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Responsividade e futuro emergente

Assuntos que eram negligenciados no mundo pré-Covid-19 agora ocupam agendas estratégicas. O que muda nesse jogo?
Dario Neto é diretor geral do Instituto Capitalismo Consciente Brasil e CEO do Grupo Anga. Também é pai do Miguel e marido da Bruna. Marcel Fukayama é diretor geral do Sistema B Internacional e cofundador da consultoria em negócios de impacto Din4mo.

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Quem poderia imaginar que o ano recém-inaugurado nos traria esta surpresa? Um vírus parou o planeta, derrubou a poluição em dezenas de pontos percentuais e nos colocou em casa para repensar a forma como vivemos e fazemos negócios, lembrando-nos da nossa fragilidade e pequenez diante do planeta e do universo. 

Ainda parece cedo para dizer como será o mundo pós-Covid-19, mas já é possível crer que dificilmente será como antes. A crise traz à mesa questões emergenciais que antes estavam veladas ou negligenciadas. Temas que antes dificilmente seriam abordados entram na agenda e ganham consciência social e política, como a renda básica, o apoio aos negócios locais e comunitários, as limitações de um sistema universal de saúde ou o papel das empresas e sua função social. Tais temas emergentes podem transformar as instituições e a sociedade.

O cenário de caos e crise tem outra face muito especial e muito a nos ensinar. Temos dito seguidamente nesta coluna que negócios com propósito maior e orientados a relações de cuidado com os stakeholders trazem, no longo prazo, não apenas mais retorno social e ambiental, mas também econômico, se comparados com os demais negócios orientados apenas ao acionista e ao curto prazo. Isso é a base científica do Capitalismo Consciente!

Se isso é verdade, assim como aconteceu na crise de 2008 nos Estados Unidos, não deveriam eles ser mais resilientes e saírem mais fortes do que entraram nessa crise global durante e pós-Covid-19? Nós cremos que sim, e aqui vão alguns insights sobre healing leadership aplicado a momentos de crise como este:

**1. Responsividade organizacional é critério de seleção natural.** O futuro do trabalho virou presente do trabalho, as ações de empresas de tecnologia que sustentam trabalho remoto dispararam e empresas com milhares de funcionários tiveram que migrar para casa. Um bom conjunto de ferramentas para compor escritório virtual e uma boa conexão de internet não são, no entanto, suficientes para dizer quem melhor se adaptará a essa nova realidade. O que verdadeiramente sustenta trabalho remoto é cultura consciente e o novo paradigma central de gestão da nova economia, que é confiança nas pessoas. Organizações conscientes tendem a ser as mais responsivas na crise por perseguirem distribuição de poder na gestão, por confiarem nas pessoas e, por isso, delegarem autonomia verdadeira a elas por meio de alto nível de transparência. Comando e controle diminuem tempo de reação e resposta, e adaptabilidade é premissa para responsividade neste novo mundo.

**2. A hora da colheita chegou.** A disponibilidade de dinheiro no bolso das PFs e PJs diminuiu, e a competição por essa quantia menor de dinheiro aumentará. Assim como foi com as Firms of Endearment, que deram origem ao Capitalismo Consciente durante a crise de 2008, organizações orientadas a impacto socioambiental positivo e relações de amor e cuidado com seu time, fornecedores, clientes e comunidade vão colher o amor e  o cuidado semeado nos últimos anos com fidelidade de seus clientes verdadeiramente conectados com seus propósitos e jeitos de fazer negócios. É hora da colheita! É hora de viver ao máximo o propósito, e essas relações de amor e cuidado para se conectar ainda mais profundamente com os corações dos clientes e demais stakeholders.

**3. A sensibilidade a escolhas profissionais tende a aumentar.** A Covid-19 está fazendo a pauta de uma nova economia e de um novo capitalismo chegar a muitos espaços de discussão jamais pensados. Uma pesquisa recente com 26 mil membros do LinkedIn trouxe dados surpreendentes sobre a relação propósito-remuneração entre diferentes gerações, questionando se de fato os Y ou Z são mais sensíveis a propósito e significado. O resultado, destacado no The Guardian: 48% dos respondentes com mais de 51 anos priorizam salário, enquanto que para os X (entre 36 e 51 anos) o número cai a 38% e, finalmente, entre os Y o número atinge surpreendentes 30%. A pergunta sobre busca de significado no trabalho, no entanto, foi resposta afirmativa de 74% dos mais jovens Y. Independentemente da fase de vida profissional, a sensibilidade tende a aumentar para escolhas de consumo e profissionais.

Aquelas lideranças que buscam a tradicional maximização do resultado para o acionista perderão valor para o consumidor, o colaborador e o fornecedor. Ganhará cada vez mais força o “capitalismo de stakeholders”, em que o valor compartilhado na cadeia no curto e longo prazo passa a ser o melhor interesse dos negócios.

Diante dos efeitos da crise, modelos de negócios inclusivos e regenerativos ocuparão cada vez mais espaço como soluções de mercado. E terão incentivos de governos e investidores para o mundo acelerar a sua transição para uma nova economia de impacto positivo e adotar agendas estratégicas como dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) de 2030 e do Acordo de Paris.

As crises, de diversos tipos e intensidades, se tornarão mais recorrentes. E somente empresas com o propósito de gerar impacto positivo, responsabilidade com seus stakeholders no curto e longo prazo, e compromisso com a transparência ao medir, gerenciar e reportar seu impacto é que terão responsividade numa realidade de incertezas e volatilidade e, portanto, terão valor no novo mundo pós-Covid-19.

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