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Sobre a Inovação Transparente

Isso é o que as startups oferecem quando fazem algo velho de maneira nova, sem que o cliente enxergue como é feito

Daniel Cunha

Sócio do fundo Initial Capital VC, que investe recursos próprios em empresas em estágio inicial no Brasil e em Israel e participa de sua gestão. Seu porfólio inclui startups como básico.com, Glambox, Me Salva e Soluto.

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Startups inovam, por definição. Elas reinventam atividades tradicionais ou criam modalidades de tecnologia e serviços. Esse é o elemento que distingue, no linguajar do mercado, uma startup de outro novo empreendimento. 

No entanto, tal reinvenção nem sempre é óbvia nas atividades em que a tecnologia é meio, e não fim. O básico.com, fundado há três anos, visa reinventar o modelo de negócio e os processos de uma marca de roupas – nossa missão era criar, por exemplo, a camiseta branca perfeita, para citar o produto mais icônico de nossa linha. Isso em um setor que, apesar do glamour, é um dos menos inovadores. 

Para tanto, partimos de duas premissas essenciais: a primeira pergunta em qualquer discussão tem de ser “Esta decisão vai, hoje ou no futuro, entrar em conflito com nossa missão?”, e a segunda, “Onde estão as oportunidades de materializarmos nossa proposta de valor?”. 

Identificamos as oportunidades sob o filtro decisório da missão e mobilizamos elementos que nos permitiriam mudar a percepção, bem brasileira, de que os produtos são muito caros para sua qualidade. Selecionei três exemplos desses elementos: 

**• Distribuição própria.** Não raro, a grande dependência de canais de vendas indiretos faz com que se agreguem mais custos na etapa da distribuição, em detrimento da produção. No básico.com, invertemos essa lógica. O canal online, combinado com uma estratégia eficiente em custos em pontos de venda físicos, viabiliza a cobertura nacional calcada em canais de vendas próprios. Eliminando intermediários, mantemos margens saudáveis e reinvestimos em qualidade do produto, o que cria relações mais saudáveis com os clientes.

**• Marketing.** Em geral, as empresas do setor pensam em criar produtos em torno de uma marca, e invertemos isso também – criamos a marca em torno do produto. Essa é a peça central, com base na qual se criam relacionamentos e estilo de vida. Evitamos, assim, deslocar investimentos do produto para a comunicação.

**• Gestão de estoques.** Estratégias tradicionais são importantes para nosso posicionamento premium, mas oneram as operações, em especial o capital de giro. No básico.com, desenvolvemos o conceito de loja guide shop – um espaço para provar, sentir e avaliar produtos, que não tem estoque. O cliente fecha a compra online e a recebe em casa, a partir de um estoque central. On e off-line são uma coisa só para nós.

Cada uma dessas ações é uma reinvenção das atividades do setor de moda e, além de eliminar ineficiências, torna-se parte da experiência do cliente e da própria identidade da marca. “Pensar novo” é o que faz uma startup, seja a tecnologia seu fim ou seu meio.

Pensar novo não é melhorar o velho, mas fazer algo que parece velho de maneira totalmente nova. É o que chamamos, no básico.com, de inovação transparente, aquela que nem sempre pode ser vista.

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