Estratégia e Execução

Quando a comunidade vira startup

Compartilhar:

O que começou como um blog de conteúdo sobre moda acabou virando a Enjoei.com, marketplace que hoje reúne mais de 4 milhões de itens vendidos diretamente do consumidor enjoado para o “queredor” mais decidido. Após alguns aportes de investidores, a plataforma agora tem o grupo Globo como sócio, o que está levando a empresa a um novo patamar de credibilidade e abrindo suas portas para negócios B2B. À frente dessa comunidade de loucos por marcas está o casal Tiê Lima e Ana Luiza McLaren, que construíram suas carreiras no comércio eletrônico. McLaren, que acaba de dar à luz o segundo bebê, conversou conosco.

**5 – Qual o impacto da entrada do Grupo Globo como sócio da empresa?**

Agora estamos entendendo o impacto da mídia tradicional sobre a marca. Nas ações online, o resultado vem na mesma hora. Quando contratamos um influencer ou um youtuber, na hora que eles postam o tráfego aumenta. É imediato, totalmente mensurável. Quando os comerciais começaram a ser veiculados na Globo e nos canais por assinatura do grupo, o aumento do tráfego foi leve. Mas com o tempo começamos a sentir outro tipo de sensibilidade à marca. Parece que a televisão tangibiliza: quando o cliente ouve falar, não é mais de uma marca na internet, é a vida real. O exemplo mais incrível é minha própria irmã. Ela conheceu o blog quando abrimos, em 2009. Soube quando virou empresa, em 2012. E só se tornou cliente agora. Outro dia ela me disse: “Agora que posso devolver se eu não gostar, vou usar”. Mas sempre pôde! Só que agora ela viu na TV.

**4 -** **Vocês começaram com um investidor-anjo e agora têm uma grande empresa de mídia como sócios. Como foi a trajetória de investimentos da empresa?**

É até engraçado hoje pensar nesse termo, investidor-anjo. Quando a gente abriu a empresa, não sabíamos o que era isso. O primeiro investidor foi um cara que achou a ideia legal e deu uma grana, sabe? Foi o primeiro impulso, o reconhecimento de que tínhamos mesmo um negócio. Depois vieram fundos de venture capital e isso foi muito bacana, porque esses fundos têm pessoas muito preparadas, muito inteligentes, que estão lidando com várias empresas parecidas, que sofrem a mesma dor. Então surge um ecossistema e você se sente menos só, percebe que não é o único maluco acreditando na ideia. 

**3 – Em 2016, vocês abriram uma filial na Argentina. Como foi essa experiência de internacionalização?**

Foi uma tentativa que durou oito meses. Montamos todo o negócio, a equipe, estava tudo funcionando. Mas fechamos rapidamente quando percebemos que precisaríamos de muito fôlego para conseguir alavancar. A primeira questão foi o uso das redes sociais. O brasileiro usa muito as redes sociais, o acesso à internet na rua é muito maior. Na Argentina é totalmente diferente. Além disso, o câmbio estava extremamente desfavorável. A taxa de retorno então era muito pequena. Fizemos como se recomenda, experimentamos, percebemos o erro e corrigimos logo a rota, mas não posso dizer que é fácil. Estava tudo montado, com clientes gostando… Mas cada coisa tem seu tempo, e foi a melhor decisão possível.

**2 – Para onde os negócios estão caminhando agora?**

Estamos entrando numa fase de negócios B2B, grandes marcas estão nos procurando para fazer parcerias. Como as peças que vendemos são todas selecionadas e muitas são de marcas conhecidas e desejadas, uma das formas de buscar no site é pela marca. E isso está chamando a atenção delas. Já temos, por exemplo, uma parceria com a Farm. A cliente leva as peças que ela quer vender para uma loja e volta com créditos para comprar novas peças. Aí a própria Farm vende no Enjoei e fica com o dinheiro da venda. Faz parte do trabalho da marca e é apenas um modelo. São as próprias marcas que vêm nos procurar e isso os fez ver que realmente estamos transformando o mercado. Não criamos apenas uma plataforma de venda, um marketplace – e eu também não fazia ideia do que isso significava quando abri o blog, nunca pensei que estava criando uma startup de tecnologia de moda. Mas estamos mudando a forma de consumo. 

Eu nunca tive uma cultura de brechó, a ideia nunca foi criar um brechó online. Quando o blog surgiu, era um site de conteúdo, com textos legais sobre moda, sobre roupas. O que criamos foi uma comunidade de pessoas que vendem coisas que adoram e que por algum motivo não usam mais, mas não têm coragem de dar. Então elas vendem para alguém que vê o mesmo significado na peça e que vai usar. E com isso as pessoas aderem ao reúso, mas a partir de uma experiência legal, sem que a gente precise dar uma lição de moral. 

**1 – E como tem sido a experiência de empreender paralelamente à experiência da maternidade?**

Agora estou com a bebê de 4 meses, ainda só amamentando, e o menino, que tem quase 4 anos. Essa experiência acaba sendo um espelho para o que a gente faz na empresa. Desde o início sempre oferecemos seis meses de licença-maternidade para nossas funcionárias, com uma reintegração parcial depois desse período. Agora estamos testando outras formas. Atualmente, por três semanas, na volta da licença, ela vem um dia sim, outro não. Depois, permanece em horário reduzido até o bebê completar um ano. Estamos tentando fazer algo que funcione para a mãe.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Calendário

Não, o ano ainda não acabou!

Em meio à letargia de fim de ano, um chamado à consciência: os últimos dias de 2024 são uma oportunidade valiosa de ressignificar trajetórias e construir propósito.

Gestão de Pessoas
Conheça o conceito de Inteligência Cultural e compreenda os três pilares que vão te ajudar a trazer clareza e compreensão para sua comunicação interpessoal (e talvez internacional)

Angelina Bejgrowicz

4 min de leitura
Liderança
Entenda como construir um ambiente organizacional que prioriza segurança psicológica, engajamento e o desenvolvimento genuíno das equipes.

Athila Machado

6 min de leitura
Empreendedorismo
Após a pandemia, a Geração Z que ingressa no mercado de trabalho aderiu ao movimento do "quiet quitting", realizando apenas o mínimo necessário em seus empregos por falta de satisfação. Pesquisa da Mckinsey mostra que 25% da Geração Z se sentiram mais ansiosos no trabalho, quase o dobro das gerações anteriores. Ambientes tóxicos, falta de reconhecimento e não se sentirem valorizados são alguns dos principais motivos.

Samir Iásbeck

4 min de leitura
Empreendedorismo
Otimizar processos para gerar empregos de melhor qualidade e remuneração, desenvolver produtos e serviços acessíveis para a população de baixa renda e investir em tecnologias disruptivas que possibilitem a criação de novos modelos de negócios inclusivos são peças-chave nessa remontagem da sociedade no mundo

Hilton Menezes

4 min de leitura
Finanças
Em um mercado cada vez mais competitivo, a inovação se destaca como fator crucial para o crescimento empresarial. Porém, transformar ideias inovadoras em realidade requer compreender as principais fontes de fomento disponíveis no Brasil, como BNDES, FINEP e Embrapii, além de adotar uma abordagem estratégica na elaboração de projetos robustos.

Eline Casalosa

4 min de leitura
Empreendedorismo
A importância de uma cultura organizacional forte para atingir uma transformação de visão e valores reais dentro de uma empresa

Renata Baccarat

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Em meio aos mitos sobre IA no RH, empresas que proíbem seu uso enfrentam um paradoxo: funcionários já utilizam ferramentas como ChatGPT por conta própria. Casos práticos mostram que, quando bem implementada, a tecnologia revoluciona desde o onboarding até a gestão de performance.

Harold Schultz

3 min de leitura
Gestão de Pessoas
Diferente da avaliação anual tradicional, o modelo de feedback contínuo permite um fluxo constante de comunicação entre líderes e colaboradores, fortalecendo o aprendizado, o alinhamento de metas e a resposta rápida a mudanças.

Maria Augusta Orofino

3 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A Inteligência Artificial, impulsionada pelo uso massivo e acessível, avança exponencialmente, destacando-se como uma ferramenta inclusiva e transformadora para o futuro da gestão de pessoas e dos negócios

Marcelo Nóbrega

4 min de leitura
Liderança
Ao promover autonomia e resultados, líderes se fortalecem, reduzindo estresse e superando o paternalismo para desenvolver equipes mais alinhadas, realizadas e eficazes.

Rubens Pimentel

3 min de leitura