Em períodos de grande mudança, como o atual, uma das habilidades mais importantes de se ter é a imaginação. É o que nos capacita a inventar novos modelos de negócio, criar marcas diferenciadas, transformar problemas em oportunidades. assim, compreender como a imaginação funciona –e se desenvolve– também é tarefa-chave para os líderes atuais. a imaginação tem tudo a ver com sonhos. Quando estudaram o cérebro de músicos de jazz durante o improviso, os neurocientistas Charles Limb e allen Braun descobriram um padrão que não existia quando eles tocavam sequências memorizadas. Tais padrões se parecem muito com os detectados em nosso cérebro durante o sono rEM, quando sonhamos. Sonhar e improvisar caracterizam-se pela atenção fora de foco, associações não planejadas ou irracionais e aparente perda de controle. Uma vez que aprendemos o “truque” de sonhar –dissociar nossos pensamentos do linear e do lógico–, podemos nos tornar mananciais de originalidade.
**SAIA DO ATOLEIRO E SEJA CRIATIVO**
Para inovar, você tem de ir do conhecido para o desconhecido. Também precisa não se ater tanto a suas crenças, de modo que aquilo em que acredita não bloqueie a visão do que pode encontrar. Descobri que isso é muito difícil para a maioria das pessoas. no máximo, elas tentam combinar características de dois ou mais exemplos para chegar a um híbrido. o perigo número um para qualquer inovador é ficar preso no atoleiro do conhecimento prévio. o conhecimento pode nos libertar para imaginar coisas novas para o mundo, mas também nos faz acreditar que as oportunidades são menores do que são. Quando empacamos em um problema ou sentimos pressa em resolvê-lo, nosso cérebro logo retorna a soluções baseadas “no que todo mundo sabe”. no entanto, o que sabemos hoje pode não ser o que precisaremos saber amanhã. Então, para não tirar conclusões precipitadas, temos de evitar resolver o problema até que possamos ter a forma geral de sua solução. Baseado em meu trabalho com líderes do Google, da apple e de outras empresas de ponta, vejo três passos a dar até gerar uma solução criativa para dado problema:
**1. Descobrir o que é o problema, ou seja, o conjunto de fatos conhecidos sobre ele.** Por que é problema? Como algo similar foi resolvido no passado ou em outros campos? E quais as limitações impostas pelo contexto do problema, que podem incluir orçamento, tempo, força de trabalho, hábitos, convenções e medos? Sem limitações, as soluções costumam ser desfocadas e sem imaginação.
**2. Imaginar qual poderia ser o problema.** Fatos e restrições são necessários, mas insuficientes para defini-lo. A imaginação ajuda nisso e uma forma de engatilhá-la é fazendo-se questões mais profundas. Por exemplo, quando Thomas Edison imaginou a lâmpada, ele não pensou “Como criar uma fonte alternativa de luz?”, e sim “Como tornar a eletricidade tão barata que só ‘os ricos acendam velas’?”.
**3. Explicitar os atributos do sucesso.** a resposta a um problema está na interseção entre o que é possível fazer e o que se deseja. o possível é o contraponto das restrições. o que se deseja são objetivos secundários que dão suporte à meta ou à solução, e esse princípio pode ser aplicado a qualquer problema. Faz-se uma pergunta e preenche-se a lacuna: “não seria ótimo se…?”. ao responder a isso, são evocados os desejos que criam um resultado mais convincente. Isso forma um tipo de matriz que define a forma de sua resposta.
**AUMENTE SUA CAPACIDADE DE SONHAR**
Algumas pessoas são naturalmente capazes de entrar no reino da imaginação, mas todos nós podemos melhorar nossas habilidades com a prática. aqui vão seis estratégias.
**1. Pense em metáforas.** Uma metáfora é uma forma de fazer uma comparação entre duas coisas não relacionadas. “Todo o mundo é um palco” é um exemplo. Pensar nos problemas metaforicamente leva o pensamento do literal ao abstrato, permitindo movimentar-se livremente em um plano diferente.
**2. Pense em imagens.** Muitas pessoas acreditam que Einstein era lógico, um pensador do lado esquerdo do cérebro, mas era o contrário. Em vez de usar a matemática ou a linguagem para resolver um problema difícil, ele preferia pensar em imagens e relações espaciais. Ele reconhecia que o pensamento visual pode reduzir o problema a sua essência, levando a conclusões simples que a linguagem comum poderia não atingir. Para isso, o ideal não é tentar abordar diretamente o problema, mas circundá-lo, começar de um lugar diferente. Melhor ainda, pense no pior lugar em que você poderia começar e comece daí. 3. Invada outros domínios. Voltaire disse: “a originalidade não é nada além de imitação criteriosa ”. o que poderia ser mais criterioso do que roubar ideias de outras áreas? Por exemplo, Gutenberg teve a ideia da prensa de impressão observando a mecânica da prensa de uvas para fazer vinho. Essa conexão mental gerou a indústria do livro e não prejudicou os vinicultores.
**4. Organize “encontros às escuras”**. Também é possível forçar conexões unindo duas ideias que não têm nada a ver. o que se obtém ao misturar banco com cibercafé? Loja de sapatos com caridade? Espetáculo da Broadway com apresentação de circo? Você acha modelos de negócio bem-sucedidos como InG Direct, Tom’s Shoes, Cirque du Soleil. Só não se apaixone pela primeira ideia: novidade e inovação são coisas diferentes.
**5. Inverta as polaridades.** Inverter a polaridade em uma afirmação pode liberar energia conceitual. Digamos que seu desafio seja fazer com que seus colaboradores lavem os pratos em vez de deixá-los na pia. Liste afirmações sobre o problema:
> a. Os colaboradores não gostam de lavar pratos.
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> b. É difícil dizer de quem são os pratos na pia.
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> c. Os pratos tendem a se acumular.
Agora, experimente inverter as afirmações:
> a. Os colaboradores adoram lavar pratos.
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> b. É fácil dizer de quem são os pratos na pia.
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> c. Os pratos nunca se acumulam.
O que seria necessário para tornar isso verdade? Bem, os colaboradores poderiam adorar lavar os pratos se houvesse um ótimo sistema de som junto à pia. Seria fácil dizer de quem são os pratos se cada item fosse personalizado com o nome completo ou as iniciais do colaborador. ou talvez você pudesse instalar uma máquina de lavar louça de grande capacidade.
**6. Encontre o paradoxo.** Se consegue descrever a contradição central de um problema, você está a meio caminho de resolvê-lo. Em San Francisco, as pessoas jogavam óleo de motor e químicos no esgoto, de onde chegavam à baía e poluíam os habitats dos peixes. os avisos colocados perto dos bueiros não tinham efeito. nesse caso, a contradição central poderia ser formulada assim: as pessoas não vão parar de jogar resíduos tóxicos no esgoto a menos que leiam as placas, e não vão ler as placas se estiverem ocupadas jogando resíduos nos bueiros. Então o designer Mitchell Mauk fez a pergunta de outra forma: será que os bueiros e os avisos poderiam ser a mesma coisa? Ele imaginou uma grade de bueiro no formato de um peixe, que agora envia uma mensagem clara: o que você jogar nesse bueiro vai direto para os peixes.
**SEJA ORIGINAL**
O século 20 nos fez acreditar que qualquer coisa de valor podia ser comprada em lojas, que a resposta para a pergunta estava no final do livro e que design era algo que só designers fazem. Mas, no século 21, estamos sendo forçados –pelos clientes, pelos colaboradores, pela economia– a ser originais. Pois originalidade não vem de ter conhecimento factual nem de suprimi-lo: vem de expor o conhecimento factual à força animadora da imaginação. Infelizmente, a meta-habilidade de sonhar –a capacidade de extrair ideias do conhecimento por meio da imaginação aplicada– não é ensinada em escolas de negócios (ou qualquer outra escola). Isso parece estranho em uma era em que a inovação desenha a linha entre o sucesso e o fracasso. Felizmente, podemos sonhar com essa mudança.