A ideia de pós-moderno começou a surgir nos anos 1960 com o avanço das tecnologias digitais e dos meios de comunicação e com o início da globalização. Olhando para a sociologia e a filosofia, percebemos sua diferença em relação ao moderno: havia uma espécie de utopia moral unificadora do mundo, com valores bem sedimentados, e a pós-modernidade veio pregar o pluralismo. Essa mudança foi bem traduzida pelas artes plásticas, por exemplo, que deixaram de ter a beleza e a exclusividade como valores consensuais – basta pensar na pop art do designer Andy Warhol, que reproduzia objetos do cotidiano. Ao lado do pluralismo, começou a ganhar força o conceito de não julgamento, que levou ao fim das hierarquias e à horizontalização da sociedade – considera-se que todas as vidas têm o mesmo valor, todas as sociedades são igualmente boas/ruins. É o pressuposto que permite que, no futebol de hoje, por exemplo, uma seleção como a da Coreia do Sul consiga derrubar a Alemanha em uma Copa do Mundo. Consumir passa a ser mais importante do que produzir. Não à toa, na arte, o espectador faz intervenções na obra, como cocriador. (Só na arte?) E a experimentação entra na rotina do artista. (Só do artista?) O sociólogo Zygmunt Bauman se dedicou a explicar os novos tempos, mas trocou a expressão pós-modernidade por “modernidade líquida”: estes tempos são, como a água, caracterizados por instabilidade e volatilidade – não acidentalmente, duas das quatro letras da sigla VUCA, familiar às empresas. E, segundo Bauman, a “revolução pós-moderna” aconteceu quando a confissão pública de assuntos privados tornou-se praxe. É… invisibilidade equivale a morte na era da informação – e da “espetacularização”.
Antes de escrever o editorial, fiz essa breve pesquisa sobre a pós-modernidade na tentativa de entender por que um fenômeno detectado desde os anos 1960 demorou tanto para chegar às empresas. Na verdade, Peter Drucker o mencionou em 1957 e os pesquisadores do management começaram a enxergá-lo nos anos 1990. Mas, para muitos de nós, talvez continue a ser visto como uma extravagância de elite intelectual excêntrica. Estaria tudo bem se não estivéssemos sentindo a pós- -modernidade na pele ao gerenciar nossas empresas: horizontalização, experimentação, fim da privacidade (ou surgimento da transparência, como preferir), consumidores que escolhem e cocriam, individualismo, conexões (mais fáceis de desfazer que relações), não julgamento etc. Como sentimos tudo isso, apropriar-se do pós-moderno ficou urgente– razão pela qual esse é o tema do Dossiê e da nossa capa. Nas próximas páginas, explicamos o que é o pós-moderno enfim. Trazemos, por exemplo, uma didática entrevista com o psicanalista Jorge Forbes, talvez o maior especialista brasileiro em pós-modernidade, responsável por uma premiada série de TV sobre o assunto. Também oferecemos caminhos a quem quer migrar com sucesso para o novo mundo, caminhos esses que passam por liderança pós-moderna, diversidade e fluidez na comunicação – esses são recursos que, de algum modo, parecem nos dar mais “controle” sobre as incertezas e, assim, mais poder. Como pós-leitura [risos], a seção Inovação e crescimento é particularmente recomendável – da entrevista com o italiano Roberto Verganti sobre inovação de significado ao artigo acerca do perigo da tecnologia híbrida, indo até a fonte de inspiração romana. Também sugiro o texto sobre reputação digital, o Report setorial dos horizontes do varejo e todo o resto. Leia tudo e não se arrependerá!