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Conheça a história de Elizandra Cerqueira, empreendedora social, líder comunitária e presidente da Associação das Mulheres de Paraisópolis, que está fazendo a diferença em sua comunidade.
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Elizandra Cerqueira, 32 anos, nasceu na Bahia, mas chegou em São Paulo ainda muito pequena, com um ano de idade. Seu pai, pedreiro, e sua mãe, empregada doméstica, se instalaram em Paraisópolis, considerada uma das maiores comunidades do Brasil, e lá ela permanece até hoje engajada em causas sociais.
Assumiu a presidência da Associação das Mulheres de Paraisópolis com o intuito de acolher as mais vulneráveis, em sua maioria vítimas de violência doméstica, quando ela mesma se viu em um relacionamento abusivo. “Eu sentia vergonha porque eu já lutava pela causa, mas dentro de casa a vítima era eu. Foi por muito pouco que não virei estatística de feminicídio”, conta.
Cerqueira não só conseguiu terminar com o parceiro, como usou sua história pessoal como combustível para promover transformação social. Conheça a história dessa brasileira que já foi considerada Role Model até em Paris, quando foi reconhecida por seu trabalho pelo Instituto Stop Hunger.
**1. Qual o papel da Associação das Mulheres de Paraisópolis e como você se envolveu com esta iniciativa?**
A AMP foi fundada em 2006 por um grupo de mulheres da comunidade, e eu fiz parte desse movimento de fundação. A ideia era fortalecer a mulherada por meio de iniciativas que pudessem ajudar na geração de renda. Isso porque era muito comum recebermos pedidos dessa população, desde ajuda financeira, passando por reclamações de falta de saneamento básico, até questões sérias de violência doméstica. Notamos que, se ajudássemos as mulheres a alcançar independência financeira, boa parte desses problemas poderiam ser resolvidos, e foi nisso que a AMP se focou. Começamos com um curso de culinária, de doces e salgados, formando mulheres para o mercado de trabalho ou para empreenderem seus próprios negócios, aceitando encomendas para fazer em casa. Em 2017 eu me tornei presidente da AMP, papel que desempenho até hoje.
**2. E o Bistrô Mãos de Maria, que você define como “o restaurante localizado na laje mais charmosa de São Paulo”, como surgiu e qual a conexão dele com a AMP?**
O nome Mãos de Maria surgiu em 2007, quando formamos a nossa primeira turma de capacitação em culinária pela AMP. E a origem é bastante curiosa, porque mais da metade das inscritas no curso tinha Maria no nome. Aí resolvemos adotar, porque esse nome traz um simbolismo poderoso, não só por uma questão de religião, mas também porque é um nome bastante comum no Brasil. Temos muito orgulho de dizer que já capacitamos mais de 3,5 mil mulheres em mais de uma década de história, e seguimos firmes para ampliar ainda mais esse trabalho. E foi justamente pensando nessa ampliação que decidi abrir um restaurante em sociedade com a Juliana da Costa Gomes em 2017. Trata-se de um negócio social, porque com a verba do restaurante mantemos o curso de formação em culinária operando. Então, decidimos eleger Mãos de Maria também como parte do nome do restaurante. Significa muito para nós.
**3. E como está o Bistrô Mãos de Maria agora nesse contexto de pandemia e distanciamento social? Os planos mudaram?**
Os planos mudaram completamente. Minha sócia e eu já estávamos trabalhando em um projeto de expansão do modelo de negócio para outras comunidades, com o intuito de ampliar o nosso impacto, mas com a pandemia tudo mudou. Mais uma vez a urgência falou mais alto. Começamos a ser procuradas por mulheres, em sua maioria mães solo, passando por dificuldades e nos pedindo apoio. Então, decidimos que não ficaríamos de braços cruzados e que os planos para o restaurante poderiam esperar. Do dia para noite a gente mobilizou uma grande rede de pessoas e empresas para começarmos a produzir e distribuir gratuitamente marmitas para a comunidade. Em parceria com outro líder da comunidade responsável pela interlocução com o G10 (grupo que reúne as dez maiores favelas do Brasil), assumimos a frente de alimentação no combate ao novo coronavírus, contratamos 20 mulheres, que estão sendo remuneradas para produzir as marmitas, e, com o apoio de voluntários, passamos a distribuir comida gratuitamente. A demanda é enorme, ainda podemos fazer mais, e olha que já ultrapassamos a marca de 6 mil marmitas por dia, hein? O trabalho está bem puxado.
**4. E quem está mantendo esta operação, do ponto de vista financeiro?**
Tudo é feito a partir de doações. A AMP é uma organização formal, com CNPJ, conta bancária, tudo certinho. Então, com qualquer valor a partir de dez reais, as pessoas e empresas já podem contribuir com a nossa iniciativa. (**Nota da editora**: pedi para a Elizandra passar os dados porque achei que alguém pudesse se interessar em doar – Banco do Brasil, agência 5988-9 / Conta corrente 2201-2 / CNPJ 13.690.198/0001-24/ Em nome da Associação das Mulheres de Paraisópolis).
**5. Para encerrarmos, já que o nome da nossa seção é Role Model, gostaria de saber quem é o seu modelo, em quem você se inspira.**
A minha maior inspiração é minha mãe. Ela tem uma história de vida incrível, precisou superar muitos obstáculos. Então, toda vez que eu estou desanimada, eu me lembro dela e de tudo que ela passou. Penso “estou reclamando do quê?”, e isso me dá energia para seguir em frente. Também me inspiro muito na Ana Fontes, fundadora da Rede Mulher Empreendedora (RME). Assim como eu, Ana é nordestina, cresceu em comunidade, enfrentou e enfrenta desafios até hoje, e continua lutando pelos seus ideais. Ela me inspira demais.