ESG, Liderança
3 min de leitura

Segredos para um bom processo de discovery

Tati é sócia-diretora da Ekantika Consultoria e business designer.

Compartilhar:

Com a evolução da agenda de transformação digital e a adoção de metodologias ágeis, as empresas se viram frente ao desafio de gerar ideias, explorar conceitos e definir tamanho de oportunidade de forma exponencial.

Nesta corrida para manter a liderança ou o diferencial competitivo no mercado, gestores têm sido cada vez mais demandados pelos acionistas, executivos e, principalmente, pelos consumidores a apresentarem inovações em ritmo incessante. Neste cenário, é cada vez mais comum nos depararmos com iniciativas que tiveram pouco tempo de amadurecimento e que muitas vezes foram “tiradas da cartola” de alguém.

Podemos citar algumas origens comuns dessas iniciativas, como: “o chefe pediu”; alguém fez uma “imersão em um polo de inovação global (China; Vale do Silício; ou Israel) e voltou com uma ‘grande ideia’; “o cliente está reclamando (via pesquisas de NPS, centrais de atendimento ou mídias sociais) e temos que solucionar aquela dor”; “a concorrência está fazendo (ou já fez)”; ou “um especialista Top Voice do mercado recomendou”.

Times focados em delivery (execução e entrega) e sem espaço para o discovery (descoberta e modelagem) acabam desperdiçando energia e recursos na execução de iniciativas com baixo valor para o negócio. Na maioria das vezes, os motivos para isso são a falta de tempo dedicado a explorar a ideia antes de colocá-la em produção, a falta de clareza de um objetivo estratégico ou ainda a priorização incorreta das inciativas.

Neste ponto, a volta aos princípios básicos do Marketing pode ser crucial para um bom processo de Discovery, que produza resultados eficazes para a transformação do negócio. Para quem não está familiarizado, de forma simplificada, o processo de Discovery é uma abordagem estruturada para explorar novas oportunidades de mercado, identificar problemas e necessidades dos clientes e criar soluções inovadoras que atendam a essas demandas. Este processo é essencial para garantir que os esforços de desenvolvimento de produtos e serviços estejam alinhados às reais necessidades do mercado, minimizando riscos e maximizando o potencial de sucesso.

O método de Discovery é derivado de abordagens como design thinking e service design. No entanto, existem duas etapas cruciais para o sucesso do Discovery que frequentemente são subestimadas: a clareza do propósito inicial e a priorização de iniciativas, a partir de critérios estratégicos.

Clareza do propósito inicial

A pedra fundamental de um Discovery é a clareza do objetivo. Durante todo o processo é essencial manter em mente o motivo pelo qual ele está sendo realizado. Essa definição inicial deve guiar todas as etapas subsequentes.

Um processo de Discovery eficaz começa pelas práticas básicas do Marketing: entendimento do cliente, foco na criação de valor e valoração da oferta. Para entender o cliente, como sabemos, é preciso identificar e segmentar o mercado-alvo, focando em grupos com necessidades e comportamentos similares. Também é importante realizar pesquisas qualitativas e quantitativas, para obter insights sobre as preferências e dores dos clientes. Se não tivermos a clareza do propósito do Discovery que estamos realizando, a chance de nos perdermos ao longo das pesquisas e estudos é alta.

Em seguida, é necessário modelar uma oferta de valor relevante para o cliente e para o negócio, explorando todos os aspectos do novo produto ou serviço, dando um passo além da ideia e tornando tangíveis os elementos que diferenciam a oferta para o cliente frente ao mercado existente.

Por fim, para que a iniciativa avance para a execução, é essencial a valoração da oferta de valor, estipulando o potencial de ganhos versus os investimentos necessários para a tomada de decisão de avançar ou não com a iniciativa. A partir do propósito inicial, as decisões sobre a valoração apresentada são tomadas.

Se estamos realizando um Discovery para ampliar a receita em um novo mercado, por exemplo, o processo só avançará para a execução se a valoração apresentar este potencial de ganho. Nem todo Discovery avançará para o delivery. Se o processo de é iniciado já com a certeza de execução da solução como proposta, ele torna-se desnecessário. E se nos perdemos do propósito inicial ao longo do Discovery, podemos ter um desperdício de recursos organizacionais em esforços não alinhados à estratégia organizacional. Por isso a relevância de um propósito claro desde o início.

Case: Redefinição da estratégia de Canais Digitais

Um caso prático de boa aplicação do processo de Discovery orientado por um propósito claro desde o início – do qual participamos – foi o de uma companhia aérea que enfrentava dois grandes desafios em seus canais digitais: insatisfação dos passageiros e alto custo de atendimento dos canais. A insatisfação se dava por problemas de usabilidade e funcionamento do aplicativo e do site. Já os custos elevados dos canais ocorriam como consequência, uma vez que os passageiros, não conseguindo se servir nos canais digitais, migravam para os canais analógicos (central telefônica e balcão de atendimento). 

Ao revisar o backlog (conjunto de ações para desenvolvimento), encontramos ações priorizadas para a execução com baixo impacto nos pontos críticos mencionados acima, como, por exemplo, o desenvolvimento de biometria para check-in (algo que seria possível de ser aplicado em apenas um aeroporto do Brasil), enquanto funcionalidades básicas, como a alteração das passagens compradas pelo app, não foram priorizadas. A partir disso, ficou clara a falta de visibilidade de pontos críticos nos processos de priorização.

Para virar o jogo, realizamos o Discovery com foco em melhorar a experiência do cliente e reduzir custos de atendimento. Foram identificados e priorizados problemas com base em critérios que incluíam a vocação de cada canal, o impacto na jornada do passageiro e o potencial de redução de custo.

 Ao final do trabalho, os canais digitais foram reestruturados, as prioridades redefinidas e os problemas críticos solucionados, melhorando a experiência dos passageiros e aumentando a eficiência operacional. Essa transformação trouxe não apenas ganhos financeiros a partir do direcionamento do cliente para o canal mais adequado, mas também alinhou as prioridades estratégicas da empresa, resultando em maior satisfação dos passageiros.

Priorização de iniciativas

A segunda etapa crítica do Discovery é a priorização das iniciativas a partir de fundamentos sólidos e conectados ao propósito inicial. Um bom processo de Discovery gera diversas possibilidades que precisam ser priorizadas para a modelagem, testes e execução. Em vez de utilizarmos ferramentas genéricas como esforço x impacto, criamos para cada projeto uma ferramenta de priorização a partir do princípio da engenharia de valor, que traduz esforço e impacto em critérios mensuráveis e tangíveis, e conectados ao propósito inicial do Discovery e estratégia do negócio.

Esse método considera fatores como tempo e investimento para desenvolvimento, complexidade, ganhos diretos e indiretos, e riscos diversos. Exemplo de alguns critérios que podem ser definidos e deverão ser escolhidos frente à estratégia:

ESFORÇO

  • Tempo de desenvolvimento
  • Investimento para desenvolvimento
  • Complexidade (número de áreas envolvidas; necessidade de parceiros externos; desenvolvimento de tecnologias etc.)

IMPACTOS (positivos)

  • Ganhos diretos e indiretos
  • Atendimento do objetivo inicial

RISCOS (opcional – medem o grau de tolerância ao risco que a empresa está disposta a correr para inovar)

  • GUT (gravidade, urgência, tendência)
  • Riscos Jurídicos
  • Riscos de Marca
  • Riscos financeiros

É importante definir pesos e parâmetros para cada elemento a ser avaliado, o que permitirá chegar ao final do processo com um score para cada iniciativa, priorizando assim as ações mais relevantes frente ao objetivo inicial.

Para concluir, trazer método, ferramentas e padronizar o processo de Discovery é fundamental para que possamos tanto ganhar escala nesse processo quanto garantir qualidade e profundidade necessários para aportar cada vez mais valor ao negócio.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Calendário

Não, o ano ainda não acabou!

Em meio à letargia de fim de ano, um chamado à consciência: os últimos dias de 2024 são uma oportunidade valiosa de ressignificar trajetórias e construir propósito.

Uncategorized
Há alguns anos, o modelo de capitalismo praticado no Brasil era saudado como um novo e promissor caminho para o mundo. Com os recentes desdobramentos e a mudança de cenário para a economia mundial, amplia-se a percepção de que o modelo precisa de ajustes que maximizem seus aspectos positivos e minimizem seus riscos

Sérgio Lazzarini

Gestão de Pessoas
Os resultados só chegam a partir das interações e das produções realizadas por pessoas. A estreia da coluna de Karen Monterlei, CEO da Humanecer, chega com provocações intergeracionais e perspectivas tomadas como normais.

Karen Monterlei

Liderança, times e cultura, Cultura organizacional, Gestão de pessoas
Entenda como utilizar a metodologia DISC em quatro pontos e cuidados que você deve tomar no uso deste assessment tão popular nos dias de hoje.

Valéria Pimenta

Inovação
Os Jogos Olímpicos de 2024 acabaram, mas aprendizados do esporte podem ser aplicados à inovação organizacional. Sonhar, planejar, priorizar e ter resiliência para transformar metas em realidade, são pontos que o colunista da HSM Management, Rafael Ferrari, nos traz para alcançar resultados de alto impacto.

Rafael Ferrari

6 min de leitura
Liderança, times e cultura, ESG
Conheça as 4 skills para reforçar sua liderança, a partir das reflexões de Fabiana Ramos, CEO da Pine PR.

Fabiana Ramos

ESG, Empreendedorismo, Transformação Digital
Com a onda de mudanças de datas e festivais sendo cancelados, é hora de repensar se os festivais como conhecemos perdurarão mais tempo ou terão que se reinventar.

Daniela Klaiman

ESG, Inteligência artificial e gestão, Diversidade, Diversidade
Racismo algorítimico deve ser sempre lembrado na medida em que estamos depositando nossa confiança na inteligência artificial. Você já pensou sobre esta necessidade neste futuro próximo?

Dilma Campos

Inovação
A transformação da cultura empresarial para abraçar a inovação pode ser um desafio gigante. Por isso, usar uma estratégia diferente, como conectar a empresa a um hub de inovação, pode ser a chave para desbloquear o potencial criativo e inovador de uma organização.

Juliana Burza

ESG, Diversidade, Diversidade, Liderança, times e cultura, Liderança
Conheça os seis passos necessários para a inserção saudável de indivíduos neuroatípicos em suas empresas, a fim de torná-las também mais sustentáveis.

Marcelo Franco

Lifelong learning
Quais tendências estão sendo vistas e bem recebidas nos novos formatos de aprendizagem nas organizações?

Vanessa Pacheco Amaral