**SAIBA MAIS SOBRE OS SALTON**
**QUEM É DANIEL:** Com 63 anos de idade, ele é membro da terceira geração da família fundadora, que detém aproximadamente 75% do capital da empresa; as demais ações pertencem à família Ribeiro (cerca de 20%) e outros investidores. Daniel trabalha há 38 anos na empresa e era CEO desde 2009, quando sucedeu o primo, Ângelo Salton. Também acumulava o cargo de chairman, que agora mantém.
**QUEM É MAURÍCIO:** Com 35 anos, integra a quarta geração da família Salton e trabalha desde 2005 na empresa, tendo passado por diversas áreas, incluindo a diretoria de operações. É o primeiro integrante dessa geração a ocupar um cargo de alta liderança.
**O QUE É A SALTON:** Fundada em 1910, em Bento Gonçalves (RS), a Salton está entre as maiores produtoras de vinhos e espumantes do Brasil, com produção anual de mais de 8 milhões de garrafas. Os espumantes são seu carro-chefe: de cada dez vendidos no Brasil, quatro são Salton, o que representa 40% de marketshare. A linha de vinhos e espumantes responde por 70% da receita, mas destilados (25%) e bebidas não alcoólicas – como sucos e chás – também integram o portfólio. A expectativa para 2018 é crescer mais de 10% sobre 2017 e, assim, superar os R$ 400 milhões de receita. Em 2008, antes de Daniel, o faturamento era de R$ 180 milhões.
**5 – VOCÊS ANTECIPARAM A SUCESSÃO, PREVISTA PARA OCORRER ENTRE 2016 A 2020, QUANDO DANIEL COMPLETASSE 65 ANOS. O QUE HOUVE E O QUE VIRÁ PELA FRENTE?**
**DANIEL SALTON:** Quando percebi que a empresa estava redonda nas diretrizes de trabalho e bem conduzida no planejamento, pensei: “por que esperar?”. Na verdade, com 38 anos de peleia, cansei. Conversei com os membros do conselho e, embora tenham se surpreendido, todos confiaram na decisão.
Quando assumi como presidente do conselho [2009], mudamos o estatuto e o acordo de acionistas, para a diretoria ser renovada a cada dois anos. Adotamos programas de qualidade e de gestão de pessoas, diversificamos o portfólio. Melhoramos a cada ano. Algumas pessoas foram valorizadas por conta da capacidade de entrega, entre as quais dois funcionários jovens que assumiram como diretores em 2017, e o Maurício, que já era da diretoria e tem um perfil aglutinador, capaz de alinhar o pensamento de todos.
**MAURÍCIO SALTON:** O primeiro desafio que virá é de curto e médio prazo: traduzir o que foi feito nos últimos dez anos em resultados práticos e em uma estrutura competitiva. A empresa investiu mais de R$ 60 milhões em vinhedos, em uma nova unidade em São Paulo e na modernização do parque industrial de Bento Gonçalves (RS). Nosso ciclo produtivo não é de recuperação imediata, pois depende da maturação de vinhedos, da elaboração de produtos e da chegada ao mercado – o que leva cinco, seis anos. Agora temos de colher o que plantamos.
**4 – COMO VOCÊS LIDAM COM A TENSÃO ENTRE JUVENTUDE E MATURIDADE?**
**MAURÍCIO SALTON:** Às vezes, falam “esse é o diretor-presidente”, a pessoa vê alguém com 35 anos e se surpreende. Assim como acontece quando vê um diretor-administrativo com 30 anos. Mas procuramos fazer um trabalho muito qualificado. Não carregamos toda a expertise de quem passou décadas aqui, mas temos base técnica e conhecimento especializado. Esse segmento demanda muita energia e dinamismo, situações que encontram um estilo diferente em gerações mais jovens. Precisávamos ser mais rápidos por circunstâncias de mercado, mas sempre mantendo o valor do passado, aprendendo com a experiência e buscando a proximidade com a geração anterior. Fazemos isso nas conversas do dia a dia, aproveitando o sangue frio dos mais experientes. É importante jamais perder esse laço.
**3 – A EMPRESA JÁ MUDOU MUITO NO SÉCULO 21. SEGUIRÁ MUDANDO NO MESMO RITMO?**
**DANIEL SALTON:** De fato, entramos nos anos 2000 com um pensamento de usar a marca Salton com mais força, de pensar em fazer o melhor vinho do Brasil. Até então estávamos muito em cima do Conhaque Presidente. Essa mudança foi uma conquista do Ângelo [Ângelo Salton, que presidia a empresa e faleceu em 2009], que era muito dinâmico. Daí veio a ideia de fazer uma fábrica nova, inaugurada em 2004, e o foco deixou de estar nos vinhos populares, passando aos finos e aos espumantes. Aumentamos a capacidade de produção, contratamos um enólogo argentino, modificamos métodos e controles, fomos cultivar uvas também na Campanha Gaúcha. Aos poucos a Salton foi saindo do segmento de produtos muito baratos. Na virada do século, houve o boom do espumante, que era uma bebida mais elitizada, usada uma vez por ano ou em casamentos. E teve uma onda de médicos recomendando que as pessoas tomassem vinho tinto. Mudamos a percepção de mercado e tivemos safras fantásticas.
**MAURÍCIO SALTON:** Vamos continuar nesse ritmo, sim. Estamos desdobrando novos projetos de não alcoólicos para 2019. A ideia é desenvolver uma linha mais representativa de produtos com saudabilidade. Na parte de vinhos e espumantes, temos buscado desenvolver itens com geração maior de valor, nos especializando em rótulos exclusivos e diferenciados. No escopo da viticultura mais profissionalizada, vamos lançar um projeto exclusivo ainda em 2018. Trata-se de uma pequena vinícola dentro de uma grande vinícola, como se fosse uma startup, tudo sob o conceito de “lab”, de experimentação.
**2 – ENTÃO, A ESTRATÉGIA É BUSCAR A ATUAÇÃO EM MÚLTIPLOS MERCADOS?**
**MAURÍCIO SALTON:** Sim, apesar de nos conceituarmos como vinícola, temos de nos balizar em frentes distintas – desdobrando novos caminhos em destilados, por exemplo. Precisamos de produtos geradores de caixa, já que a sustentação de uma vinícola é balizada em um ciclo operacional muito longo, o que no Brasil não é nada bom, pois penaliza o fluxo de caixa. Por isso, temos lançamentos recentes e de aceitação muito positiva, como vodca e a linha de não alcoólicos. Atualmente, 70% da receita vêm de vinhos e espumantes, 25% de destilados [o carro-chefe é o Conhaque Presidente] e 5% de não alcoólicos.
**1 – QUAL A DIFERENÇA ENTRE A SUCESSÃO DE 2018 E A DE 2009, QUANDO FOI PRECISO ASSUMIR A PRESIDÊNCIA DE REPENTE, APÓS O FALECIMENTO DE ÂNGELO SALTON?**
**DANIEL SALTON:** Quando assumi, não havia preparação nenhuma para isso. Eu era o diretor comercial, tinha 55 anos e nunca tinha pensado em ser o presidente. O Ângelo era pouca coisa mais velho [tinha 56 anos]. Anos antes havíamos conversado sobre sucessão, sobre preparar a sequência do trabalho e da família, mas ele brincou dizendo “ali pelos 60 anos a gente pensa nisso”. Não deu tempo. Mas isso de planejar a sucessão sempre existiu na minha cabeça e agora aconteceu por conta da confiança que temos na equipe atual. Deu-se o elo entre a terceira e a quarta geração da família.
**MAURÍCIO SALTON:** Numa empresa familiar, alguns pontos se tornam um temperinho a mais, pois é mais difícil estabelecer o que é visão pessoal e o que é profissional. Em 2010, acompanhei a transição e houve um choque de realidades. Até então, a última alteração de estatutos tinha sido feita de maneira informal e fazia mais de 30 anos. Hoje temos tudo mais claro, com o estabelecimento de requisitos para cadeiras de executivos, trazendo pessoas do mercado, adotando boas práticas de gestão. O conselho de administração passou a ter maior relevância, não sendo apenas um conselho de família. A partir deste ano, o diretor-presidente não ocupa mais as duas cadeiras [de CEO e chairman], e esse formato de trabalho flui mais racionalmente. Além disso, contamos com o apoio de empresas independentes que nos assessoram na parte de gestão, com auditoria contábil, fiscal, tributária e estratégica. A governança evoluiu bastante.