Uncategorized

Quero meu rio Doce de volta

Guilherme Soárez, CEO da HSM

Compartilhar:

Na entrevista de Roberto Waack, diretor-presidente da Fundação Renova e personagem da nossa matéria de capa, ouvi pela primeira vez sobre “abordagem de paisagem”. Como Waack explica, é uma abordagem de gestão ainda muito nova no mundo, mas já sólida nos países escandinavos, que combina três elementos: o conhecimento material – técnico, científico, social etc. –, o aspecto sensível e a representação.

Segundo Waack, o gestor que continuar a usar o modelo prescritivo, aquele que diz “estudei, é assim que você tem de fazer”, nunca vai ter êxito. Ele precisa prestar atenção às emoções dos envolvidos – mesmo quando a emoção em questão for a raiva –, seus sonhos e a imaginação coletiva, coisa para a qual nem conselhos nem diretorias-executivas estão preparados. E a representação é o que faz a ponte entre o material e o sensível – a pintura, a literatura, a poesia, a música etc. “Se a gente não trabalhar o lado sensível, o conhecimento simplesmente não vai fluir. A arte é onde esse diálogo entre material e sensível consegue se dar”, afirma.

Waack está trabalhando muito isso com os jovens do rio Doce. Mas, para as jornalistas Adriana Salles Gomes e Sandra Mara Costa, ele também ilustrou a abordagem de paisagem com o trabalho do fotógrafo Sebastião Salgado, de quem sou grande fã. Na fazenda Aimorés, do pai dele, na região do rio Doce, Salgado usou a materialidade ao plantar árvores com o melhor da engenharia florestal, mas conectou-a com as emoções do passado usando imagens como representação.

O papel de liderança de Waack é ingrato. Quando as pessoas atingidas pela tragédia dizem, com raiva, “quero meu rio Doce de volta!”, cabe a ele, e a seus liderados, dizer “isso não é possível, temos de trazer outro rio”. Mas, com a abordagem de paisagem, essa entrega possível, diferente, está tendo mais chances de sucesso, porque está trabalhando com outros sonhos das pessoas enquanto promove a reconexão com o espaço (as pessoas estavam de costas para o rio antes) e a percepção do coletivo onde não havia mobilização alguma.

O legado do trabalho da Fundação Renova, que deve ir até 2030 ou além, pode ser extraordinário, apesar de tudo, e a ONU está reconhecendo a inovação embutida e o benchmark que isso cria para o mundo. Para nós, gestores, aprender com o trabalho deles tem um valor inestimável, porque todos operamos no Brasil, que é especialmente sujeito a desastres, reais ou metafóricos, e porque atuamos em um ambiente VUCA e com multistakeholders. Como Waack mesmo comenta, a recuperação do rio Doce não é um trabalho típico do terceiro setor, mas análogo às entregas das empresas.

Esta é a edição que circula com a HSM Expo 2018, cujo tema é a multiplicação de perspectivas. Nada melhor, portanto, que uma perspectiva tão radicalmente diferente para encabeçar esta revista.

Outra ponta de lança desta edição é a cultura. Levantamento feito pela Bain & Company mostrou que 83% dos líderes acham que a cultura é um fator tão relevante para obter sucesso empresarial quanto a estratégia, bem mais do que os cerca de 70% de Europa e América do Norte. Aqui, tratamos duas perspectivas bem distintas de cultura: a do Jeito 3G e sua necessidade de se atualizar e a da empresa familiar Tirolez.

Nosso Dossiê trata das equipes de múltiplas perspectivas por excelência: os squads – equipes autodirigidas, muitas temporárias, que reúnem – veja você – pessoas de perspectivas diferentes! Quero ressaltar, por fim, o artigo de Shawn Anchor sobre como se proteger em ambientes VUCA, já que precisamos nos conectar com os outros (e suas diferenças) para realizar nosso potencial.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Reaprender virou a palavra da vez

Reaprender não é um luxo – é sobrevivência. Em um mundo que muda mais rápido do que nossas certezas, quem não reorganiza seus próprios circuitos mentais fica preso ao passado. A neurociência explica por que essa habilidade é a verdadeira vantagem competitiva do futuro.

Lifelong learning
19 de dezembro de 2025
Reaprender não é um luxo - é sobrevivência. Em um mundo que muda mais rápido do que nossas certezas, quem não reorganiza seus próprios circuitos mentais fica preso ao passado. A neurociência explica por que essa habilidade é a verdadeira vantagem competitiva do futuro.

Isabela Corrêa - Cofundadora da People Strat

8 minutos min de leitura
Tecnologia & inteligencia artificial, Inovação & estratégia
18 de dezembro de 2025
Como a presença invisível da IA traz ganhos enormes de eficiência, mas também um risco de confiarmos em sistemas que ainda cometem erros e "alucinações"?

Rodrigo Cerveira - CMO da Vórtx e Cofundador do Strategy Studio

3 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
17 de dezembro de 2025
Discurso de ownership transfere o peso do sucesso e do fracasso ao colaborador, sem oferecer as condições adequadas de estrutura, escuta e suporte emocional.

Rennan Vilar - Diretor de Pessoas e Cultura do Grupo TODOS Internacional

4 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
16 de dezembro de 2025
A economia prateada deixou de ser nicho e se tornou força estratégica: consumidores 50+ movimentam trilhões e exigem experiências centradas em respeito, confiança e personalização.

Eric Garmes é CEO da Paschoalotto

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
15 de dezembro de 2025
Este artigo traz insights de um estudo global da Sodexo Brasil e fala sobre o poder de engajamento que traz a hospitalidade corporativa e como a falta dela pode impactar financeiramente empresas no mundo todo.

Hamilton Quirino - Vice-presidente de Operações da Sodexo

2 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Inovação & estratégia
12 de dezembro de 2025
Inclusão não é pauta social, é estratégia: entender a neurodiversidade como valor competitivo transforma culturas, impulsiona inovação e constrói empresas mais humanas e sustentáveis.

Marcelo Vitoriano - CEO da Specialisterne Brasil

4 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Marketing & growth
11 de dezembro de 2025
Do status à essência: o luxo silencioso redefine valor, trocando ostentação por experiências que unem sofisticação, calma e significado - uma nova inteligência para marcas em tempos pós-excesso.

Daniel Skowronsky - Cofundador e CEO da NIRIN Branding Company

3 minutos min de leitura
Estratégia
10 de dezembro de 2025
Da Coreia à Inglaterra, da China ao Brasil. Como políticas públicas de design moldam competitividade, inovação e identidade econômica.

Rodrigo Magnago - CEO da RMagnago

17 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
9 de dezembro de 2025
Entre liderança e gestação, uma lição essencial: não existe performance sustentável sem energia. Pausar não é fraqueza, é gestão - e admitir limites pode ser o gesto mais poderoso para cuidar de pessoas e negócios.

Tatiana Pimenta - Fundadora e CEO da Vittude,

3 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
8 de dezembro de 2025
Com custos de saúde corporativa em alta, a telemedicina surge como solução estratégica: reduz sinistralidade, amplia acesso e fortalece o bem-estar, transformando a gestão de benefícios em vantagem competitiva.

Loraine Burgard - Cofundadora da h.ai

3 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança