Diversidade

Sororidade é prática coletiva: não separa, agrega

Exercer a sororidade de maneira seletiva é alterar a essência de uma prática empática e comunitária que reconhece todas as vivências e multiplicidades do universo feminino
Fundadora da #JustaCausa, do programa #lídercomneivia e dos movimentos #ondeestãoasmulheres e #aquiestãoasmulheres

Compartilhar:

Sororidade. Você sabe o que significa essa palavra estranha, incomum, que nem existe oficialmente nos dicionários da língua portuguesa? Sua origem, do latim “soror” (irmã), pode ser definida como o substantivo feminino que representa união entre as mulheres.

Não há uma inventora identificada do termo. Seu primeiro uso acadêmico, aqui no Brasil, foi expresso num artigo escrito pela socióloga Lia Zanotta Machado no livro “[Uma questão de gênero](https://www.amazon.com.br/Uma-Questao-Genero-Portuguese/dp/8585363428)” (1992).

Sororidade é a tradução livre da palavra francesa sororité , que surgiu após a Revolução Francesa ter cunhado o termo “Fraternité” (fraternidade), ao lado de Liberté (liberdade) e Egalité (igualdade), como um de seus lemas.

“Sororité” surge para contemplar a luta feminina por direitos e cidadania, já que Fraternité contemplava somente a luta dos “fraters” (irmãos). Nos Estados Unidos, a palavra “sisterhood” tem esse mesmo significado e, quando surgiu, era usada por principalmente por mulheres negras e mulheres religiosas.

Nos anos 1970, a escritora feminista americana Robin Mergan publicou o livro “[Sisterhood is Powerful](https://www.amazon.com.br/Sisterhood-Powerful-Robin-Morgan/dp/0394705394)” (“A irmandade entre mulheres é poderosa”) e consolidou o uso de forma abrangente.

## Rivalidade que separa e reforça preconceitos

Esse sentimento que nos une em uma [rede de solidariedade, empatia, companheirismo e respeito](https://mitsloanreview.com.br/post/nao-se-sintam-intimidadas), nos faz reconhecer em cada mulher, mesmo que seja uma desconhecida, as dores e barreiras que todas enfrentamos em uma sociedade machista.

A sororidade vai contra a ideia de que existe uma rivalidade intrínseca entre nós, mulheres. Ideia essa que acaba sendo um instrumento usado pelo machismo para nos dividir.

Na palestra do TEDx “[Todos devemos ser feministas](https://www.ted.com/talks/chimamanda_ngozi_adichie_we_should_all_be_feminists?language=pt-br)”, Chimamanda Adichie, escritora feminista nigeriana, afirmou: “nós criamos as meninas para se enxergarem como competidoras — não para trabalhos ou conquistas, o que eu acho que pode ser uma coisa boa —, mas para conseguirem a atenção dos homens”.

Não temos que [viver para agradar os homens](https://www.revistahsm.com.br/post/mulheres-jamais-pecam-permissao), cabendo em padrões e estereótipos de comportamento e beleza. Praticar a sororidade fortalece, inclusive, a nossa saúde mental.

Sim, “juntas somos mais fortes”. Se quisermos igualdade de gênero – direito ao nosso corpo, salários iguais, responsabilidades divididas, mais oportunidades –, precisamos praticar sororidade com as outras mulheres, nossas semelhantes, nossas irmãs.

## Pertencimento feminino

Aqui cabe a pergunta: sororidade é algo essencialmente feminino – que estaria em todas as mulheres? Ou uma postura feminista que precisa ser reforçada como uma escolha política, que reverbera na transformação social pela igualdade de gênero?

Ao reivindicarmos presença em debates sobre questões de nossas vidas, como representatividade, [assédio](https://www.revistahsm.com.br/post/voce-sabe-o-que-e-assedio), feminicídio, empregabilidade, trabalho doméstico, maternidade e aborto, entre outras, ampliamos a agenda feminista para contemplar os direitos de todas – olhando o grupo feminino como, de fato, uma comunidade.

Ao nos aliarmos a outra mulher, em vez de rivalizarmos com ela, ambas nos tornamos mais fortes. Sororidade nada mais é do que [tratar uma mulher da maneira como você gostaria de ser tratada](https://mitsloanreview.com.br/post/etiqueta-inclusiva-o-que-todes-podem-aprender-sobre-pronomes-de-genero).

Mas não podemos correr o risco de praticar uma sororidade “seletiva”, escolhendo apenas mulheres brancas, por exemplo, sem dar conta da emancipação coletiva e todas as nossas interseccionalidades.

Não contemplar os recortes e as diferentes vivências de mulheres – considerando tipos de corpos, idade, raça, classe, orientação sexual, identidade e expressão de gênero, entre outras opressões – é praticar sororidade seletiva.

As possibilidades de transformação do mundo se ampliam quando a sororidade reconhece assimetrias para além do gênero, considerando questões de raça, classe, ideologia política e idade, para citar algumas.

Precisamos promover as bases para uma ética feminista que impulsione ações coletivas sem apagar as diferenças entre as mulheres e sua identidade como indivíduos.

Vamos construir uma sociedade mais justa e equilibrada para Todas as pessoas? Eu, você, todas e todos nós?#aquiestãoasmulheres #aquiestãooshomens #JustaCausa

*Confira mais artigos sobre esse e outros temas [assinando a nossa newsletter](https://www.revistahsm.com.br/newsletter) semanal e mensal. Baixe ainda um e-book gratuito produzido pela HSM Management sobre “[Diversidade nas empresas:o que os dados nos contam](https://materiais.revistahsm.com.br/pesquisa-diversidade)”.*

Compartilhar:

Artigos relacionados

Mercado de RevOps desponta e se destaca com crescimento acima da média 

O Revenue Operations (RevOps) está em franca expansão global, com estimativa de que 75% das empresas o adotarão até 2025. No Brasil, empresas líderes, como a 8D Hubify, já ultrapassaram as expectativas, mais que dobrando o faturamento e triplicando o lucro ao integrar marketing, vendas e sucesso do cliente. A Inteligência Artificial é peça-chave nessa transformação, automatizando interações para maior personalização e eficiência.

Uso de PDI tem sido negligenciado nas companhias

Apesar de ser uma ferramenta essencial para o desenvolvimento de colaboradores, o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) vem sendo negligenciado por empresas no Brasil. Pesquisa da Mereo mostra que apenas 60% das companhias avaliadas possuem PDIs cadastrados, com queda no engajamento de 2022 para 2023.

Regulamentação da IA: Como empresas podem conciliar responsabilidades éticas e inovação? 

A inteligência artificial (IA) está revolucionando o mundo dos negócios, mas seu avanço rápido exige uma discussão sobre regulamentação. Enquanto a Europa avança com regras para garantir benefícios éticos, os EUA priorizam a liberdade econômica. No Brasil, startups e empresas se mobilizam para aproveitar as vantagens competitivas da IA, mas aguardam um marco legal claro.

Governança estratégica: a gestão de riscos psicossociais integrada à performance corporativa

A gestão de riscos psicossociais ganha espaço nos conselhos, impulsionada por perdas estimadas em US$ 3 trilhões ao ano. No Brasil, a atualização da NR1 exige que empresas avaliem e gerenciem sistematicamente esses riscos. Essa mudança reflete o reconhecimento de que funcionários saudáveis são mais produtivos, com estudos mostrando retornos de até R$ 4 para cada R$ 1 investido

Liderança, Times e Cultura
Comunicação com empatia, gestão emocional e de conflitos e liderança regenerativa estão entre as 10 principais habilidades para o profissional do futuro.

Flávia Lippi

4 min de leitura
Gestão de Pessoas, Liderança, Times e Cultura
É preciso eliminar a distância entre o que os colaboradores querem e o que vivenciam na empresa.

Ana Flavia Martins

4 min de leitura
Estratégia e Execução, Carreira
Solicitar crédito sempre parece uma jornada difícil e, por isso, muitos ficam longe e acabam perdendo oportunidades de financiar seus negócios. Porém, há outros tipos de programas que podemos alçar a fim de conseguir essa ajuda e incentivo capital para o nosso negócio.
3 min de leitura
Liderança, Times e Cultura
Conheça os 6 princípios da Liderança Ágil que você precisa manter a atenção para garantir que as estratégias continuem condizentes com o propósito de sua organização.
3 min de leitura
Uncategorized
Há alguns anos, o modelo de capitalismo praticado no Brasil era saudado como um novo e promissor caminho para o mundo. Com os recentes desdobramentos e a mudança de cenário para a economia mundial, amplia-se a percepção de que o modelo precisa de ajustes que maximizem seus aspectos positivos e minimizem seus riscos

Sérgio Lazzarini

Gestão de Pessoas
Os resultados só chegam a partir das interações e das produções realizadas por pessoas. A estreia da coluna de Karen Monterlei, CEO da Humanecer, chega com provocações intergeracionais e perspectivas tomadas como normais.

Karen Monterlei

Liderança, times e cultura, Cultura organizacional, Gestão de pessoas
Entenda como utilizar a metodologia DISC em quatro pontos e cuidados que você deve tomar no uso deste assessment tão popular nos dias de hoje.

Valéria Pimenta

Inovação
Os Jogos Olímpicos de 2024 acabaram, mas aprendizados do esporte podem ser aplicados à inovação organizacional. Sonhar, planejar, priorizar e ter resiliência para transformar metas em realidade, são pontos que o colunista da HSM Management, Rafael Ferrari, nos traz para alcançar resultados de alto impacto.

Rafael Ferrari

6 min de leitura
Liderança, times e cultura, ESG
Conheça as 4 skills para reforçar sua liderança, a partir das reflexões de Fabiana Ramos, CEO da Pine PR.

Fabiana Ramos