamente a lucratividade das organizações. Esses índices se configuram em prejuízo e aumento de custos, literalmente.

Um estudo realizado pela London School of Economics and Political Science aponta que a depressão custa às empresas brasileiras mais de R$ 300 bilhões em perda de produtividade. Estamos falando de bilhões de reais jogados no lixo por não tratar adequadamente um problema sério.

 ![](https://revista-hsm-public.s3.amazonaws.com/uploads/c972b7db-9404-4847-a7c1-90b7fc4e9347.png)

_Imagem 2 – Fontes: 1- Evans-Lacko, S & Kanpp, M. Soc Psychiatry Psychiatr Epidemiol (2016); 2- Brazilian Budget – preliminary report_

É sabido que o ativo mais precioso de qualquer empresa é o seu colaborador. Este, quando adoecido, impacta diretamente no resultado financeiro da organização, reduzindo a sua lucratividade. É isso mesmo que você quis dizer Romero? Sim, exatamente isso.

Já estive na posição de CEO durante anos, e sou adepto da psicoterapia desde 2007, quando estava à frente do Buscapé. Como investidor, acompanho a trajetória de várias startups e empreendedores. Com base na minha experiência pessoal, posso afirmar que um ambiente emocionalmente saudável é mais produtivo e lucrativo. E as pesquisas estão aí para comprovar.

Convido você, leitor, a refletir comigo. Quando um líder ou funcionário de bom desempenho se afasta, ou mesmo pede desligamento da organização, por questões emocionais, o que acontece? A empresa precisa abrir um novo processo seletivo e arcar com custos da consultoria que fará o hunting (em geral 25% do salário anual para a posição). Além disso, precisa investir em treinamento e aguardar entre 9 e 12 meses para que aquele novo integrante consiga passar pelo ramp up e comece a entregar resultados de forma consistente. Quanto custo financeiro, emocional e de clima organizacional é envolvido neste movimento?

E não é só isso: não cuidar da saúde emocional tem efeito direto em outros indicadores como faltas, afastamentos e aumento do sinistro de saúde, em especial com custos em pronto atendimento, onde as despesas médicas são grandes ofensoras dos convênios médicos.

Imagine a seguinte situação: um colaborador com crise de ansiedade começa a sentir fisicamente sinais de taquicardia. Ele corre para o pronto socorro, pois acha que está à beira de um infarto, e, quando ele chega no PS, a hipótese do médico plantonista é exatamente essa: infarto. O protocolo faz com que diversos exames sejam realizados de modo a salvar aquela vida. Após ser revirado do avesso, o trabalhador descobre que não tem nenhum problema físico e que, provavelmente, aqueles sinais eram ansiedade. Sua empregadora, porém, fica com a fatura de todos os exames e consultas feitas no cenário mais oneroso para seu contrato.

Contudo, se as doenças mentais estão custando tanto aos bolsos das empresas, por que a implementação de programas de saúde psicológica e bem-estar ainda é lenta?

Uma pesquisa realizada pela Mercer Marsh em 2019 apontou que cerca de 50% das empresas alegam falta de budget para tratar o problema. Por outro lado, OMS e KPMG já publicaram estudos comprovando um retorno sobre o investimento superior a 4 vezes para ações preventivas de saúde mental. Se estamos falando de investimento, e não de custo, talvez esteja na hora de CEOs e CFOs colocarem a temática em pauta nas suas reuniões estratégicas.

É de suma importância que líderes empresariais compreendam que a intervenção em saúde psicológica requer o desenvolvimento de programas abrangentes. Estamos falando de prevenção, diagnóstico precoce, estruturação de programas eficientes de qualidade de vida e bem-estar, bem como uma cobertura mais competitiva de benefícios corporativos. É preciso olhar para a saúde de forma integral, englobando desde a disponibilização de psicólogos até incentivos à prática de atividade física e alimentação saudável.

Para driblar a falta de psicólogos em cerca de 50% dos municípios brasileiros, a tecnologia chega para ajudar. Soluções que contemplam streaming de vídeo e teleconsultas ampliam o acesso para pessoas que estão em cidades menores, bem como aquelas que desejam evitar o trânsito caótico dos grandes centros.

Startups como a Vittude têm auxiliado empresas como SAP, Resultados Digitais, RSI e 99 a cuidarem mais ativamente da saúde mental dos colaboradores. Além disso, empresas como Teladoc, Headspace e Calm seguem crescendo apoiados em telemedicina e aplicativos para funcionários. Apostar em saídas acessíveis e escaláveis pode ser o caminho, senão a solução.

Entendo ser responsabilidade do empregador criar políticas internas e estabelecer uma cultura de saúde psicológica e bem-estar, bem como práticas de diversidade e inclusão consistentes. É necessário oferecer recursos para que cada colaborador, individualmente, consiga ter acesso ao tratamento psicológico adequado, de forma preventiva, e não somente um canal de emergência, no qual ele só ligue nos casos em que a situação já está extremamente crítica.

A conscientização da alta gestão e dos principais líderes das organizações também é de suma importância, além de ações de comunicação robustas, para que a totalidade dos colaboradores tenham ciência dos benefícios disponibilizados e sejam educados a buscar ajuda.

A grande maioria das empresas ainda tem, como principal motivador para a gestão de saúde psicológica, o cumprimento única e exclusivamente das leis trabalhistas, demonstrando baixo interesse em investir na prevenção e no tratamento adequado das doenças mentais.

Infelizmente, as organizações ainda não respondem à saúde mental com a mesma paridade que o fazem em relação à saúde física, mesmo havendo evidências claras da eficácia e elevado retorno sobre o investimento.

No entanto, tenho certeza de que esse fato pode e deve ser mudado. Saúde mental dá lucro e está na hora de virar prioridade na pauta dos CEOs brasileiros.

* Disclosure: Vittude.com.br é uma empresa investida pela Redpoint eventures

Compartilhar:

Artigos relacionados

Mercado de RevOps desponta e se destaca com crescimento acima da média 

O Revenue Operations (RevOps) está em franca expansão global, com estimativa de que 75% das empresas o adotarão até 2025. No Brasil, empresas líderes, como a 8D Hubify, já ultrapassaram as expectativas, mais que dobrando o faturamento e triplicando o lucro ao integrar marketing, vendas e sucesso do cliente. A Inteligência Artificial é peça-chave nessa transformação, automatizando interações para maior personalização e eficiência.

Uso de PDI tem sido negligenciado nas companhias

Apesar de ser uma ferramenta essencial para o desenvolvimento de colaboradores, o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) vem sendo negligenciado por empresas no Brasil. Pesquisa da Mereo mostra que apenas 60% das companhias avaliadas possuem PDIs cadastrados, com queda no engajamento de 2022 para 2023.

Regulamentação da IA: Como empresas podem conciliar responsabilidades éticas e inovação? 

A inteligência artificial (IA) está revolucionando o mundo dos negócios, mas seu avanço rápido exige uma discussão sobre regulamentação. Enquanto a Europa avança com regras para garantir benefícios éticos, os EUA priorizam a liberdade econômica. No Brasil, startups e empresas se mobilizam para aproveitar as vantagens competitivas da IA, mas aguardam um marco legal claro.

Governança estratégica: a gestão de riscos psicossociais integrada à performance corporativa

A gestão de riscos psicossociais ganha espaço nos conselhos, impulsionada por perdas estimadas em US$ 3 trilhões ao ano. No Brasil, a atualização da NR1 exige que empresas avaliem e gerenciem sistematicamente esses riscos. Essa mudança reflete o reconhecimento de que funcionários saudáveis são mais produtivos, com estudos mostrando retornos de até R$ 4 para cada R$ 1 investido

Finanças
O Revenue Operations (RevOps) está em franca expansão global, com estimativa de que 75% das empresas o adotarão até 2025. No Brasil, empresas líderes, como a 8D Hubify, já ultrapassaram as expectativas, mais que dobrando o faturamento e triplicando o lucro ao integrar marketing, vendas e sucesso do cliente. A Inteligência Artificial é peça-chave nessa transformação, automatizando interações para maior personalização e eficiência.

Fábio Duran

3 min de leitura
Empreendedorismo
Trazer os homens para a discussão, investir em ações mais intencionais e implementar a licença-paternidade estendida obrigatória são boas possibilidades.

Renata Baccarat

4 min de leitura
Uncategorized
Apesar de ser uma ferramenta essencial para o desenvolvimento de colaboradores, o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) vem sendo negligenciado por empresas no Brasil. Pesquisa da Mereo mostra que apenas 60% das companhias avaliadas possuem PDIs cadastrados, com queda no engajamento de 2022 para 2023.

Ivan Cruz

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A inteligência artificial (IA) está revolucionando o mundo dos negócios, mas seu avanço rápido exige uma discussão sobre regulamentação. Enquanto a Europa avança com regras para garantir benefícios éticos, os EUA priorizam a liberdade econômica. No Brasil, startups e empresas se mobilizam para aproveitar as vantagens competitivas da IA, mas aguardam um marco legal claro.

Edmee Moreira

4 min de leitura
ESG
A gestão de riscos psicossociais ganha espaço nos conselhos, impulsionada por perdas estimadas em US$ 3 trilhões ao ano. No Brasil, a atualização da NR1 exige que empresas avaliem e gerenciem sistematicamente esses riscos. Essa mudança reflete o reconhecimento de que funcionários saudáveis são mais produtivos, com estudos mostrando retornos de até R$ 4 para cada R$ 1 investido

Ana Carolina Peuker

4 min de leitura
Gestão de Pessoas
Conheça o conceito de Inteligência Cultural e compreenda os três pilares que vão te ajudar a trazer clareza e compreensão para sua comunicação interpessoal (e talvez internacional)

Angelina Bejgrowicz

4 min de leitura
Liderança
Entenda como construir um ambiente organizacional que prioriza segurança psicológica, engajamento e o desenvolvimento genuíno das equipes.

Athila Machado

6 min de leitura
Empreendedorismo
Após a pandemia, a Geração Z que ingressa no mercado de trabalho aderiu ao movimento do "quiet quitting", realizando apenas o mínimo necessário em seus empregos por falta de satisfação. Pesquisa da Mckinsey mostra que 25% da Geração Z se sentiram mais ansiosos no trabalho, quase o dobro das gerações anteriores. Ambientes tóxicos, falta de reconhecimento e não se sentirem valorizados são alguns dos principais motivos.

Samir Iásbeck

4 min de leitura
Empreendedorismo
Otimizar processos para gerar empregos de melhor qualidade e remuneração, desenvolver produtos e serviços acessíveis para a população de baixa renda e investir em tecnologias disruptivas que possibilitem a criação de novos modelos de negócios inclusivos são peças-chave nessa remontagem da sociedade no mundo

Hilton Menezes

4 min de leitura
Finanças
Em um mercado cada vez mais competitivo, a inovação se destaca como fator crucial para o crescimento empresarial. Porém, transformar ideias inovadoras em realidade requer compreender as principais fontes de fomento disponíveis no Brasil, como BNDES, FINEP e Embrapii, além de adotar uma abordagem estratégica na elaboração de projetos robustos.

Eline Casalosa

4 min de leitura