Gestão de Pessoas

Reconhecimento como motor do engajamento nas empresas

Colaboradores que se sentem valorizados são, em média, 2,4 vezes mais engajados; inovação, justiça nos critérios de recompensa e oportunidades de desenvolvimento também foram destacados pelos trabalhadores em pesquisa feita pela Pulses
Renato Navas é cofundador e head de People Success da Pulses. Psicólogo, com pós-graduação em Administração de Empresa pela SOCIESC/FGV e Dinâmica dos Grupos (SBDG). Atua como professor de Pós-graduação e MBA em Gestão estratégica de Pessoas (UNIVALI).

Compartilhar:

Happy hours virtuais, reuniões frequentes para manter um contato próximo, ações em prol da saúde mental: desde o ano passado, as empresas estão implementando diversas iniciativas para manter o time engajado mesmo no home office. No entanto, embora importantes para o momento sem precedentes que estamos vivendo, não são as ideias criativas da gestão que mais impactam no envolvimento dos colaboradores com a empresa.

Um levantamento da Pulses, empresa que tem soluções de clima organizacional, engajamento e performance, mostrou que o que mais importa para os trabalhadores é a qualidade e frequência do reconhecimento. Em seguida, a [clareza nos critérios de remuneração e as oportunidades](https://www.revistahsm.com.br/post/rh-como-facilitador-da-cultura-de-clareza-e-eficiencia) de desenvolvimento internas. A pesquisa mostrou ainda que trabalhadores e importam com a possibilidade de abertura a novas ideias e com a felicidade no trabalho.

As informações foram coletadas no período entre abril de 2020 e maio de 2021 na base de dados da plataforma da empresa, que tem mais de 120 mil respondentes de organizações de diferentes portes e segmentos. O levantamento mostrou que colaboradores que se sentem satisfeitos com a frequência e a qualidade do reconhecimento tendem a ser 2,4 vezes mais engajados do que aqueles que não percebem.

O levantamento mostra ainda que os feedbacks claros, as interações sinceras e transparentes, e a abertura ao diálogo constroem vínculos valiosos, que acabam repercutindo diretamente no engajamento.

Ao percebemos que existe no outro a disposição para nos considerar como um ser único, nos sentimos convidados a nos mostrarmos de forma autêntica e, consequentemente, nos conectarmos em uma relação. As empresas que compreendem esses mecanismos que estão nos ‘bastidores das relações’ promovem e incentivam a troca de reconhecimento entre as pessoas, pois sabem que é no vínculo que está a energia do engajamento. Ou seja, muito da nossa motivação e energia de realização vêm de recarregar nossa ‘bateria interna’ de reconhecimentos.

## Justiça e oportunidades

Outro fator significativo foi a justiça, que é a percepção dos colaboradores sobre quão claras são as condições que norteiam as políticas de compensação da empresa (como remuneração e premiações – monetárias ou não) e quão adequadas elas são como retorno para os investimentos no trabalho.

Profissionais que entendem esse senso de justiça interno como favoráveis à organização são, em média, 2,3 vezes mais engajados. Esse, aliás, é outro excelente exemplo da importância de ter contratos claros e transparentes nas relações de trabalho.

Quando acordamos as regras do jogo, deixando claras as limitações e possibilidades, estabelecemos uma relação madura e adulta entre as pessoas. O senso de justiça acontece quando firmamos um contrato onde não existem letras miúdas nem incoerência entre discurso e prática, fazendo com que a equipe confie no que a empresa se compromete a fazer.

As oportunidades internas em relação ao desenvolvimento e aprimoramento também foram destacadas pelos colaboradores. Assim, não são apenas as perspectivas de carreira que importam, mas também as experiências.

O senso de oportunidade está muito ligado ao quanto as organizações estimulam as pessoas a se desenvolverem e crescerem continuamente. Aqui tem um ponto interessante, porque o pano de fundo de todos os fatores que impactam no engajamento tem a ver com aspectos relacionais, enquanto as oportunidades estão ligadas ao desenho da jornada do colaborador na empresa, à experiência que ele vai ter e adquirir durante o tempo que vai trabalhar naquele lugar.

Quando as pessoas percebem que existe um plano bem desenhado para oferecer um amadurecimento profissional, elas tendem a ser 2,2 vezes mais engajadas do que as que não percebem.

## Inovação e felicidade

O quarto fator mais impactante é a inovação, que está relacionada ao quanto a empresa está aberta a ouvir, discutir, implementar, flexibilizar e adaptar-se às mudanças propostas pelos colaboradores e pelo mercado. As pessoas que sentem que têm voz ativa para contribuir na organização tendem a ser 1,9 vezes mais engajadas.

Isso ocorre porque os seres humanos sentem necessidade de se sentirem integrantes e parte de algo maior. Existe uma premissa do engajamento que é ‘não existem pessoas desengajadas’. Isso quer dizer que, geralmente, todo mundo se conecta com aquilo que acredita que é importante.

Desse modo, é papel do gestor escutar efetivamente o que o colaborador acha relevante, quais são suas ideias e o que ele sente em relação à empresa. É buscar saber no que as pessoas estão engajadas para entender o que a organização pode aprender com isso. Se os líderes não investigarem com a própria equipe, talvez a resposta não apareça.

Por fim, a felicidade no trabalho, que é o [senso de realização e de sentir que o trabalho tem propósito](https://www.revistahsm.com.br/post/dormir-bem-e-sonhar-em-ser-unicornio-sao-coisas-incompativeis) foi o último destaque do levantamento, com colaboradores que se consideram felizes 1,8 vezes mais engajados. Esse é um dos aspectos que inclusive influencia diretamente na rotatividade da equipe, na taxa de absenteísmo e nos índices de atestados e licenças médicas nas organizações, já que o bem-estar e a felicidade são fatores importantes para a produtividade e satisfação dos funcionários.

## Dados e rotas

Todos esses dados são relevantes para a gestão pensar em estratégias antifrágeis e não resilientes, já que o home office e o trabalho híbrido têm dado indícios de que vieram para ficar em muitas empresas brasileiras.

Como estamos vivendo em um mundo onde as premissas estão totalmente chacoalhadas, com situações de muita fragilidade, vulnerabilidade e incertezas, isso provoca ansiedade na maioria das pessoas, bem como uma dificuldade de lidar com certas circunstâncias.

Temos novas formas de trabalho, novas possibilidades de carreira, novas gerações no mercado, a preocupação com a diversidade e inclusão, enfim, tudo acontecendo ao mesmo tempo. Os gestores não podem mais tratar a realidade atual com as mesmas proposições do período pré-pandemia.

É aí que entra a importância de ser data driven, porque os dados indicam onde mexer e dão os direcionamentos para as estratégias e ações que vão fazer sentido para a organização.

*Gostou do artigo escrito por Renato Navas? Saiba mais sobre gestão de pessoas assinando gratuitamente [nossas newsletters](https://www.revistahsm.com.br/newsletter) e escutando [nossos podcasts](https://www.revistahsm.com.br/podcasts) em sua plataforma de streaming favorita.*

Compartilhar:

Artigos relacionados

Inovação

Living Intelligence: A nova espécie de colaborador

Estamos entrando na era da Inteligência Viva: sistemas que aprendem, evoluem e tomam decisões como um organismo autônomo. Eles já estão reescrevendo as regras da logística, da medicina e até da criatividade. A pergunta que nenhuma empresa pode ignorar: como liderar equipes quando metade delas não é feita de pessoas?

Liderar GenZ’s: As relações de trabalho estão mudando…

Mais da metade dos jovens trabalhadores já não acredita no valor de um diploma universitário — e esse é só o começo da revolução que está transformando o mercado de trabalho. Com uma relação pragmática com o emprego, a Geração Z encara o trabalho como negócio, não como projeto de vida, desafiando estruturas hierárquicas e modelos de carreira tradicionais. A pergunta que fica: as empresas estão prontas para se adaptar, ou insistirão em um sistema que não conversa mais com a principal força de trabalho do futuro?

Empreendedorismo
Contratar um Chief of Staff pode ser a solução que sua empresa precisa para ganhar agilidade e melhorar a governança

Carolina Santos Laboissiere

7 min de leitura
ESG
Quando 84% dos profissionais com deficiência relatam saúde mental afetada no trabalho, a nova NR-1 chega para transformar obrigação legal em oportunidade estratégica. Inclusão real nunca foi tão urgente

Carolina Ignarra

4 min de leitura
ESG
Brasil é o 2º no ranking mundial de burnout e 472 mil licenças em 2024 revelam a epidemia silenciosa que também atinge gestores.
5 min de leitura
Inovação
7 anos depois da reforma trabalhista, empresas ainda não entenderam: flexibilidade legal não basta quando a gestão continua presa ao relógio do século XIX. O resultado? Quiet quitting, burnout e talentos 45+ migrando para o modelo Talent as a Service

Juliana Ramalho

4 min de leitura
ESG
Brasil é o 4º país com mais crises de saúde mental no mundo e 500 mil afastamentos em 2023. As empresas que ignoram esse tsunami pagarão o preço em produtividade e talentos.

Nayara Teixeira

5 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Empresas que integram IA preditiva e machine learning ao SAP reduzem custos operacionais em até 30% e antecipam crises em 80% dos casos.

Marcelo Korn

7 min de leitura
Empreendedorismo
Reinventar empresas, repensar sucesso. A megamorfose não é mais uma escolha e sim a única saída.

Alain S. Levi

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A Inteligência Artificial deixou de ser uma promessa futurista para se tornar o cérebro operacional de organizações inteligentes. Mas, se os algoritmos assumem decisões, qual será o papel dos líderes no comando das empresas? Bem-vindos à era da gestão cognitiva.

Marcelo Murilo

12 min de leitura
ESG
Por que a capacidade de expressar o que sentimos e precisamos pode ser o diferencial mais subestimado das lideranças que realmente transformam.

Eduardo Freire

5 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A IA não é só para tech giants: um plano passo a passo para líderes transformarem colaboradores comuns em cientistas de dados — usando ChatGPT, SQL e 360 horas de aprendizado aplicado

Rodrigo Magnago

21 min de leitura