Cultura organizacional

Quem cultiva mentes colhe responsabilidades – e resultados

Não dá para falar em cultura organizacional sem aceitar que ela deve ser centrada nas pessoas e jamais ser imutável
Daniela Cais é consultora corporativa de comunicação interpessoal, mentora e palestrante.

Compartilhar:

Nos eventos corporativos, ouço expressões como “Isso faz parte da cultura da empresa” ou “Queremos comunicar a cultura da empresa” ou outro clichê sobre cultura organizacional. Mas de que cultura estamos falando?

“Cultura” é um termo plural, com origem no latim, cuja raiz etimológica é “terra”. Significa a longevidade entre os atos de plantar, monitorar e colher – ações recorrentes e sustentáveis. Nesse sentido, a analogia com o desenvolvimento de hábitos e capacidades de identificação (social, intelectual, organizacional) como um “cultivo de mentes” é coerente.

Alguns autores definem cultura como o resultado de padrões compartilhados de comportamentos e interações, construções cognitivas, aprimoradas pelo relacionamento interpessoal. Eu concordo, mas prefiro a simplicidade sugerida por Daniel Moreira, que a sintetiza como um conjunto de comportamentos baseados em valores e crenças convergentes em grupos sociais.

Mas há alguns impasses. O primeiro deles, muitas vezes ignorado pelas empresas, é o entendimento de que a cultura acompanha o tempo.

Por mais tradicional que se queira, ela não é imóvel. A cultura precisa ser uma esteira flexível e sintonizada, senão cairá em desuso, ficará obsoleta e perderá o sentido. A resistência às mudanças (em nome da cultura da empresa) vem do equívoco de que cultura é uma entidade que, a fim de ser preservada, precisa ser imutável.

Não, pelo contrário. Cultura requer movimentos que geram responsabilidades.
Quando falamos em cultura, estamos nos referindo a pessoas. Portanto, precisamos voltar nossas atenções para os comportamentos e as interações.

## Mudanças de comportamentos
A pandemia chacoalhou as organizações porque afetou o comportamento das pessoas. A mudança de hábitos e de ares nos provocou a rever a estrutura dos relacionamentos profissionais e, consequentemente, das alterações que se instalaram.

Isso interferiu na cultura das empresas? Evidentemente. Porém, é importante afirmar que as mudanças precisam ser digeridas, experimentadas e validadas para que passem a ser parte da cultura, pois há uma lógica estabelecida pela visão (direcionamento) que norteia a organização. Não há nada aleatório na cultura.

Mais que isso, entre crenças e valores (componentes da cultura), a parte vulnerável são as crenças. É sobre os pensamentos e a forma de pensar que a empresa deverá se dedicar a compreender para reorganizar sua comunicação e validar a cultura.

Já leu “Mindset”, da Carol Dweck? A autora coloca brilhantemente como podemos remodelar nossa forma de pensar e agir, sinalizando a urgência da desconstrução dos pensamentos engessados.

Vencida a resistência inicial, nós nos deparamos com o segundo obstáculo, que é construir, continuamente, a cultura organizacional a partir das pessoas. Não se pode esperar que resultados sejam alcançados se nós mirarmos apenas no produto final e nos esquecermos de trabalhar as potencialidades, os recursos, o capital humano.

Para que não restem dúvidas, os relacionamentos interpessoais são a parte mais nobre da cultura de uma empresa. São eles que a sustentam e a honram.

Por isso me encanto com a simplicidade da simbologia da ação de cultivar mentes como propósito da cultura organizacional. As responsabilidades afloradas e compartilhadas são os melhores sinais de solidez da organização, tanto para os números quanto para a história.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Organização

A difícil arte de premiar sem capitular

Desde Alfred Nobel, o ato de reconhecer os feitos dos seres humanos não é uma tarefa trivial, mas quando bem-feita costuma resultar em ganho reputacional para que premia e para quem é premiado

Gestão de Pessoas
O aprendizado está mudando, e a forma de reconhecer habilidades também! Micro-credenciais, certificados e badges digitais ajudam a validar competências de forma flexível e alinhada às demandas do mercado. Mas qual a diferença entre eles e como podem impulsionar carreiras e instituições de ensino?

Carolina Ferrés

9 min de leitura
Inovação
O papel do design nem sempre recebe o mérito necessário. Há ainda quem pense que se trata de uma área do conhecimento que é complexa em termos estéticos, mas esse pensamento acaba perdendo a riqueza de detalhes que é compreender as capacidades cognoscíveis que nós possuímos.

Rafael Ferrari

8 min de leitura
Inovação
Depois de quatro dias de evento, Rafael Ferrari, colunista e correspondente nos trouxe suas reflexões sobre o evento. O que esperar dos próximos dias?

Rafael Ferrari

12 min de leitura
ESG
Este artigo convida os profissionais a reimaginarem a fofoca — não como um tabu, mas como uma estratégia de comunicação refinada que reflete a necessidade humana fundamental de se conectar, compreender e navegar em paisagens sociais complexas.

Rafael Ferrari

7 min de leitura
ESG
Prever o futuro vai além de dados: pesquisa revela que 42% dos brasileiros veem a diversidade de pensamento como chave para antecipar tendências, enquanto 57% comprovam que equipes plurais são mais produtivas. No SXSW 2025, Rohit Bhargava mostrou que o verdadeiro diferencial competitivo está em combinar tecnologia com o que é 'unicamente humano'.

Dilma Campos

7 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Para líderes e empreendedores, a mensagem é clara: invista em amplitude, não apenas em profundidade. Cultive a curiosidade, abrace a interdisciplinaridade e esteja sempre pronto para aprender. O futuro não pertence aos que sabem tudo, mas aos que estão dispostos a aprender tudo.

Rafael Ferrari e Marcel Nobre

5 min de leitura
ESG
A missão incessante de Brené Brown para tirar o melhor da vulnerabilidade e empatia humana continua a ecoar por aqueles que tentam entender seu caminho. Dessa vez, vergonha, culpa e narrativas são pontos cruciais para o entendimento de seu pensamento.

Rafael Ferrari

0 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A palestra de Amy Webb foi um chamado à ação. As tecnologias que moldarão o futuro – sistemas multiagentes, biologia generativa e inteligência viva – estão avançando rapidamente, e precisamos estar atentos para garantir que sejam usadas de forma ética e sustentável. Como Webb destacou, o futuro não é algo que simplesmente acontece; é algo que construímos coletivamente.

Glaucia Guarcello

5 min de leitura
Tecnologias exponenciais
O avanço do AI emocional está revolucionando a interação humano-computador, trazendo desafios éticos e de design para cada vez mais intensificar a relação híbrida que veem se criando cotidianamente.

Glaucia Guarcello

7 min de leitura
Tecnologias exponenciais
No SXSW 2025, Meredith Whittaker alertou sobre o crescente controle de dados por grandes empresas e governos. A criptografia é a única proteção real, mas enfrenta desafios diante da vigilância em massa e da pressão por backdoors. Em um mundo onde IA e agentes digitais ampliam a exposição, entender o que está em jogo nunca foi tão urgente.

Marcel Nobre

5 min de leitura