Uncategorized

Seu filho será mais pobre do que você

Além da desigualdade de renda clássica entre diferentes famílias, a mesma família vem registrando renda estagnada ou em queda por dez anos; é preciso tomar quatro medidas que podem amenizar a tendência, ou a globalização sairá perdendo
Este estudo, aqui traduzido em linguagem visual, foi realizado por Rishi Kanr, Eric Kutcher e Mitra Mahdavian, da consultoria McKinsey, sediados no escritório do Vale do Silício, com colaboração de Yubing Ji e James Manyika. O texto em que HSM Management se baseou foi publicado na McKinsey Quarterly.

Compartilhar:

Nos últimos anos, o mundo todo assistiu a uma interrupção abrupta da tendência de crescimento da renda das famílias, o que contribuiu para o aumento da desigualdade. 

Nosso estudo mostra que, em 2014, entre 65% e 70% das famílias das 25 economias mais desenvolvidas se encontravam em faixas de renda cujos ganhos reais, provenientes de salário e capital, estavam estagnados ou haviam caído em relação a 2005. Na Itália, entre 2005 e 2014, 100% dos domicílios não tiveram nenhum aumento de renda ou registraram queda. Na França, na Holanda, no Reino Unido e nos Estados Unidos, o percentual sem avanço ou com queda variou de 60% a 80%. 

A forte recessão que se seguiu à crise financeira de 2008 e a lenta recuperação econômica a partir daí são causas importantes desse fenômeno. No entanto, descobrimos que fatores mais profundos, relacionados com aspectos demográficos e do mercado de trabalho, têm papel fundamental – e devem continuar a ter, ainda que o crescimento ganhe força. Esses fatores incluem o encolhimento das famílias, a redução da parcela do PIB destinada a salários e o aumento da automação do ambiente de trabalho. Mesmo no período de 2005 a 2014, a renda na maioria dos países que estudamos teria apresentado uma ligeira alta sem essas mudanças. 

Nossas pesquisas revelam o pessimismo dos 30% a 40% que veem sua estagnação; eles projetam um futuro pior para si e para seus filhos. A consequência potencial desse achatamento da renda familiar é corrosiva: desperta sentimentos como rejeição acentuada ao comércio e aos imigrantes, por exemplo – e a globalização é diretamente ameaçada. 

Não há como ser otimista em relação ao futuro do planeta diante dessas tendências. 

**O QUE PODERIA SER FEITO**

Para as lideranças governamentais e empresariais, tentar reverter esse quadro de declínio da renda e aumento da desigualdade pode demandar escolhas difíceis. Por exemplo, políticas que estimulem maior produtividade talvez não ajudem a reduzir a desigualdade, e esforços para alcançar melhor distribuição de renda podem, muitas vezes, inibir o movimento que leva ao crescimento da produtividade. A McKinsey sugere quatro medidas que devem ao menos estimular as discussões: 

**1 C****RIAR FERRAMENTAS DE MENSURAÇÃO PARA CALIBRAR A EXTENSÃO E A EVOLUÇÃO DO FENÔMENO DA RENDA ESTAGNADA OU EM QUEDA.** Será cada vez mais necessário contar com métricas específicas, que ainda não estão disponíveis na maioria dos países. 

**2 ESTIMULAR O CRESCIMENTO E UM AMBIENTE DE NEGÓCIOS QUE LEVE À CRIAÇÃO DE MAIS EMPREGOS.** A retomada do crescimento de maneira vigorosa é essencial para o aumento da renda, mesmo diante de mudanças demográficas e no mercado de trabalho. Em contrapartida, se o baixo crescimento se torna “normal”, o fenômeno da renda estagnada ou em queda pode se tornar permanente. 

**3 ADOTAR MEDIDAS A FAVOR DE FAMÍLIAS MAIS VULNERÁVEIS.** Independentemente das medidas gerais, ações específicas devem ser destinadas aos segmentos de maior risco, incluindo jovens com baixa escolaridade, mulheres e trabalhadores mais velhos. 

**4 UTILIZAR OS IMPOSTOS E AS POLÍTICAS SOCIAIS PARA PROTEGER O CRESCIMENTO DA RENDA.** Mais do que adotar programas de redistribuição de renda de largo espectro, os governos podem utilizar ferramentas voltadas para segmentos específicos. Por exemplo, para favorecer domicílios de renda mais baixa, um sistema de transporte público talvez deva ser priorizado em detrimento de uma rodovia. 

**O PAPEL ESPECÍFICO DAS EMPRESAS**

Os líderes empresariais podem advogar a favor da retomada dos investimentos e do crescimento necessários para que se volte a criar empregos. Também está ao alcance deles reconhecer que pagar melhores salários e adotar a distribuição de lucros são iniciativas bem-vindas, uma vez que contribuem para aumentar a renda “líquida” dos colaboradores e, ao mesmo tempo, elevar sua produtividade e lealdade (e consumo). Os líderes ainda têm condições de mudar o jogo se começarem a contratar mais mulheres e trabalhadores veteranos. Eles são influentes e não estão de mãos atadas.

Compartilhar:

Artigos relacionados

DNA corporativo: impacto do sistema familiar nos negócios

A história familiar molda silenciosamente as decisões dos líderes, influenciando desde a comunicação até a gestão de conflitos. Reconhecer esses padrões é essencial para criar lideranças mais conscientes e organizações mais saudáveis.

Tecnologias exponenciais
No SXSW 2025, a robótica ganhou destaque como tecnologia transformadora, com aplicações que vão da saúde e criatividade à exploração espacial, mas ainda enfrenta desafios de escalabilidade e adaptação ao mundo real.

Renate Fuchs

6 min de leitura
Inovação
No SXSW 2025, Flavio Pripas, General Partner da Staged Ventures, reflete sobre IA como ferramenta para conexões humanas, inovação responsável e um futuro de abundância tecnológica.

Flávio Pripas

5 min de leitura
Empreendedorismo
Em um mundo de incertezas, os conselhos de administração precisam ser estratégicos, transparentes e ágeis, atuando em parceria com CEOs para enfrentar desafios como ESG, governança de dados e dilemas éticos da IA

Sérgio Simões

6 min de leitura
Liderança
A Inteligência Artificial está transformando o mercado de trabalho, mas em vez de substituir humanos, deve ser vista como uma aliada que amplia competências e libera tempo para atividades criativas e estratégicas, valorizando a inteligência única do ser humano.

Jussara Dutra

4 min de leitura
Gestão de Pessoas
A história familiar molda silenciosamente as decisões dos líderes, influenciando desde a comunicação até a gestão de conflitos. Reconhecer esses padrões é essencial para criar lideranças mais conscientes e organizações mais saudáveis.

Vanda Lohn

5 min de leitura
Empreendedorismo
Afinal, o SXSW é um evento de quem vai, mas também de quem se permite aprender com ele de qualquer lugar do mundo – e, mais importante, transformar esses insights em ações que realmente façam sentido aqui no Brasil.

Dilma Campos

6 min de leitura
Gestão de Pessoas
O aprendizado está mudando, e a forma de reconhecer habilidades também! Micro-credenciais, certificados e badges digitais ajudam a validar competências de forma flexível e alinhada às demandas do mercado. Mas qual a diferença entre eles e como podem impulsionar carreiras e instituições de ensino?

Carolina Ferrés

9 min de leitura
Inovação
O papel do design nem sempre recebe o mérito necessário. Há ainda quem pense que se trata de uma área do conhecimento que é complexa em termos estéticos, mas esse pensamento acaba perdendo a riqueza de detalhes que é compreender as capacidades cognoscíveis que nós possuímos.

Rafael Ferrari

8 min de leitura
Inovação
Depois de quatro dias de evento, Rafael Ferrari, colunista e correspondente nos trouxe suas reflexões sobre o evento. O que esperar dos próximos dias?

Rafael Ferrari

12 min de leitura
ESG
Este artigo convida os profissionais a reimaginarem a fofoca — não como um tabu, mas como uma estratégia de comunicação refinada que reflete a necessidade humana fundamental de se conectar, compreender e navegar em paisagens sociais complexas.

Rafael Ferrari

7 min de leitura