Diversidade

Representatividade e fidelização de talentos nas empresas

É tempo de as organizações irem além do discurso da diversidade por resultado e olharem para a experiência que proporcionam aos colaboradores no dia a dia
Zeni doVale é líder de diversidade, inclusão, equidade e pertencimento na fintech Credere. Publicitário de formação, desde 2014 tem se aprofundado e se engajado com o tema diversidade, inclusão e equidade.

Compartilhar:

A discussão sobre a importância de promover e implementar políticas de diversidade e inclusão nas organizações veio para ficar, e todo reforço é bem-vindo para que o tema ganhe cada vez mais alcance. Por outro lado, é preciso ir além de argumentos, como o de justificar que a aposta em culturas diversas é importante porque melhora a performance financeira e favorece a reputação, ou porque é tendência e garante destaque nas mídias. É mais do que tempo de olharmos para o tema pelo viés das pessoas e de como o compromisso responsável com todos os aspectos da diversidade impacta a realidade dos indivíduos.

Afinal de contas, as organizações são feitas para e por pessoas. São elas que tomam decisões, geram resultados e que produzem e consomem os produtos e serviços que fazem os negócios girarem. Quando nos propomos a contratar uma equipe diversa, não podemos achar que fizemos nossa parte apenas por criar e preencher vagas afirmativas.

Há muito mais a ser feito no dia a dia, da contratação à elaboração de estratégias para que esses colaboradores se sintam parte da cultura. Promover ambientes e experiências em que se sintam representados e respeitados não apenas é a coisa certa a se fazer, mas também é o que gera conexões verdadeiras e proporciona longevidade às empresas.

O risco de negligenciar isso é perder talentos, ou para a concorrência ou para a desmotivação. Eles podem se sentir silenciados, invisibilizados e ofuscados.
Quando falamos em promover diversidade no contexto das corporações, estamos pensando nas questões étnicas, de gênero, de orientação sexual e de pessoas com deficiência. Mas também precisamos considerar as diferenças sociais, culturais e de pensamento que existem dentro de uma equipe.

Para agir efetivamente em favor da causa, é necessário estar disposto a conhecer as pessoas. Saber com quem estamos falando, suas realidades e expectativas, dificuldades, pontos fortes e limitações.

É preciso, também, entender que lutar por diversidade não resolve a questão em toda a sua complexidade: temos que batalhar por inclusão, equidade e pertencimento. Verna Myers, vice-presidente para estratégias de inclusão da Netflix, tem uma frase que já ficou famosa: “Diversidade é convidar para a festa, inclusão é tirar para dançar”. Aproveitando o raciocínio, eu completaria a explicação dos demais aspectos acerca do tema: equidade seria garantir que o espaço da festa fosse acessível a cadeirantes e com interpretação da música em libras, por exemplo. Pertencimento seria incluir todos em uma única coreografia, com cada um sabendo do papel que tem para a harmonia do conjunto.

Em outras palavras: diversidade é garantir a presença de pessoas de diferentes grupos e inclusão é dar oportunidade para quem está de fora. Por exemplo, trazer para o time um profissional negro ou LGBTI+ tirando-o do atual emprego é promover diversidade, mas não inclusão – para isso, o correto seria buscar alguém desempregado com esse perfil. O mesmo vale ao contratar mais mulheres, mas impedir ou limitar o acesso delas a cargos de liderança e espaços de tomadas de decisões.

Equidade é tratar as diferenças com diferença para propiciar que pessoas com realidades distintas cheguem a um patamar de igualdade de oportunidade ou de resultado. Um exemplo muito comum da falta de equidade na gestão de pessoas é a contratação com base na instituição de ensino em que o candidato se formou, o que durante muito tempo colocou automaticamente na frente aqueles vindos de universidades públicas, deixando a competência ou interesse em segundo plano. Ou mesmo a exigência de fluência em idioma estrangeiro, sem que isso jamais seja uma necessidade do dia a dia da empresa. A prática está cada dia mais em desuso, pelo menos nas organizações mais modernas e socialmente conscientes – ainda bem.

Outra situação comum veio à tona com a escolha dos modelos de trabalho presencial, híbrido ou remoto assim que começou a flexibilização do isolamento pela pandemia. Muitas empresas determinaram que todos passassem a trabalhar remotamente, presumindo que essa era a preferência geral, mas quantas ouviram seus funcionários para saber quem de fato preferia ficar em casa ou voltar para o escritório?

Será que todos tinham a estrutura física necessária para desempenhar suas funções, boa conexão de internet e um ambiente doméstico favorável? Equidade seria dar a chance de cada um escolher de acordo com suas individualidades e garantir que a empresa se empenhasse em superar os empecilhos envolvidos.
Por fim, pertencimento é se ver representado e atuante na realidade em que está inserido. De nada adianta ter um time diverso em que apenas alguns têm voz e espaço para atuar. Como contratar pessoas trans, mas não permitir que usem o banheiro designado ao gênero com o qual se identificam?

Para que a verdadeira mudança aconteça, é preciso que gestores, empreendedores e toda a sociedade se comprometam com a construção de organizações mais diversas, inclusivas, equânimes e acolhedoras para todos. Para além de alinhar e cobrar ações e políticas afirmativas da porta para dentro das empresas, todos temos, como trabalhadores e consumidores, o poder e a responsabilidade de olhar em 360 graus para a cadeia dos negócios que apoiamos e avaliar se são éticos e comprometidos com a diversidade e a inclusão de grupos historicamente excluídos. Assim combatemos o preconceito estrutural e colaboramos para que todos que queiram falar possam ser ouvidos.

Partiu tirar essa galera pra dançar?

Compartilhar:

Artigos relacionados

Calendário

Não, o ano ainda não acabou!

Em meio à letargia de fim de ano, um chamado à consciência: os últimos dias de 2024 são uma oportunidade valiosa de ressignificar trajetórias e construir propósito.

Empreendedorismo, Diversidade, Uncategorized
A entrega do Communiqué pelo W20 destaca o compromisso global com a igualdade de gênero, enfatizando a valorização e o fortalecimento da Economia do Cuidado para promover uma sociedade mais justa e produtiva para as mulheres em todo o mundo

Ana Fontes

3 min de leitura
Diversidade
No ambiente corporativo atual, integrar diferentes gerações dentro de uma organização pode ser o diferencial estratégico que define o sucesso. A diversidade de experiências, perspectivas e habilidades entre gerações não apenas enriquece a cultura organizacional, mas também impulsiona inovação e crescimento sustentável.

Marcelo Murilo

21 min de leitura
Finanças
Casos de fraude contábil na Enron e Americanas S.A. revelam falhas em governança corporativa e controles internos, destacando a importância de transparência e auditorias eficazes para a integridade empresarial

Marco Milani

3 min de leitura
Liderança
Valorizar o bem-estar e a saúde emocional dos colaboradores é essencial para um ambiente de trabalho saudável e para impulsionar resultados sólidos, com lideranças empáticas e conectadas sendo fundamentais para o crescimento sustentável das empresas.

Ana Letícia Caressato

6 min de leitura
Empreendedorismo
A agência dos agentes em sistemas complexos atua como força motriz na transformação organizacional, conectando indivíduos, tecnologias e ambientes em arranjos dinâmicos que moldam as interações sociais e catalisam mudanças de forma inovadora e colaborativa.

Manoel Pimentel

3 min de leitura
Liderança
Ascender ao C-level exige mais que habilidades técnicas: é preciso visão estratégica, resiliência, uma rede de relacionamentos sólida e comunicação eficaz para inspirar equipes e enfrentar os desafios de liderança com sucesso.

Claudia Elisa Soares

6 min de leitura
Diversidade, ESG
Enquanto a diversidade se torna uma vantagem competitiva, o reexame das políticas de DEI pelas corporações reflete tanto desafios econômicos quanto uma busca por práticas mais autênticas e eficazes

Darcio Zarpellon

8 min de leitura
Liderança
E se o verdadeiro poder da sua equipe só aparecer quando o líder estiver fora do jogo?

Lilian Cruz

3 min de leitura
ESG
Cada vez mais palavras de ordem, imperativos e até descontrole tomam contam do dia-dia. Nesse costume, poucos silêncios são entendidos como necessários e são até mal vistos. Mas, se todos falam, no fim, quem é que está escutando?

Renata Schiavone

4 min de leitura
Finanças
O primeiro semestre de 2024 trouxe uma retomada no crédito imobiliário, impulsionando o consumo e apontando um aumento no apetite das empresas por crédito. A educação empreendedora surge como um catalisador para o desenvolvimento de startups, com foco em inovação e apoio de mentorias.

João Boos

6 min de leitura