Dossiê HSM

Seu repertório é elástico?

Quanto mais livros, museus, peças teatrais e outros produtos culturais você saborear, maior será sua vantagem competitiva profissionaL. Entenda por quê

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Certa manhã, ao despertar de sonhos intranquilos, Gregor Samsa viu-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso. À primeira vista, imaginou ser apenas um insólito contratempo. Mas o tempo passou, e ficou claro que a nova aparência seria irrevogável, afetando toda a família. Esse é o mote de A metamorfose, a mais célebre obra de Franz Kafka. “Nas empresas, acontecem coisas parecidas”, compara Cássio Pantaleoni, vice-presidente de digital experience sales da Adobe. “Como Gregor Samsa, que da noite para o dia virou inseto, as empresas vão deparar inesperadamente com bugs, desafios ou novidades que mudarão o curso dos negócios. Foi assim com a transformação digital, por exemplo”, diz ele, que também é escritor e mestre em filosofia.

A referência pode soar tão inusitada quanto o destino de Samsa. No mundo corporativo, prevalecem menções a autores e livros de empreendedorismo, gestão, finanças, psicologia organizacional, motivação. E quanto a Kafka, Hemingway, Tchekov? Nem tanto. Empresários, executivos – incluindo os C-levels–, líderes e gestores em geral não costumam ser leitores de ficção. Mas, uma vez que a pessoa se habitua a contos e romances, não consegue deixar de fazer isso – por prazer e por pragmatismo. “Como lido com clientes e colaboradores, a ficção é essencial para mim. É uma das melhores maneiras para decifrar a natureza humana e desenvolver empatia”, explica Arthur Mello, sócio da Vita Investimentos, que diversificou sua carteira ano passado investindo numa livraria.

Um experimento recente de dois professores de MBA corrobora essa visão. Christine Seifert, do Westminster College, e Russell Clayton, do Muma College of Business da University of South Florida, propuseram uma pequena alteração curricular. Além de realizar estudos de caso com base em publicações de negócios, pediram aos alunos que debatessem histórias de ficção – especialmente contos. A conclusão foi de que a literatura tornava os alunos mais conscientes e reflexivos, fortalecendo habilidades e competências cada vez mais buscadas pelas organizações – as famosas soft skills. “O exercício levou os estudantes a discutirem empatia, responsabilidade social e liderança com mais profundidade do que aqueles cujas aulas não contavam com literatura”, relataram os pesquisadores em artigo publicado em fevereiro.

Iniciativas parecidas, que fomentam a arte no mundo dos negócios, florescem em várias escolas de MBA. Na London Business School, grupos de executivos se preparam para enfrentar tempos de incertezas participando de sessões de jazz. A ideia é que a experiência ao piano (mesmo para quem jamais relou em um) estimula a “mente de iniciante”, desligando o hábito de pensar no piloto automático. Na Warwick Business School, também no Reino Unido, alunos de um MBA executivo treinam cenas de peças de Shakespeare para aprender a lidar com dilemas éticos e morais.

A IESE Business School, da Espanha, oferece uma “experiência de Gaudí”. Por meio de um workshop e um tour pela Sagrada Família – a basílica projetada por Antoni Gaudí, em Barcelona, e até hoje inacabada –, os alunos refletem sobre como o arquiteto convenceu as lideranças locais a construí-la, e como o projeto evoluiu nos últimos 100 anos. Na IESE também há cursos de educação executiva com classes voltadas ao debate literário.

O fascínio pelas artes, e sobretudo pela literatura, é um traço comum aos grandes líderes políticos e empresariais. Elon Musk, CEO da SpaceX e da Tesla, diz que aprendeu a construir foguetes lendo livros. O filantropo Bill Gates, fundador da Microsoft e conhecido por ser um leitor voraz até hoje, costumava ler as obras preferidas de seus professores quando estudante. Jeff Bezos, fundador da Amazon, é outro que sempre andou com livros a tiracolo – “Alexa”, nome da inteligência artificial desenvolvida pela empresa, é uma homenagem à famosa biblioteca de Alexandria, no Egito. Já o ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama afirmou que a principal fonte de equilíbrio e inspiração durante seus oito anos na Casa Branca foram os livros.

“É isso o que diferencia esses caras”, diz Rubens Pimentel, sócio da Trajeto Empresarial, que faz coaching de líderes e empresas. “Mesmo que você esteja olhando para a mesma coisa que o Obama, a visão dele será diferenciada, abrangente e de impacto. Isso, justamente por causa do repertório, do contato que ele tem com a arte.” E aqui não entram só livros. A ampliação da bagagem cultural e artística pode envolver dança – e dançar. Ou frequentar teatros, cantar, tocar um instrumento, visitar museus, ir ao cinema, ver filmes em casa, ouvir música, ser interessado em ciência. E até simplesmente contemplar o pôr do sol.
O problema é que boa parte dos gestores, diretores e C-levels no Brasil não consome muita cultura “inútil”. É o que revela uma pesquisa inédita realizada pelo Talenses Group a pedido de HSM Management. Os resultados, como a baixa frequência de leitura extratrabalho, não surpreendem Pimentel. “Às vezes, em meio às minhas sessões, eu indico um livro e a pessoa rebate dizendo que não tem o hábito de ler. Ou já pede um resumo.” Outro dia, o consultor citou uma série de quadros, os “Lírios Aquáticos”, de Claude Monet. O executivo com quem ele falava, contudo, não sabia nada sobre o pintor. “Poxa”, desabafou Pimentel, “se eu tivesse citado um artista novo, tudo bem. Mas Monet?”.

## A razão do desinteresse
“O desprestígio à cultura é histórico no Brasil”, lamenta Renato Janine Ribeiro, professor titular de ética e filosofia política da Universidade de São Paulo. Ex-ministro da Educação, ele afirma que o atraso no setor está diretamente ligado a um contexto cultural considerado decepcionante. De fato: no século 19, enquanto Prússia, Inglaterra e Estados Unidos davam passos largos rumo à escolarização, o Brasil engatinhava. Estima-se que, na virada do século 20, apenas 15% dos brasileiros com idade escolar estudavam. Nessa altura, para efeito de comparação, 90% dos americanos já frequentavam os bancos escolares. Até 1808, não havia universidades nem imprensa no País.

Os indicadores nacionais melhoraram nas décadas seguintes, mas não a ponto de resultar em um alto letramento. De acordo com o Pisa, exame da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) aplicado em jovens de 15 anos, o nível de leitura dos brasileiros é “sofrível”. Metade dos estudantes nem sequer consegue identificar a ideia principal de um texto de extensão moderada, encontrar informações solicitadas e refletir sobre o propósito do conteúdo e sua forma. Assim, o Brasil ocupa a 57ª colocação em um ranking de leitura composto por 79 países ou regiões. Segundo um estudo de 2018 do Banco Mundial, se o Brasil mantiver o ritmo de evolução atual, serão precisos 260 anos para alcançar o nível de leitura dos países desenvolvidos.

O fracasso histórico se reflete na sociedade de modo geral e pode explicar o pouco apreço das nossas lideranças empresariais pelo conhecimento, diferentemente do que ocorre em outros países. O que eles valorizam no lugar disso? “O capital social”, afirma a jornalista Ana Paula Sousa, doutora em sociologia da cultura pela Unicamp. Segundo ela, o capital social sempre teve mais valor no Brasil; ser bem relacionado é o que abre portas. “Ser culto, por outro lado, pode até desvalorizar o profissional em determinados ambientes, onde a arte é vista como algo superior e arrogante.”

Porém, antes de pensar na nossa síndrome de vira-lata, como definiu Nelson Rodrigues, saiba que o Brasil não está sozinho nessa. Segundo o empresário argentino Nelson Duboscq, CEO e cofundador da Digital House, a apatia cultural entre os executivos ultrapassa as fronteiras. Seus conterrâneos estão no mesmo barco. “A diferença é que a nossa cultura corporativa é mais europeia, no sentido de ser mais teórica. O brasileiro, como o americano, é mais executor”, explica Duboscq, que atende a várias empresas no Brasil.

Não há mal nenhum em ser objetivo, prático e especialista. A questão é que manter apenas esse estilo profissional favorece o mindset mecanizado. Ele asfixia a inovação e deixa o executivo refém de fórmulas prontas e de respostas de mão beijada – como a moral da história das séries de streaming e dos filmes de super-heróis, os reports mastigados e as obras de autoajuda. Tudo isso “é um convite à ignorância e à acomodação de um bom senso medíocre. Embora promovidos como se levassem à reflexão, eles destroem a criatividade ao reproduzir pensamentos genéricos”, diz o psicanalista Jorge Forbes. Para ele, os executivos estão acomodados demais nessa posição.

Também estão ocupados em demasia. Que se reconheça: o excesso de tarefas é intrínseco aos tomadores de decisão. Mas, nos últimos anos, com a crescente instabilidade política, econômica, social e sanitária, os gestores brasileiros parecem mais assoberbados que o normal. “Há tantos problemas a resolver que simplesmente não sobra tempo para atividades lúdicas, aprendizados e autodesenvolvimento”, comenta Luiz Valente, CEO do Talenses Group, responsável pelo mapeamento de repertório. Ele acredita que um esforço do RH poderia reverter o quadro. Porém, até mesmo a mais humana de todas as áreas de uma empresa tem dificuldade para medir e valorizar o capital cultural. “De certa forma, ainda prevalece o RH mais tradicional, que valoriza o job description, a competência técnica, o conhecimento setorial e a reputação do executivo”, diz Valente.

## Como aumentar o repertório com livros
Focando apenas os livros, a maior das nossas fragilidades culturais, segundo a pesquisa, é preciso ir além – muito além – dos título de gestão. As fontes ouvidas para esta reportagem são unânimes em dizer isso. Mas como começar? O consultor de empresas Rubens Pimentel recomenda que seja um esforço de equipe, inspirado em seu professor do 5º ano. Na época, ele e os colegas achavam a leitura uma tarefa tediosa. “Os meninos também eram bastante competitivos com as meninas naquela época”, relembra. Aproveitando-se disso, o professor dividia a classe entre gêneros. Depois passava a missão: em vez de aplicar uma prova, promovia um quiz sobre personagens e situações de livros em que os adolescentes se identificavam. “A gente não gostava de perder para as meninas, então líamos com muita atenção.” Certa vez, as garotas foram designadas a ler As filhas do dr. March, de Louisa May Alcott. Já os garotos ficaram com Os meninos da rua Paulo, um romance de Ferenc Molnár. Ao fim daquele ano, a turma leu dez livros. Pimentel diz que os executivos podem fazer algo assim.

Considere também fazer como os professores de MBAs citados no começo desta reportagem: peça aos liderados que leiam um conto, um livro ficcional clássico ou de não ficção. Então promova um debate a respeito da obra, nem que seja de meia hora, tentando extrair lições a serem aplicadas na rotina da equipe. Se você sentir que terá dificuldades em dirigir a discussão, não hesite em convidar um profissional. O psicanalista Jorge Forbes, por exemplo, recentemente foi contratado por uma multinacional americana – cuja unidade brasileira tem 13 mil funcionários – para realizar conversas semanais com os funcionários.
Outra sugestão: ao premiar um colaborador ou um time, não fique só nas viagens, nos eletrônicos ou em bônus financeiros. Presenteie os colaboradores com livros e ingressos para conferências, cinema, teatro e exposições de arte. Vai valer a pena. “A arte contemporânea nos expõe a ambivalências e ambiguidades que nos ajudam a lidar com as incertezas cada vez mais comuns neste novo normal”, afirma Ricardo Carvalho, professor da Fundação Dom Cabral.

Individualmente, o que se pode fazer para ganhar tração de leitura? Para começar, a sugestão é listar assuntos que mais agradam. Você gosta de futebol? Vale procurar obras sobre a história das Copas do Mundo de Futebol, ou a biografia de ex-jogadores ou de técnicos. É mais chegado à gastronomia? Aprenda sobre a culinária de outros países, sobre a evolução dos utensílios de cozinha, ou então leia biografias de grandes chefs. Ao lidar com temas familiares, o desenvolvimento do repertório cultural torna-se um processo mais divertido – e não uma obrigação.

A segunda orientação é começar pequeno. Ou seja, não precisa pegar um livro enorme, nem ler um mundaréu de páginas em uma sentada só. Você pode predeterminar um tempo específico de leitura, algo como 10 minutos por dia, ou mesmo um número X de páginas. Calcule: dez páginas por dia são 300 por mês – o tamanho de um livro médio. Ao fim de um ano, o resultado são 12 livros. Não parece tão complexo assim, parece?

A terceira recomendação é, possivelmente, a mais relevante de todas: constância. Defina na agenda um momento para a leitura e mantenha o ritmo. Com o correr dos dias, você perceberá que a leitura estará exercitando seu músculo ocular, desenvolvendo seu processo mental e blindando você das distrações – como as notificações do celular. “Ao fim, você vai ultrapassar aquele limite de leitura predeterminado e terá lido vários livros”, incentiva Pimentel.
Luiz Valente, do Talenses, sugere o autoestímulo por meio dos prováveis resultados futuros. Por exemplo, ele lembra que as melhores práticas de gestão, hoje, passam longe dos perfis de liderança controladores, carrascos e diretivos. “O bom líder é um mentor, um agente de influência e inspiração relevante para a organização. E só é possível ser assim quando se é bem-informado e se bebe de diferentes fontes de conhecimento.”

## Hora de sermos elásticos
Dallin H. Oaks é ex-assessor jurídico da Suprema Corte dos Estados Unidos e um proeminente líder religioso. Certa vez, ele compartilhou uma história sobre dois homens que criaram um pequeno negócio. Era uma barraquinha à beira de uma estrada movimentada. Eles possuíam também um caminhão. Com o veículo, dirigiam até uma fazenda, de onde voltaram carregados de melões. Haviam pagado US$ 1 por melão. Na venda, a fruta também saía a US$ 1 ao consumidor. Quando o estoque terminava, regressavam à fazenda para comprar mais melões. De novo, a US$ 1 cada. E para vendê-los a US$ 1 também. Quando se aprumavam para um novo carregamento, um dos sócios disse ao outro: “Não estamos ganhando muito dinheiro nesse negócio, estamos?”. “Não, não estamos”, respondeu. “Será que precisamos de um caminhão maior?”.

Essa história é boa porque ilustra o malefício da ignorância e seu impacto na gestão do tempo. Muitos atribuem o fato de não ampliarem o repertório cultural ao tempo ser inelástico – o dia tem “só” 24 horas e há muito por fazer. Repertório, porém, dá elasticidade ao tempo. Além disso, há a questão da finalidade. Embora o historiador Yuval Harari reconheça que investir tempo em um conteúdo desconhecido – e sem uso imediato no cotidiano – é um “privilégio”, ele diz que isso está virando necessidade profissional.

É NECESSÁRIO “EXPERIMENTAR CAMINHOS IMPRODUTIVOS, explorar becos sem saída, abrir espaço para as dúvidas e o tédio, e permitir que pequenas sementes de ideias cresçam lentamente e floresçam”, escreve Harari em 21 lições para o século 21.
Do contrário, as pessoas vão acordar em uma bela manhã, e verão que sua carreira simplesmente não existe mais – como Gregors Samsas da vida real.

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A literatura e Arthur Mello

Conheça o leitor serial que investe no mercado financeiro e numa livraria

Tem algo de diferente no currículo de Arthur Mello. Aos 39 anos, ele já passou pela sociedade do Banco Pátria e hoje é sócio da Vita Investimentos, uma consultoria financeira. Mas também é sócio da Megafauna, livraria inaugurada no histórico edifício Copan, no centro de São Paulo (SP) no fim de 2020 para oferecer programaçao cultural voltada à difusão da literatura, das artes e das ciências.

O empreendimento era um sonho antigo. Formado em engenharia civil na USP e mestre em economia e finanças pela FGV, ele agora está ampliando horizontes. Isso porque Mello integra uma turma na pós-graduação de Formação de Escritores, no Instituto Vera Cruz.

Apesar de serem dois mundos distintos, a literatura e os negócios sempre estiveram presentes em sua vida. “Tive uma formação que incentivou muito a leitura e a cultura. Meus pais, que leem muito, sempre me levaram a livrarias, bibliotecas e Bienais do Livro”, relembra ele, filho de engenheiros.

Para Mello, ler é um exercício diário. Sua média é de 60 páginas por dia, o que resulta em pelo menos um livro por semana. Em 2020, por exemplo, foram 74 obras lidas, dos mais variados gêneros – de ensaios e ficção às histórias em quadrinhos. Mello lamenta o fato de que poucos empresários e executivos cultivam esse hábito. Para ele, afinal, consumir um conteúdo externo ao mundo dos negócios qualifica o profissional para enfrentar desafios diários.

Ele compara: como falar em inserção de mulheres no mercado de trabalho sem ler Rebeca Solnit? Como compreender racismo sem ler Paulo Scott?
“A melhor maneira de entender como as pessoas se comportam é lendo ficção”, sintetiza Mello.

Ele reconhece a existência de ótimas obras sobre negócios, incluindo biografias inspiradoras, mas diz que, ao sair do casulo que é o mundo business, o líder se torna mais conectado a tudo à sua volta.

Novos meios de facilitação cultural

À medida que o letramento cultural passar a ser mais valorizado, ganham força os cursos e clubes que se dedicam a isso – os de artes plásticas são mais procurados

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O letramento cultural deve, no médio prazo, ganhar tração no Brasil. Se antes dependia principalmente de as pessoas terem bons exemplos a seguir em casa, agora ele tem um contexto estruturante. Não apenas é uma das 16 habilidades do futuro listadas pelo Fórum Econômico Mundial como também a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que entrou em vigor em 2019, determinou que essa competência seja obrigatoriamente desenvolvida nas salas de aula brasileiras, por meio de conhecimentos e de práticas. O objetivo? Que os alunos aprendam a valorizar as diversas manifestações artísticas e culturais, e a participar delas, seja no contexto local ou no mundial. Participar significa adquirir o hábito de consumir cultura.

Se “pegar” de fato, a exigência da BNCC pode conferir uma desvantagem competitiva aos representantes das gerações anteriores. Porém, há vários caminhos para o letramento tardio. Os cursos livres são um deles. A Casa do Saber, fundada em 2004 em São Paulo, é uma das instituições que organiza cursos que vão de filosofia a história do cinema. Ela e a Perestroika, fundada em 2007 em Porto Alegre, têm o público executivo como um dos principais clientes. E o fato de ambas seguirem ativas apesar da pandemia é um termômetro do interesse dos gestores mais experientes em se letrar.

Clubes de assinatura para adultos e também para crianças têm crescido muito. A TAG, de Porto Alegre, oferece mensalmente não só um livro, mas uma curadoria de leitura. Para crianças, Leiturinha, A Taba e Clube Quindim selecionam livros mensalmente conforme a faixa etária e entregam a crianças de todo o Brasil.

O mundo dos negócios dedica atenção especial às artes plásticas, que são tanto repertório cultural como investimento, além de símbolo de status. No Brasil, a Fundação Dom Cabral (FDC) introduziu o tema em seu MBA e em programas de formação para empresas nas áreas de liderança e gestão de pessoas. Não é apenas a arte global que é ensinada na FDC, mas também a brasileira. “Desenvolvi cursos executivos com aulas em museus e em centros de arquitetura e arte em nove capitais”, conta Ricardo Carvalho, que se especializou em conectar a arte com o mundo dos negócios para seus alunos. A pedido de HSM Management, ele fez conexões entre artes e negócios:

Melhora cerebral. A arte, quando realmente fruída, “nos ensina a dar tempo ao tempo, nos conecta ao aqui e agora e ativa nossa memória. Assim, promove em nós uma verdadeira neoplastia cerebral, ativando nosso lado direito do cérebro, adormecido pelo excesso de plugamento cotidiano – por decorrência, a arte altera o modelo mental ao qual estamos habituados”.

Aprendizado. A arte nos faz aprender a aprender. Precisa haver uma humildade para aceitar a mediação do curador, nos museus e afins; a mesma humildade que nos ajudaria nos aprendizados do dia a dia com qualquer curador que reconheçamos. “Curadoria é refinar, simplificar, explicar e contextualizar.”

Originalidade. “Sempre insisto que não devemos ser colonizados; precisamos conhecer nossa própria arte. Quem não conhece sua cultura perde a identidade”, diz Carvalho. E, por tabela, perde originalidade e capacidade de inovar. Para catalisar a identidade, ele recomenda Tarsila do Amaral, Hélio Oiticica, a arquitetura de Niemeyer (com ênfase na Oca, em São Paulo), a coleção Brasiliana de Rugendas, e Inhotim, o maior centro artístico e botânico a céu aberto do mundo. (Carol Genovesi)

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