> Vale a leitura porque…
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> … a história da empresa Biofase é inspiradora: começou como experimento universitário no México e é responsável pela produção de bioplásticos, ou plásticos biodegradáveis, com o caroço do abacate. … o exemplo mostra como uma empresa lucrativa pode surgir de questionamentos socioambientais: o fundador da Biofase se incomodava com o tempo que o plástico leva para se decompor e com o impacto disso sobre o meio ambiente.
De sacolas de supermercado a sofisticadas peças de computador, móveis e até mesmo carros, o plástico é hoje um dos materiais mais utilizados pela sociedade. Segundo dados do Plastics Europe Market Research Group, a produção mundial de plásticos está na casa dos 300 milhões de toneladas e cerca de 30% dos itens fabricados com esse material são usados apenas uma vez.
A indústria e os governos de todo o mundo têm feito esforços para reduzir o consumo de plásticos, porque eles são muito nocivos ao meio ambiente. De acordo com o tipo, eles podem demorar de cem a mil anos para se decompor. Consciente do impacto direto do plástico sobre a sustentabilidade do planeta, Scott Munguía passou a buscar uma alternativa. Durante o curso de engenharia química no Instituto Tecnológico de Monterrey, México, chegou a suas mãos o artigo de uma publicação científica em que se debatia o uso do milho para a produção de bioplásticos.
O texto mostrava que 80% desses materiais são fabricados com grãos de milho. Após a leitura, Munguía ficou se perguntando se era conveniente destinar os plantios de milho para esse fim, uma vez que diversas regiões do mundo enfrentam um grave problema de escassez de alimentos. Começou a nascer aí seu empreendimento. Em 2011, embora ainda permanecesse na universidade, Munguía se dedicou a estudar algumas sementes que poderiam se tornar alternativa ao polímero do milho.
Sua pesquisa deu frutos, literalmente: o abacate, um dos alimentos mais populares do México e parte de sua cultura. Além disso, o país é o maior produtor de abacate do mundo e registra um consumo anual per capita de 6,8 quilos, segundo dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). Um ano depois de sua descoberta, Munguía fundou a Biofase, empresa que desenvolveu uma tecnologia única e amplamente reconhecida internacionalmente para fabricar bioplásticos com o caroço do abacate, que, como se sabe, é a semente dessa fruta.
> **Os números**
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> 20 mil pesos mexicanos foi o investimento que deu origem à Biofase.
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> 17 milhões de pesos mexicanos custou a nova fábrica, com início de operações no final do ano passado.
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> 700% foi o crescimento registrado pela Biofase entre 2013 e 2014.
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> 100 a 1.000 anos é o tempo que o plástico tradicional demora para se decompor.
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> US$ 4 bilhões é o valor do mercado mundial de bioplásticos.
> **UM CONSELHO**
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> Scott Munguía garante que sempre recomenda aos empreendedores que subcontratem seus processos antes de investir em plantas piloto ou adquirir infraestrutura própria. Para ele, com essa estratégia, é possível fazer economias significativas e assumir menos riscos. “Na Biofase, a primeira coisa que fizemos foi patentear nossa tecnologia. Somente quando tivemos um produto bem definido e estabelecido encaramos o desafio da capitalização. Desse modo, não nos vimos obrigados a ceder uma grande quantidade de ações para desenvolver o produto”, explica
**PRODUÇÃO ABUNDANTE**
No México, as empresas agroindustriais que produzem azeite, guacamole e molho salsa descartam mensalmente 30,7 mil toneladas de caroços de abacate. Essa é, precisamente, a matéria-prima que a Biofase compra para abastecer sua linha de produção. Munguía estima que são desperdiçadas cerca de 300 mil toneladas de caroços de abacate e que a utilização desse volume para fabricação de bioplásticos poderia atender a aproximadamente 30% da demanda mundial desse produto.
De acordo com dados da Associação Europeia de Bioplásticos, o mercado global de bioplásticos possui um valor de US$ 4 bilhões e, diferentemente do que acontece com o setor de plásticos tradicionais, cujo ritmo de crescimento é cada vez menor, nos últimos anos vem experimentando uma ampliação de dois ou três dígitos. Prova disso é a própria Biofase: entre 2013 e 2014, a empresa cresceu 700%.
**MODELO DE NEGÓCIO**
Resultado de uma incubadora que funcionava na universidade onde Munguía estudou, o modelo de negócio da Biofase se baseava, inicialmente, na venda de resina a fabricantes, para que estes a transformassem no produto final: pratos, garrafas, sacolas e outros artigos. Dessa maneira, a empresa conseguiu estabelecer alianças com companhias como Biodeck e Packgreen.
Além disso, começou a exportar resina para a Guatemala, por meio do Logicomer, distribuidor com sede naquele país que também comercializa o produto em toda a América Central. Esse modelo, no entanto, evoluiu. Em junho de 2014, Munguía e seu irmão, Jason, transformaram o negócio ao ingressar na fabricação de talheres biodegradáveis, à qual passaram a destinar 10% da capacidade produtiva.
Essa linha de produtos já é comercializada em supermercados de vários estados mexicanos e está presente nos restaurantes do Instituto Tecnológico de Monterrey e na cadeia de hotéis Fiesta Americana. Atualmente, a empresa conta com três unidades de negócio: Resinas. Uma família de resinas que podem ser processadas por todos os métodos convencionais de modelagem de plásticos e que substituem as aplicações de polipropileno, poliestireno e polietileno.
Segundo Munguía, são ideais para empresas transformadoras de plástico que se propõem desenvolver novos negócios voltados para a sustentabilidade ambiental. Talheres biodegradáveis. Linha de produtos originais da Biofase, elaborados com tecnologia patenteada. Por serem biodegradáveis, não causam danos aos ecossistemas. Produtos e projetos especializados.
Unidade concebida como a maneira mais fácil e inovadora de ingressar na indústria de bioplásticos. A Biofase projeta e fabrica peças ou objetos de acordo com as necessidades de seus clientes. Também integra todo o modelo produtivo para transformar qualquer ideia em produto biodegradável de alto valor agregado.
**RECONHECIMENTO**
Em menos de quatro anos de existência, a Biofase já conquistou fama tanto em seu país de origem como internacionalmente. “Começamos co mo uma startup mexicana e hoje somos considerados uma das cinco empresas de bioplásticos mais inovadoras em todo o mundo”, afirma Munguía, orgulhoso.
Seu trabalho e o da empresa que comanda também vêm recebendo diversos reconhecimentos, no México, na Espanha e nos Estados Unidos. Destacam-se o prêmio para inovadores com menos de 35 anos da MIT Technology Review, o de inovação tecnológica do Cleantech Challenge, o Santander de inovação empresarial e o de estudan te empreendedor, organizado pela Entrepreneur Organization e pela Bolsa Mexicana de Valores.
**DE OLHO NO FUTURO**
Com sua tecnologia já patenteada nos Estados Unidos e no México, a Biofase tem condições atualmente de produzir 50 toneladas de bioplásticos todos os meses. A meta da empresa, porém, é mais ambiciosa: acaba de ser colocada em operação sua primeira fábrica própria, em Morelia, capital do estado de Michoacán, com capacidade instalada de 700 quilos por hora. Alcançando esse patamar, a Biofase será a maior empresa do tipo na América Latina e já planeja atacar o mercado norte-americano com força. Também está em seu radar o mercado europeu.
> Você aplica quando…
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> … monta um negócio para resolver um problema complexo atual. … busca aproveitar o que sua região tem de excedentes de matéria-prima, a ponto de haver descarte, como o abacate no México. … tem elevadas aspirações para o futuro de seu negócio, em vez de só focar o curto prazo; a Biofase, por exemplo, pensa grande e longe.