ESG
3 min de leitura

Quem pode mais: o que as eleições têm a nos dizer? 

Exercer a democracia cada vez mais se trata também de se impor na limitação de ideias que não façam sentido para um estado democrático por direito. Precisamos ser mais críticos e tomar cuidado com aquilo que buscamos para nos representar.

Compartilhar:

O recente apoio de Taylor Swift à vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, é mais um exemplo do crescente poder de influência das celebridades na política contemporânea. Em apenas 24 horas após a postagem da cantora em suas redes sociais, que incluía um link para o site de registro de eleitores (vote.gov), mais de 400.000 pessoas visitaram a plataforma. Esse dado impressionante não só ilustra a popularidade de Swift, como também o potencial de artistas em mobilizar a sociedade para além de questões culturais e de entretenimento, influenciando decisões políticas e moldando o cenário eleitoral.

A influência de celebridades em questões políticas não é um fenômeno novo, mas as redes sociais deram uma nova dimensão a esse poder. Artistas como Swift possuem uma conexão direta com milhões de seguidores, o que lhes permite engajar pessoas de maneira rápida e efetiva. Isso vai além de meras campanhas: essas figuras são capazes de criar movimentos. No entanto, esse fenômeno também levanta questões. Para além do engajamento positivo, estamos diante de um cenário cada vez mais polarizado, em que a influência pode gerar tanto união quanto divisão.

No Brasil, o caso do influenciador Pablo Marçal oferece um exemplo claro de como a presença de figuras populares na política pode gerar embates conflituosos. Sua candidatura traz à tona debates intensos que, em vez de promover o diálogo construtivo, resultam em confrontos de ideias e discursos polarizados. O episódio da cadeirada, quando houve um desentendimento entre Marçal e o apresentador José Luiz Datena, é um reflexo deste cenário. 

E não parou por aí: Marçal também protagonizou mais um caso de agressão e expulsão, com direito a xingamentos, palavrões e apelidos pejorativos. Desta vez, no podcast Flow, durante o debate dos candidatos à prefeitura de São Paulo. E o que tudo isso me evidenciou? Opiniões divergentes têm levado a confrontos diretos, em que o volume da fala parece valer mais do que a profundidade do discurso.

As redes sociais intensificam esses embates, transformando discussões que poderiam ser saudáveis em campos de batalha ideológicos. Muitas vezes, o objetivo não é mais entender ou refletir sobre as ideias opostas, mas, simplesmente, antagonizar o outro lado. Perde-se o espaço para ouvir e refletir, e, com isso, as discussões políticas tornam-se superficiais, centradas mais no confronto do que na busca por soluções. Pulamos etapas importantes no processo de diálogo democrático, como pesquisar, compreender e considerar diferentes pontos de vista.

Esse cenário é preocupante, especialmente em tempos em que a desinformação e as fake news se espalham rapidamente. Celebridades e influenciadores têm o poder de amplificar ideias e causas, mas também têm a responsabilidade de promover um debate mais saudável. Ao invés de fomentar divisões, essas figuras públicas poderiam contribuir para um ambiente mais aberto e respeitoso, onde divergências políticas não resultem em inimizades ou radicalizações.

A capacidade das celebridades de influenciar a política moderna não deve ser subestimada, mas também precisamos reconhecer os riscos de uma sociedade que se move mais pelo apelo emocional e menos pela reflexão profunda. O debate público deve ser um espaço para a troca de ideias construtivas, em que o respeito pela diferença seja o alicerce de uma democracia sólida. O apoio de Taylor Swift à Kamala Harris, por exemplo, não é apenas um ato político, mas um convite à reflexão sobre o impacto das vozes influentes em nosso mundo. Mais do que seguir personalidades, é essencial que aprendamos a escutar, refletir e construir um espaço democrático que valorize o diálogo.

Se não adotarmos uma postura mais crítica e reflexiva, continuaremos reféns de uma dinâmica em que o debate político é menos sobre ideias e mais sobre a força da polarização. A influência das celebridades pode ser um catalisador de mudanças positivas, mas, para que isso aconteça, precisamos fortalecer nossa capacidade de ouvir e debater com respeito, lembrando sempre que o verdadeiro poder democrático está no diálogo e na troca de ideias, não no embate estéril.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Organização

A difícil arte de premiar sem capitular

Desde Alfred Nobel, o ato de reconhecer os feitos dos seres humanos não é uma tarefa trivial, mas quando bem-feita costuma resultar em ganho reputacional para que premia e para quem é premiado

ESG
Adotar o 'Best Before' no Brasil pode reduzir o desperdício de alimentos, mas demanda conscientização e mudanças na cadeia logística para funcionar

Lucas Infante

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
No SXSW 2025, a robótica ganhou destaque como tecnologia transformadora, com aplicações que vão da saúde e criatividade à exploração espacial, mas ainda enfrenta desafios de escalabilidade e adaptação ao mundo real.

Renate Fuchs

6 min de leitura
Inovação
No SXSW 2025, Flavio Pripas, General Partner da Staged Ventures, reflete sobre IA como ferramenta para conexões humanas, inovação responsável e um futuro de abundância tecnológica.

Flávio Pripas

5 min de leitura
ESG
Home office + algoritmos = epidemia de solidão? Pesquisa Hibou revela que 57% dos brasileiros produzem mais em times multidisciplinares - no SXSW, Harvard e Deloitte apontam o caminho: reconexão intencional (5-3-1) e curiosidade vulnerável como antídotos para a atrofia social pós-Covid

Ligia Mello

6 min de leitura
Empreendedorismo
Em um mundo de incertezas, os conselhos de administração precisam ser estratégicos, transparentes e ágeis, atuando em parceria com CEOs para enfrentar desafios como ESG, governança de dados e dilemas éticos da IA

Sérgio Simões

6 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Os cuidados necessários para o uso de IA vão muito além de dados e cada vez mais iremos precisar entender o real uso destas ferramentas para nos ajudar, e não dificultar nossa vida.

Eduardo Freire

7 min de leitura
Liderança
A Inteligência Artificial está transformando o mercado de trabalho, mas em vez de substituir humanos, deve ser vista como uma aliada que amplia competências e libera tempo para atividades criativas e estratégicas, valorizando a inteligência única do ser humano.

Jussara Dutra

4 min de leitura
Gestão de Pessoas
A história familiar molda silenciosamente as decisões dos líderes, influenciando desde a comunicação até a gestão de conflitos. Reconhecer esses padrões é essencial para criar lideranças mais conscientes e organizações mais saudáveis.

Vanda Lohn

5 min de leitura
Empreendedorismo
Afinal, o SXSW é um evento de quem vai, mas também de quem se permite aprender com ele de qualquer lugar do mundo – e, mais importante, transformar esses insights em ações que realmente façam sentido aqui no Brasil.

Dilma Campos

6 min de leitura
Uncategorized
O futuro das experiências de marca está na fusão entre nostalgia e inovação: 78% dos brasileiros têm memórias afetivas com campanhas (Bombril, Parmalat, Coca-Cola), mas resistem à IA (62% desconfiam) - o desafio é equilibrar personalização tecnológica com emoções coletivas que criam laços duradouros

Dilma Campos

7 min de leitura