Desenvolvimento pessoal

#RoleModel: transformação social em paraisópolis

Compartilhar:

![](https://revista-hsm-public.s3.amazonaws.com/uploads/31aa8d85-0504-488e-9a07-783a67c8d4ad.png)

Conheça a história de Elizandra Cerqueira, empreendedora social, líder comunitária e presidente da Associação das Mulheres de Paraisópolis, que está fazendo a diferença em sua comunidade. 

![](https://revista-hsm-public.s3.amazonaws.com/uploads/14bed304-0b6d-430e-9f61-930c9497121a.png)

Elizandra Cerqueira, 32 anos, nasceu na Bahia, mas chegou em São Paulo ainda muito pequena, com um ano de idade. Seu pai, pedreiro, e sua mãe, empregada doméstica, se instalaram em Paraisópolis, considerada uma das maiores comunidades do Brasil, e lá ela permanece até hoje engajada em causas sociais. 

Assumiu a presidência da Associação das Mulheres de Paraisópolis com o intuito de acolher as mais vulneráveis, em sua maioria vítimas de violência doméstica, quando ela mesma se viu em um relacionamento abusivo. “Eu sentia vergonha porque eu já lutava pela causa, mas dentro de casa a vítima era eu. Foi por muito pouco que não virei estatística de feminicídio”, conta. 

Cerqueira não só conseguiu terminar com o parceiro, como usou sua história pessoal como combustível para promover transformação social. Conheça a história dessa brasileira que já foi considerada Role Model até em Paris, quando foi reconhecida por seu trabalho pelo Instituto Stop Hunger. 

**1. Qual o papel da Associação das Mulheres de Paraisópolis e como você se envolveu com esta iniciativa?**

A AMP foi fundada em 2006 por um grupo de mulheres da comunidade, e eu fiz parte desse movimento de fundação. A ideia era fortalecer a mulherada por meio de iniciativas que pudessem ajudar na geração de renda. Isso porque era muito comum recebermos pedidos dessa população, desde ajuda financeira, passando por reclamações de falta de saneamento básico, até questões sérias de violência doméstica. Notamos que, se ajudássemos as mulheres a alcançar independência financeira, boa parte desses problemas poderiam ser resolvidos, e foi nisso que a AMP se focou. Começamos com um curso de culinária, de doces e salgados, formando mulheres para o mercado de trabalho ou para empreenderem seus próprios negócios, aceitando encomendas para fazer em casa. Em 2017 eu me tornei presidente da AMP, papel que desempenho até hoje.

**2. E o Bistrô Mãos de Maria, que você define como “o restaurante localizado na laje mais charmosa de São Paulo”, como surgiu e qual a conexão dele com a AMP?**

O nome Mãos de Maria surgiu em 2007, quando formamos a nossa primeira turma de capacitação em culinária pela AMP. E a origem é bastante curiosa, porque mais da metade das inscritas no curso tinha Maria no nome. Aí resolvemos adotar, porque esse nome traz um simbolismo poderoso, não só por uma questão de religião, mas também porque é um nome bastante comum no Brasil. Temos muito orgulho de dizer que já capacitamos mais de 3,5 mil mulheres em mais de uma década de história, e seguimos firmes para ampliar ainda mais esse trabalho. E foi justamente pensando nessa ampliação que decidi abrir um restaurante em sociedade com a Juliana da Costa Gomes em 2017. Trata-se de um negócio social, porque com a verba do restaurante mantemos o curso de formação em culinária operando. Então, decidimos eleger Mãos de Maria também como parte do nome do restaurante. Significa muito para nós.

**3. E como está o Bistrô Mãos de Maria agora nesse contexto de pandemia e distanciamento social? Os planos mudaram?**

Os planos mudaram completamente. Minha sócia e eu já estávamos trabalhando em um projeto de expansão do modelo de negócio para outras comunidades, com o intuito de ampliar o nosso impacto, mas com a pandemia tudo mudou. Mais uma vez a urgência falou mais alto. Começamos a ser procuradas por mulheres, em sua maioria mães solo, passando por dificuldades e nos pedindo apoio. Então, decidimos que não ficaríamos de braços cruzados e que os planos para o restaurante poderiam esperar. Do dia para noite a gente mobilizou uma grande rede de pessoas e empresas para começarmos a produzir e distribuir gratuitamente marmitas para a comunidade. Em parceria com outro líder da comunidade responsável pela interlocução com o G10 (grupo que reúne as dez maiores favelas do Brasil), assumimos a frente de alimentação no combate ao novo coronavírus, contratamos 20 mulheres, que estão sendo remuneradas para produzir as marmitas, e, com o apoio de voluntários, passamos a distribuir comida gratuitamente. A demanda é enorme, ainda podemos fazer mais, e olha que já ultrapassamos a marca de 6 mil marmitas por dia, hein? O trabalho está bem puxado.

**4. E quem está mantendo esta operação, do ponto de vista financeiro?**

Tudo é feito a partir de doações. A AMP é uma organização formal, com CNPJ, conta bancária, tudo certinho. Então, com qualquer valor a partir de dez reais, as pessoas e empresas já podem contribuir com a nossa iniciativa. (**Nota da editora**: pedi para a Elizandra passar os dados porque achei que alguém pudesse se interessar em doar – Banco do Brasil, agência 5988-9 / Conta corrente 2201-2 / CNPJ 13.690.198/0001-24/ Em nome da Associação das Mulheres de Paraisópolis).

**5. Para encerrarmos, já que o nome da nossa seção é Role Model, gostaria de saber quem é o seu modelo, em quem você se inspira.**

A minha maior inspiração é minha mãe. Ela tem uma história de vida incrível, precisou superar muitos obstáculos. Então, toda vez que eu estou desanimada, eu me lembro dela e de tudo que ela passou. Penso “estou reclamando do quê?”, e isso me dá energia para seguir em frente. Também me inspiro muito na Ana Fontes, fundadora da Rede Mulher Empreendedora (RME). Assim como eu, Ana é nordestina, cresceu em comunidade, enfrentou e enfrenta desafios até hoje, e continua lutando pelos seus ideais. Ela me inspira demais.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Calendário

Não, o ano ainda não acabou!

Em meio à letargia de fim de ano, um chamado à consciência: os últimos dias de 2024 são uma oportunidade valiosa de ressignificar trajetórias e construir propósito.

Empreendedorismo
Um guia para a liderança se antecipar às consequências não intencionais de suas decisões

Lilian Cruz e Andréa Dietrich

4 min de leitura
ESG
Entre nós e o futuro desejado, está a habilidade de tecer cada nó de um intricado tapete que une regeneração, adaptação e compromisso climático — uma jornada que vai de Baku a Belém, com a Amazônia como palco central de um novo sistema econômico sustentável.

Bruna Rezende

5 min de leitura
ESG
Crescimento de reclamações à ANS reflete crise na saúde suplementar, impulsionada por reajustes abusivos e falta de transparência nos planos de saúde. Empresas enfrentam desafios para equilibrar custos e atender colaboradores. Soluções como auditorias, BI e humanização do atendimento surgem como alternativas para melhorar a experiência dos beneficiários e promover sustentabilidade no setor.
4 min de leitura
Finanças
Brasil enfrenta aumento de fraudes telefônicas, levando Anatel a adotar medidas rigorosas para proteger consumidores e empresas, enquanto organizações investem em tecnologia para garantir segurança, transparência e uma comunicação mais eficiente e personalizada.

Fábio Toledo

4 min de leitura
Finanças
A recente vitória de Donald Trump nos EUA reaviva o debate sobre o protecionismo, colocando em risco o acesso do Brasil ao segundo maior destino de suas exportações. Porém, o país ainda não está preparado para enfrentar esse cenário. Sua grande vulnerabilidade está na dependência de um número restrito de mercados e produtos primários, com pouca diversificação e investimentos em inovação.

Rui Rocha

0 min de leitura
Finanças
O Revenue Operations (RevOps) está em franca expansão global, com estimativa de que 75% das empresas o adotarão até 2025. No Brasil, empresas líderes, como a 8D Hubify, já ultrapassaram as expectativas, mais que dobrando o faturamento e triplicando o lucro ao integrar marketing, vendas e sucesso do cliente. A Inteligência Artificial é peça-chave nessa transformação, automatizando interações para maior personalização e eficiência.

Fábio Duran

3 min de leitura
Empreendedorismo
Trazer os homens para a discussão, investir em ações mais intencionais e implementar a licença-paternidade estendida obrigatória são boas possibilidades.

Renata Baccarat

4 min de leitura
Uncategorized
Apesar de ser uma ferramenta essencial para o desenvolvimento de colaboradores, o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) vem sendo negligenciado por empresas no Brasil. Pesquisa da Mereo mostra que apenas 60% das companhias avaliadas possuem PDIs cadastrados, com queda no engajamento de 2022 para 2023.

Ivan Cruz

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A inteligência artificial (IA) está revolucionando o mundo dos negócios, mas seu avanço rápido exige uma discussão sobre regulamentação. Enquanto a Europa avança com regras para garantir benefícios éticos, os EUA priorizam a liberdade econômica. No Brasil, startups e empresas se mobilizam para aproveitar as vantagens competitivas da IA, mas aguardam um marco legal claro.

Edmee Moreira

4 min de leitura
ESG
A gestão de riscos psicossociais ganha espaço nos conselhos, impulsionada por perdas estimadas em US$ 3 trilhões ao ano. No Brasil, a atualização da NR1 exige que empresas avaliem e gerenciem sistematicamente esses riscos. Essa mudança reflete o reconhecimento de que funcionários saudáveis são mais produtivos, com estudos mostrando retornos de até R$ 4 para cada R$ 1 investido

Ana Carolina Peuker

4 min de leitura