Comunidades: Gestão PME

Stock options é diferencial competitivo para PMEs

Embora não sejam uma panaceia, as opções de compra de ações podem fortalecer o alinhamento de longo prazo e promover uma verdadeira cultura de dono nos colaboradores
Jornalista na República – Agência de Conteúdo e colaborador da HSM Management

Compartilhar:

Despertar o “senso de dono” — isto é, desenvolver colaboradores com “cabeça de sócio” — está entre os desafios enfrentados por uma parcela significativa das startups. Como avançar? Não basta apenas incentivar a autonomia e democratizar a distribuição de informação. É preciso tangibilizar a relevância de cada talento para o crescimento do negócio. E uma boa maneira de fazer isso é apostar na elaboração de programas de Opções de Compra de Ações — conhecidos lá fora como Stock Options Plans (SOPs).

As stock options permitem que funcionários e executivos adquiram uma parte da empresa em que trabalham por valores inferiores aos praticados no mercado. É o tipo de participação acionária que tende a favorecer sobretudo as PMEs que ainda não são competitivas no aspecto remuneração frente às grandes organizações.
O benefício é estruturado em duas cláusulas. O chamado vesting estabelece a condição para o exercício da opção, que pode depender do tempo de permanência ou estar atrelado ao cumprimento de metas específicas. Já o cliff corresponde ao período de carência para que realmente se obtenha algum percentual.

Dentre as principais vantagens, essa mecânica concede tempo para alinhar os interesses dos stakeholders do negócio. O engajamento dos colaboradores também é uma sinalização positiva para fundos de investimento. Aliás, o incentivo costuma agradar ambos os lados.

Além de promover a manutenção e atração de profissionais de alta performance, as próprias relações de trabalho ganham novos contornos com a introdução de colaboradores ao cap table. Tudo fica mais horizontal.

## Uma nova forma de organizar o trabalho
De acordo com o Economic Policy Institute (EPI), um think tank americano que pesquisa o impacto das tendências econômicas e políticas sobre os trabalhadores, a produtividade da economia cresceu quatro vezes mais do que os salários nos EUA. Enquanto a produtividade disparou mais de 70% entre 1979 e 2019, a compensação financeira no mesmo período aumentou apenas 17,2% (após ajuste da inflação).
Para Frederico Rizzo, CEO e fundador do Basement — um SaaS que simplifica a gestão de equity para startups e PMEs —, a criação de SOPs possibilita que mais pessoas compartilhem do valor dos negócios revolucionários que ajudam a construir. Mas não é só isso. A ferramenta também é um diferencial competitivo. “Esse tipo de incentivo é uma das moedas mais valiosas que uma empresa pode alavancar.”

Para se ter uma ideia de como o aproveitamento da remuneração variável tem sido abrangente, um report publicado pelo fundo de venture capital Atlantico mostra que, em 2020, as stock options de funcionários corresponderam de 6 a 10% do patrimônio líquido dos maiores unicórnios da América Latina.
A tendência é que essa fatia aumente nos próximos anos, tendo em vista que um número cada vez maior de investidores exige a implementação do benefício para a redução do turnover.

Além de equilibrar a distribuição de riquezas — já que o lucro não fica isolado no alto escalão — e incrementar o valuation das empresas, Rizzo ressalta que a oferta de opções contribui para a formação de um time focado no longo prazo. “O trabalho se volta totalmente para a qualidade, porque quanto maior o esforço, maior a recompensa”, afirma o CEO do Basement.

## Dicas práticas para a criação de SOPs
A implementação de Stock Option Plans é uma estratégia difundida entre PMEs que estão em curva acelerada de crescimento. Mas é preciso ter cuidado. Para não prejudicar a governança do negócio, existem responsabilidades importantes no horizonte. Conheça algumas das melhores práticas para que o benefício cumpra a sua função:

1. Comunique o valor do incentivo: é difícil precisar quanto custam as ações de empresas de private equity. Retomar cases de gigantes que apostaram na estratégia, como PagSeguro, Nubank e Gympass, é uma sugestão para tangibilizar o benefício.
2. Não esqueça do RH: tão importante quanto garantir o equilíbrio entre a diluição do valuation e a captação de recursos financeiros é detalhar o perfil dos colaboradores e executivos para que o plano seja estruturado de maneira adequada.
3. Garanta uma avaliação multidisciplinar: é recomendável solicitar o suporte de uma assessoria jurídica especializada. Desse modo, a empresa ganha confiança para estabelecer um programa efetivo, que esteja de acordo com a legislação brasileira.
4. Contrate ferramentas e plataformas dedicadas: existem softwares que permitem o acesso a minutas de contratos e atos societários padronizados, além de facilitarem a distribuição do option pool. Uma economia considerável em termos de tempo e dinheiro.

Embora ainda faltem oportunidades de liquidez para empresas de capital fechado no Brasil, Frederico Rizzo acredita que a emissão de opções tem potencial para ocorrer de maneira mais ampla. Para o especialista, a prática não precisa ser exclusividade das fintechs, retail techs e healthtechs. Nem apenas de altos executivos. “Todos que geram valor para a sociedade merecem ser recompensado.”

Nessa perspectiva, a implementação do incentivo é uma saída vantajosa para compartilhar o valor do negócio com aqueles que estão ajudando a torná-lo valioso. “Toda empresa, no final, é feita de talentos. Você vai ter sucesso se conseguir criar um time forte. E uma das melhores formas de fazer isso é partilhar aquilo que está sendo construído”, conclui Rizzo.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Organização

A difícil arte de premiar sem capitular

Desde Alfred Nobel, o ato de reconhecer os feitos dos seres humanos não é uma tarefa trivial, mas quando bem-feita costuma resultar em ganho reputacional para que premia e para quem é premiado

ESG
No mundo corporativo, onde a transparência é imperativa, a Washingmania expõe a desconexão entre discurso e prática. Ser autêntico não é mais uma opção, mas uma necessidade estratégica para líderes que desejam prosperar e construir confiança real.

Marcelo Murilo

8 min de leitura
Empreendedorismo
Em um mundo onde as empresas têm mais ferramentas do que nunca para inovar, por que parecem tão frágeis diante da mudança? A resposta pode estar na desconexão entre estratégia, gestão, cultura e inovação — um erro que custa bilhões e mina a capacidade crítica das organizações

Átila Persici

0 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A ascensão da DeepSeek desafia a supremacia dos modelos ocidentais de inteligência artificial, mas seu avanço não representa um triunfo da democratização tecnológica. Embora promova acessibilidade, a IA chinesa segue alinhada aos interesses estratégicos do governo de Pequim, ampliando o debate sobre viés e controle da informação. No cenário global, a disputa entre gigantes como OpenAI, Google e agora a DeepSeek não se trata de ética ou inclusão, mas sim de hegemonia tecnológica. Sem uma governança global eficaz, a IA continuará sendo um instrumento de poder nas mãos de poucos.

Carine Roos

5 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A revolução da Inteligência Artificial está remodelando o mercado de trabalho, impulsionando a necessidade de upskilling e reskilling como estratégias essenciais para a competitividade profissional. Empresas como a SAP já investem pesadamente na requalificação de talentos, enquanto pesquisas indicam que a maioria dos trabalhadores enxerga a IA como uma aliada, não uma ameaça.

Daniel Campos Neto

6 min de leitura
Marketing
Empresas que compreendem essa transformação colhem benefícios significativos, pois os consumidores valorizam tanto a experiência quanto os produtos e serviços oferecidos. A Inteligência Artificial (IA) e a automação desempenham um papel fundamental nesse processo, permitindo a resolução ágil de demandas repetitivas por meio de chatbots e assistentes virtuais, enquanto profissionais se concentram em interações mais complexas e empáticas.

Gustavo Nascimento

4 min de leitura
Empreendedorismo
Pela primeira vez, o LinkedIn ultrapassa o Google e já é o segundo principal canal das empresas brasileiras. E o seu negócio, está pronto para essa nova era da comunicação?

Bruna Lopes de Barros

5 min de leitura
ESG
O etarismo continua sendo um desafio silencioso no ambiente corporativo, afetando tanto profissionais experientes quanto jovens talentos. Mais do que uma questão de idade, essa barreira limita a inovação e prejudica a cultura organizacional. Pesquisas indicam que equipes intergeracionais são mais criativas e produtivas, tornando essencial que empresas invistam na diversidade etária como um ativo estratégico.

Cleide Cavalcante

4 min de leitura
Empreendedorismo
A automação e a inteligência artificial aumentam a eficiência e reduzem a sobrecarga, permitindo que advogados se concentrem em estratégias e no atendimento personalizado. No entanto, competências humanas como julgamento crítico, empatia e ética seguem insubstituíveis.

Cesar Orlando

5 min de leitura
ESG
Em um mundo onde múltiplas gerações coexistem no mercado, a chave para a inovação está na troca entre experiência e renovação. O desafio não é apenas entender as diferenças, mas transformá-las em oportunidades. Ao acolher novas perspectivas e desaprender o que for necessário, criamos ambientes mais criativos, resilientes e preparados para o futuro. Afinal, o sucesso não pertence a uma única geração, mas à soma de todas elas.

Alain S. Levi

6 min de leitura
Carreira
O medo pode paralisar e limitar, mas também pode ser um convite para a ação. No mundo do trabalho, ele se manifesta na insegurança profissional, no receio do fracasso e na resistência à mudança. A liderança tem papel fundamental nesse cenário, influenciando diretamente a motivação e o bem-estar dos profissionais. Encarar os desafios com autoconhecimento, preparação e movimento é a chave para transformar o medo em crescimento. Afinal, viver de verdade é aceitar riscos, aprender com os erros e seguir em frente, com confiança e propósito.

Viviane Ribeiro Gago

4 min de leitura