Desenvolvimento pessoal

Respeite a filantropia

Para lidarmos com os desafios da atualidade, precisamos de abordagens que olhem para fora e para dentro. A partir disso, a Benfeitoria criou três pilares de atuação para organizações que levam ESG a sério: plante uma árvore, tenha um filho e escreva um livro
Tati Leite é cofundadora e CEO da Benfeitoria, plataforma que há dez anos vem impulsionando e popularizando a cultura da doação no Brasil.

Compartilhar:

A palavra respeito vem do inglês re-spect (olhe de novo). E como a pandemia aprofundou ainda mais os abismos sociais do Brasil, no pior do efeito Xibom bombom ([como na música: “onde o rico cada vez fica mais rico e o pobre cada vez fica mais pobre”](https://www.youtube.com/watch?v=6QKk5gU-CDI)), faço aqui um apelo às lideranças das grandes organizações: revisitem sua forma de olhar para – e agir sobre – a filantropia.

Para dar conta dos desafios atuais, precisamos de uma abordagem mais profunda, sistêmica e regenerativa. Abordagens que olhem para fora e para dentro. Para hoje e amanhã. Na tentativa de destravar esse processo, criamos na [Benfeitoria](http://www.benfeitoria.com) um guia simples, inspirado na máxima do legado pessoal: plante uma árvore, tenha um filho, escreva um livro. Sua organização atua nesses três pilares?

## PLANTE UMA ÁRVORE

DOE. Simplesmente doe. Doamos 10 vezes menos do que os americanos doam em relação ao PIB. Num país tão desigual como o Brasil, precisamos urgentemente disseminar uma cultura de doação pura e simples, sem contrapartidas.

Toda empresa grande deveria ter uma linha de ação para doação, sem neurose de estar dando peixe em vez de ensinar a pescar. Doe. Simplesmente doe. Não existe evolução e mudança significativa sem muito fomento e colaboração, nem dentro nem fora da filantropia. Investimos bilhões em negócios e empreitadas de risco. Por que sub financiamos o social e ainda exigimos tanto das OSCs (Organizações da Sociedade Civil) pelas nossas doações?

Quem tem fome (não só de comida), tem pressa. Aliás, no contexto atual, a fome voltou com força, de forma obscena. Segundo o[estudo da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional](http://olheparaafome.com.br/#manifestu), mais da metade da nossa população vive em insegurança alimentar e quase 20 milhões em nível crítico.[Nossas crianças estão desmaiando de fome nas escolas públicas.](https://www.bbc.com/portuguese/brasil-59215351)

É preciso dar o peixe sim, com arroz e feijão. Como diz Yuval Noah Harari, historiador e autor dos best sellers Sapiens e Homo Deus: *“Não ocorrem mais surtos de fome por causas naturais; há apenas fomes políticas.”*

Considere doar de forma radicalmente desburocratizada, como[Mackenzie Scott](https://observatorio3setor.org.br/observatorio-em-movimento/captacao-de-recursos/mackenzie-scott-filantropia-bilhoes-com-zero-burocracia/), que está revolucionando a filantropia lá fora.

## TENHA UM FILHO

Crie projetos em parceria com outras instituições. Estou falando de [filantropia colaborativa](https://gife.org.br/filantropia-colaborativa-abordagem-busca-qualificar-impacto-do-setor/). A fórmula que transforma 1 + 1 em algo muito maior e mais poderoso que 2. Algo único, a partir da junção do DNA de diferentes parceiros.

Aqui sim, há espaço (e muito!) para inovar e criar arranjos mais elaborados, seja para olhar de forma estratégica para o futuro ou para mitigar os desafios emergenciais do presente com mais potência.[Matchfunding](http://benfeitoria.com/parcerias), fundos colaborativos, círculos de doação, coalizões, inovação aberta… É tanto modelo, que mais que um texto à parte, rende um[livro](https://sinapse.gife.org.br/download/filantropia-colaborativa). E já foi escrito, pela Erika Sanchez para a série*[Temas do Investimento Social](https://sinapse.gife.org.br/dlm_download_series/temas-do-investimento-social)*, do GIFE. Só baixar 🙂

Mas faço um adendo: Como a maioria dos tomadores de decisão no investimento social privado é composta por pessoas brancas privilegiadas, que vivem realidades muito distantes das que pretende ajudar (me incluo), é importante buscarmos intencionalmente parceiros (dentro e fora das nossas instituições) que tenham jornadas diferentes das nossas.

Políticas de fomento precisam ser feitas por grupos diversos. Não é só o certo a ser feito: é a forma mais inteligente de se complementar olhares e saberes para criar ações que fomentem um mundo realmente para todos.

## (RE)ESCREVA UM LIVRO

Olhe para dentro e reescreva sua história. Aqui estou falando de filantropia regenerativa. Se perceba como parte geradora do problema e procure investigar o que está olhando, mas não está vendo. O que você e sua instituição praticam (ou deixam de praticar) que perpetua nosso sistema desigual e opressor — para dentro e para fora? __Olhe para isso e saiba que nunca é tarde para escrever um novo capítulo. __

Esse tema também rende muito, mas gosto de introduzi-lo através de um depoimento muito impactante que Ray Anderson, CEO da Interface.Inc, deu para o [documentário “A Corporação”](https://www.youtube.com/watch?v=lzOwP0phUis). São três minutos que prometem reverberar por muito tempo.

É … é forte. E é muita coisa, eu sei. Não fiz esse texto para ser mais uma pressão na sua vida, mas como um chamado à responsabilidade, no sentido mais bonito da palavra: habilidade em responder.

Que em 2022 tenhamos a habilidade de fazer diferente para fazer real diferença.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Liderança
14 de novembro de 2025
Como dividir dúvidas, receios e decisões no topo?

Rubens Pimentel - CEO da Trajeto Desenvolvimento Empresarial

2 minutos min de leitura
Sustentabilidade
13 de novembro de 2025
O protagonismo feminino se consolidou no movimento com a Carta das Mulheres para a COP30

Luiza Helena Trajano e Fabiana Peroni

5 min de leitura
ESG, Liderança
13 de novembro de 2025
Saiba o que há em comum entre o desengajamento de 79% da força de trabalho e um evento como a COP30

Viviane Mansi - Conselheira de empresas, mentora e professora

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia
12 de novembro de 2025
Modernizar o prazo de validade com o conceito de “best before” é mais do que uma mudança técnica - é um avanço cultural que conecta o Brasil às práticas globais de consumo consciente, combate ao desperdício e construção de uma economia verde.

Lucas Infante - CEO da Food To Save

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, ESG
11 de novembro de 2025
Com a COP30, o turismo sustentável se consolida como vetor estratégico para o Brasil, unindo tecnologia, impacto social e preservação ambiental em uma nova era de desenvolvimento consciente.

André Veneziani - Vice-Presidente Comercial Brasil & América Latina da C-MORE Sustainability

3 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
10 de novembro de 2025
A arquitetura de software deixou de ser apenas técnica: hoje, ela é peça-chave para transformar estratégia em inovação real, conectando visão de negócio à entrega de valor com consistência, escalabilidade e impacto.

Diego Souza - Principal Technical Manager no CESAR, Dayvison Chaves - Gerente do Ambiente de Arquitetura e Inovação e Diego Ivo - Gerente Executivo do Hub de Inovação, ambos do BNB

8 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
7 de novembro de 2025
Investir em bem-estar é estratégico - e mensurável. Com dados, indicadores e integração aos OKRs, empresas transformam cuidado com corpo e mente em performance, retenção e vantagem competitiva.

Luciana Carvalho - CHRO da Blip, e Ricardo Guerra - líder do Wellhub no Brasil

4 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
6 de novembro de 2025
Incluir é mais do que contratar - é construir trajetórias. Sem estratégia, dados e cultura de cuidado, a inclusão de pessoas com deficiência segue sendo apenas discurso.

Carolina Ignarra - CEO da Talento Incluir

5 minutos min de leitura
Liderança
5 de novembro de 2025
Em um mundo sem mapas claros, o profissional do século 21 não precisa ter todas as respostas - mas sim coragem para sustentar as perguntas certas. Neste artigo, exploramos o surgimento do homo confusus, o novo ser humano do trabalho, e como habilidades como liderança, negociação e comunicação intercultural se tornam condições de sobrevivência em tempos de ambiguidade, sobrecarga informacional e transformações profundas nas relações profissionais.

Angelina Bejgrowicz - Fundadora e CEO da AB – Global Connections

12 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
4 de novembro de 2025
Na era da hiperconexão, encerrar o expediente virou um ato estratégico - porque produtividade sustentável exige pausas, limites e líderes que valorizam o tempo como ativo de saúde mental.

Tatiana Pimenta - Fundadora e CEO da Vittude

3 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)