ESG
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Semana Mundial do Meio Ambiente: desafios e oportunidades para a agenda de sustentabilidade

Construímos um universo de possibilidades. Mas a pergunta é: a vida humana está realmente melhor hoje do que 30 anos atrás? Enquanto brasileiros — e guardiões de um dos maiores biomas preservados do planeta — somos chamados a desafiar as retóricas de crescimento e consumo atuais. Se bem endereçados, tais desafios podem nos representar uma vantagem competitiva e um fôlego para o planeta
Sócio-diretor da Muda Cultural.

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Há muito se fala de “sustentabilidade”. Me deparei esta semana com uma conhecida relembrando que, no início dos anos 90, o assunto do momento nas escolas era a Rio 92. Professores de todo país propunham que os alunos desenhassem e pintassem cenários da floresta Amazônica e outros biomas de nosso país. De lá pra cá, parece que o mundo deu uma volta completa e o Brasil volta a ocupar o protagonismo com a chegada COP 30, uma das mais importantes conferências sobre o meio ambiente e a sustentabilidade do nosso planeta Terra. 

Daqui pra lá, há também a sensação de que não houve grandes avanços e que continuamos em um transatlântico desgovernado, ainda reagindo aos efeitos caóticos de 2025. Há não muito tempo se fala a palavra “inovação”, termo que parece realmente muito novo, mas que, de certa forma, apenas tenta condensar nosso fetiche pelos avanços da ciência, da tecnologia e dos modelos de negócio. Claro que a inserção de novos paradigmas e novas demandas ao cada vez mais dinâmico ambiente de startups foi responsável pela criação de novíssimas grandes empresas e pela queda de muitos “gigantes”. Porém, o que devemos nos perguntar é o que efetivamente isso representou para a vida em nosso planeta. 

Inventamos um universo de possibilidades, mas é difícil dizer que estamos em uma posição melhor do que há 30 anos em termos de habitabilidade humana. Como já foi amplamente divulgado na imprensa, em 2024 ultrapassamos a barreira de aquecimento de 1,5º C do planeta — fato que, se consolidado, afetará a vida na Terra de forma irreversível. A vida nos oceanos, nosso principal “produtor” de oxigênio global, talvez nunca esteve tão ameaçada; a viabilidade financeira e econômica de uma transição energética que atenda de forma efetiva às necessidades e a urgência atual nos parece tão distante quanto o telescópio espacial James Webb pode enxergar. Há quem fale em quase US$15 trilhões, segundo dados da Climate Policy Initiative publicados pelo Financial Times, há quem fale em mais de US$100 trilhões até 2050, quantia indecifrável. Enquanto desafios como esses se impõem perante a agenda da viabilidade da vida humana, retóricas como a do crescimento e a do consumo seguem praticamente intactas.

E o Brasil com isso? Nosso país emerge num cenário potencialmente bem posicionado, onde, estranhamente, em um mundo onde a China, que mais investe em energias renováveis no planeta, também é o que mais polui, segundo dados do Climate Watch. Em “oposição”, os EUA, ainda maior potência mundial, vira as costas para qualquer discussão séria sobre sustentabilidade e, desconfio, qualquer discussão séria no geral. Talvez por força do acaso, sem muito planejamento e sem necessariamente uma visão estratégica nacional num primeiro momento, o Brasil atual é dono de uma matriz energética razoavelmente limpa. Possui em seu território um dos maiores biomas preservados do planeta e vem fazendo algumas lições de casa, sobre seu arcabouço regulatório. Isso pode representar uma grande vantagem competitiva e um respiro para todas e todos! Mesmo assim, desafios como o esdrúxulo PL, que versa sobre o licenciamento ambiental e agora tramita no Congresso, representam grandes ameaças ao nosso lugar de autoridade no âmbito da sustentabilidade. 

Nunca se fez tão necessário o planejamento do Estado para que consigamos superar os desafios que nossa existência nos traz. Neste sentido, só em 2024, o Brasil conseguiu tirar do papel — e está colocando em prática — regulações que versam sobre sua economia de créditos de carbono, dando maior segurança jurídica para este mercado. Além disso, finalmente começamos a endereçar um dos nossos grandes problemas: a coleta seletiva. Por meio de uma série de mecanismos que regulamentam a geração e a comercialização de créditos de reciclagem, tentamos estancar o rombo de subvalorização e da falta de confiabilidade do setor. 

Considerando ainda que, em um país em que a porcentagem de reciclagem global dos seus resíduos se aproxima a zero — estamos falando de aproximadamente 4%, segundo dados disponibilizados pela ABRELPE —, o tema por si só já deveria ser tratado como uma das prioridades mais urgentes. Nesse contexto, foi regulamentada a Lei da Reciclagem, mecanismo que viabiliza investimentos na cadeia da reciclagem por meio da destinação fiscal de empresas em território nacional. Mais do que uma formalidade legal, trata-se de um movimento que começa a dar forma ao que faltava: segurança jurídica, confiança nos setores estratégicos ligados à sustentabilidade e, principalmente, recursos. Só no primeiro ano, segundo o Governo Federal, mais de R$300 milhões foram injetados diretamente por meio de incentivos fiscais via Lei da Reciclagem. É pouco, mas é algo concreto.

Temos tentado trabalhar a transição para uma matriz energética 100% “limpa” através de esforços no mercado de energias renováveis, como eólica e solar, com regulamentações sobre o mercado livre de energia e outras estruturas. Além disso, muito tem se falado — e investido — em um futuro hidrogênio “verde”, uma aposta que poderá se consolidar como uma matriz energética importante em alguns anos. Também não podemos nos esquecer do etanol, que chegou à sua segunda geração, graças a esforços de importantes órgãos de pesquisa e inovação estatais como a EMBRAPA. Esta sim uma realidade que já mostra o potencial do Brasil como produtor de biocombustíveis “limpos” e como liderança nos desafios de uma transição para a produção de energia cada vez mais sustentável. 

Como desafios, somamos a estes pontos o início das pesquisas para exploração de um dos maiores campos de petróleo em alto mar descobertos até o momento, na região Norte, assim como a proposição de financiamentos relevantes para a construção de novas usinas de carvão em nosso território. Mazelas impulsionadas pela falta de planejamento e pela ânsia do crescimento e do consumo. 

Apesar dessas contradições, vivemos em um país que, ao menos, quer discutir e tentar endereçar de forma efetiva questões triviais para o planeta, com investimentos que viabilizem minimamente um ambiente de inovação sustentável. Um Brasil que precisa, cada vez mais, fazer da sustentabilidade uma “arma” em um mundo que, a cada dia, caminha rumo à insustentabilidade. De certa forma, seguimos remando um pouco (não muito) contra a maré, sabendo que uma ou poucas andorinhas não farão verão. De toda forma, nosso primeiro objetivo é apenas tentar passar por este inverno, na esperança de que as próximas gerações receberão de nós um planeta “minimamente” funcional e habitável.

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