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Será possível pensar um futuro que não seja sustentável para todos?

Para responder à pergunta, temos de refletir sobre o mundo em que vivemos atualmente, sem esquecer que o planeta não precisa ser salvo: nós, os humanos, é que devemos tomar cuidado e fazer nossa parte.

Leonardo Lima

Leonardo Lima, diretor de Desenvolvimento Sustentável e Compromisso Social do McDonald’s Brasil

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cada dia que passa – e o tempo segue o mesmo, ou seja, o dia continua com suas 24 horas –, temos a impressão de que ele passa mais rápido e que não damos conta do que temos de fazer. 

Uma agonia toma conta de todos, porque a velocidade em que vivemos exige ] que cada vez façamos mais e em menos tempo. Nosso cérebro trabalha mesmo quando não queremos, porque fica difícil desligar, sabendo que cada segundo conta e que  fará falta no final. 

Dessa forma, vivemos como avestruzes que passam todo o tempo ciscando para sua nutrição, e não nos damos conta de que o entorno está mudando muito rápido e que possivelmente vai faltar alimento para sua própria sobrevivência.

Somos levados a trabalhar focados em nossa atividade, seja ela qual for, achando que do restante alguém vai dar conta – na empresa, na organização para a qual trabalhamos, no bairro, na cidade ou mesmo no país. Não é assim? 

Mas o entorno vem mudando e cada vez mais vejo que não estamos preparados para lidar com as mudanças que ele acarretará, ou melhor, já vem acarretando.

Tão focados estamos no curto prazo e nas atividades que temos de dar conta hoje que estamos deixando de lado um olhar mais sistêmico e fora da caixa do que está acontecendo. É dentro desse contexto que precisamos buscar responder à pergunta feita no início.

Vejamos alguns dados interessantes, e que merecem uma análise um pouco mais profunda. Vivemos no planeta Terra, que já tem 4,54 bilhões de anos de existência, contra aproximadamente 200 mil anos do que conhecemos como homo sapiens. Esse dado nos mostra que o planeta seguirá por vários bilhões de anos mais e que, na realidade, por mais que escutemos “save the planet”, os dados matemáticos nos mostram que seguramente ele não precisa ser salvo. 

**BEM, SE O PLANETA NÃO PRECISA SER SALVO, QUEM PRECISA?**

A meu ver, claramente vivemos um ponto bem importante de nossa história, e podemos ser protagonistas ou não do que poderá acontecer nesta e em futuras gerações.  Precisamos definir que tipo de vida queremos ter no planeta que não precisa ser salvo, a menos que seja para que todos tenhamos melhores oportunidades de vida. Mas aqui começa uma das muitas equações complexas que temos de resolver como humanidade.

De novo, creio que nosso modelo de vida não ajuda muito, dado que estamos tão focados no agora, que não paramos para pensar que não somos educados para viver o hoje e muito menos o amanhã.

Se vivo em um planeta com outros 7,2 bilhões de seres similares a mim e desconheço que teremos a companhia de mais 1,8 bilhão em não mais de 30 anos, já começamos a ter um problema bem significativo. Se também desconheço que, dos 7,2 bilhões de seres, aproximadamente 800 milhões não terão garantia de alimentação para seu próximo dia de vida, temos um dado ainda mais preocupante, já que todos deveriam ter acesso à alimentação básica.

Mas se também vivo nesse planeta e desconheço que um terço de toda a comida produzida é perdida, desde o campo até a mesa de quem a vai consumir, como ter posições ou iniciativas diferentes das que tenho hoje?

A essa equação complexa ainda podemos incluir ingredientes como a escassez de água potável para milhões de pessoas e a falta de saneamento básico, que gera numerosos casos de doenças, colapsando os sistemas de saúde de vários países. 

Se voltarmos aos ingredientes da equação a resolver, como alimentar mais 1,8 bilhão de habitantes perdendo um terço de tudo o que é produzido, sem invadir as áreas de biodiversidade restantes no planeta? É nesse ponto que o componente ambiental fala alto e vemos discussões acaloradas do que fazer, produzir ou proteger. Seguramente temos de buscar e encontrar soluções para os dois. 

Outro dado que não é menor refere-se a nosso estilo de consumo, exagerado, no qual consumimos mais do que necessitamos. Seja o que for, a balança será positiva, o que acarreta enorme pressão nos ativos do planeta, sejam eles quais forem. E também somos doutores em descarte. Descartamos tudo, num ritmo frenético de consumo ao som da marchinha da Economia Linear: compro, uso, não penso, descarto onde seja. E vou vivendo. 

Claramente necessitamos pensar em algo melhor que possa substituir essa marchinha que já está fora de moda há anos, mas que nos recusamos a enxergar.  

Algumas estatísticas apontam que nós, do alto de nossa sabedoria como único ser inteligente do planeta, descartamos, em média, um quilo de resíduo por dia. Lembrando que somos 7,2 bilhões hoje e que seremos por volta de 9 bilhões em 2050. 

Necessitamos sepultar a economia linear e substituí-la por outra, que seja no mínimo circular, e com a qual não desperdicemos recursos que serão cada vez mais escassos. Sem falar nas emissões de gases de efeito estufa resultantes das marchinhas do passado.

Felizmente, o mundo como um todo, e representado pelas Nações Unidas, está trabalhando a agenda do Desenvolvimento Sustentável com três grandes objetivos: eliminar a fome, reduzir a desigualdade e combater a mudança climática, a partir dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. 

Confesso que, dos 17, sou fã dos objetivos 4, que trata da educação de qualidade, e 17, que promove ações em conjunto para resolver os outros 16 objetivos. 

No meu entender, o mundo deve ser sustentável para todos sim, sem nenhuma dúvida. E o fator que pode e deve mudar chama-se educação. Com ela eliminamos a desculpa de que não sabíamos, de que desconhecíamos ter um problema. 

Obviamente, não creio que somente com educação resolveremos os problemas urgentes que enfrentamos como sociedade, mas jogamos luz onde aparentemente só há escuridão. 

Também acredito que temos de rever nossos sistemas de educação, pensando no olhar para frente e não pelo retrovisor, com sistemas de educação arcaicos. E, principalmente, precisamos educar para viver e entender o mundo atual. Tenho trabalhado com modelos de educação nos quais os educandos saem conscientes de sua responsabilidade e já começam a realizar mudanças significativas para a sociedade. 

E o outro fator que não devemos desprezar é eliminar o conceito de que alguém vai resolver. Para termos um mundo e uma vida sustentável para todos a hora de começar a fazer algo é agora, no curto prazo, mas sempre com o propósito do médio e longo prazo. Cada um de nós é responsável. 

Temos uma grande responsabilidade, hoje e amanhã. Afinal de contas, nos intitulamos os seres inteligentes do planeta. Até quando?

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