Lembra-se da resistência francesa durante a Segunda Guerra Mundial, imortalizada em filmes como Casablanca? Mudar nossa identidade com o trabalho também é – precisa ser – uma operação de resistência. Para a maioria de nós, foi só durante as quarentenas pandêmicas que nos demos conta da relação obsessiva, doentia, que mantínhamos com o trabalho. Não é verdade? Os americanos culpam por isso seus antepassados protestantes, seu mito da autossuficiência, o boom de startups. Os brasileiros são menos obcecados do que os americanos, mas ainda assim são muitos que trabalham 14 horas por dia, sete dias por semana – e talvez culpem a instabilidade econômica que caracteriza o País ou a frágil rede de segurança social nacional.
Dá para passar pelo apocalipse dos workaholics e sair vivo do outro lado?
Um novo livro, *The good enough job: Reclaiming life from work*, de Simone Stolzoff, acredita que sim, mas avisa que esse pode ser um processo longo e complexo. Existe um ponto de partida muito simples para a jornada, segundo o autor: mudar a forma como distribuímos nosso tempo. “O trabalho se expande como um gás e preenche todo o nosso espaço desocupado. E, portanto, não sabem o que fazer quando não estão trabalhando e, portanto, trabalham o tempo todo”, observa Stolzoff. A internet, por sinal, só dificulta as coisas, mesmo quando usada para lazer: você sempre pode esbarrar em algo que tem a ver com trabalho, não é?
Stolzoff sugere que comecemos agendando mais atividades que, enquanto realizadas, tornam impossível trabalhar: correr, tricotar, ter um encontro com um amigo, ser ativista de algo.
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Artigo publicado na HSM Management nº 157.