Diversidade

Sua empresa está pronta para a revolução das pessoas?

Enquanto muitas empresas ainda se esforçam para se adaptar à revolução digital, que ocorreu nos primeiros 10 anos do século XXI, outras já estão prontas para a revolução das pessoas, que está acontecendo na última década.
Atua no mercado publicitário há 22 anos e tem 12 anos de experiência como diretora de criação no Brasil e na Europa. Em 2015, junto com sua sócia, Maria Guimarães, criou a 65|10, uma consultoria criativa especializada em mulheres, com o objetivo de ajuda marcas a reverem o papel da mulher na publicidade. Já palestrou em eventos como Path, Wired Festival, Rio2C e Virada Empreendedora. Entre as marcas atendidas pela 65|10 estão Ambev, Nestlé, Unilever, Facebook e Itaú.

Compartilhar:

A revolução das pessoas é uma consequência da revolução digital: através das plataformas digitais e principalmente das redes sociais, grupos de indivíduos puderam se encontrar, se fortalecer e lutar por suas pautas. Pessoas e grupos que até então estavam isolados puderam se fazer ouvir pelos seus semelhantes, rompendo com a hegemonia da produção de informação que até então era dominada por grandes grupos de comunicação.

Como resultado, mulheres, negros, LGBTQA+, PCD e outros grupos minorizados se fortaleceram, mudaram seus lugares na sociedade e hoje demandam mudanças estruturais.

Este é o tema que será tratado neste artigo.

## Mulheres primeiro

A revolução das pessoas é liderada pelas mulheres. No Brasil, enxergamos 3 vetores para a mudança de comportamento delas: dinheiro no bolso, educação e conectividade:

A renda das mulheres brasileiras cresceu 83% entre 2005 e 2015;
Na década de 1960 as mulheres tinham em média seis filhos e dois anos de educação, ao passo que nos anos 2000 essa conta se inverteu e elas passaram a ter em média menos de dois filhos e mais de seis anos de educação;
As mulheres são as maiores usuárias de internet, principalmente das redes sociais, e essa ferramenta tornou-se um ponto de encontro onde elas trocam informações e se fortalecem.

Essas mudanças são especialmente notáveis em relação às mulheres negras. Elas são a base da nossa pirâmide social e, como diz Angela Davis, quando a mulher negra se move, a sociedade toda se move com ela.

A mudança no comportamento das mulheres e nos seus papéis na sociedade impacta a sociedade como um todo: a família, o trabalho, a política – tudo está mudando junto com elas.

## O impacto da pandemia na revolução das pessoas

A pandemia do Covid-19 vem servindo de catalisadora da revolução das pessoas ao deixar muito evidentes as desigualdades entre diferentes grupos sociais. Aqueles que estão mais vulneráveis à doença, especialmente os negros e pobres, se organizam para demandar mudanças e trazem à tona todas as outras violências que sofrem. O movimento Black Lives Matter ganha força nos Estados Unidos e isso gera reflexos no mundo todo.

No Brasil, a luta contra o racismo e a violência policial se uniu, nas ruas, ao movimento antifascista. Recentemente, alunas do ensino médio de todo o país se uniram para denunciar o assédio de professores com a #exposed.

## O desafio para as empresas

Se por um lado esse encontro resultou no fortalecimento das pautas identitárias de negros, mulheres, LGBTQIA+, PCD e outros grupos, por outro foi também nas redes sociais que as ideias da extrema direita ganharam força nos últimos anos.

Entre esses dois polos, muitas pessoas dentro das empresas tentam navegar e se perguntam: como não provocar conservadores nem ter um impacto negativo sobre as pautas identitárias? Como ecoar as pautas dos nossos tempos, sem soar artificial ou oportunista? Como não perder o bonde da revolução das pessoas e não ficar à deriva, como quem não acompanhou a revolução digital?

Consultorias como a 65|10 surgem para ajudar a encontrar essas respostas. Em 5 anos traduzindo para o mundo corporativo as mudanças de comportamento geradas pela revolução das pessoas, aprendemos que:

### É sobre gente

Empresas precisam ter um entendimento profundo das pessoas e da comunidade para as quais elas trabalham. É preciso entender de antropologia, psicologia, sociologia, mas não só: precisamos ouvir as histórias das pessoas e valorizar o conhecimento que não está nas corporações e nem na academia, mas que é reproduzido oralmente. Precisamos entender de gente, conhecer gente, gostar de gente.

### É sobre conversa

A conversa é uma tecnologia social da qual as mulheres são guardiãs. Pesquisas mostram que as mães conversam mais com a barriga quando sabem que estão esperando meninas. A conversa é a grande ferramenta criativa dos nossos tempos. Se antes da revolução digital a comunicação era uma via de mão única, hoje as empresas devem estabelecer conversas com seus consumidores nas redes sociais. Temos que estar abertos para um contínuo processo de escuta.

### É sobre trazer as pessoas para o processo

As pessoas não querem só se ver representadas, elas querem fazer parte do processo e percebem quando algo foi criado sem que elas fossem envolvidas. Além disso, inúmeras pesquisas comprovam que grupos diversos produzem soluções melhores. Isso acontece porque quando incluímos no processo as pessoas que estavam fora dele, elas trazem com elas novos pontos de vista e tecnologias humanas que servem para trazer novas soluções para problemas antigos.

No começo da revolução digital, trabalhando em agências de publicidade, muitas vezes ouvi pessoas se referindo à presença de empresas na internet como “uma modinha que não ia durar”. Hoje, trabalhando como consultora especializada em comportamento e comunicação com mulheres, vejo que muitas pessoas ainda não despertaram para a urgência de se adaptar à revolução das pessoas. Acredito que esta revolução, feita de micro-revoluções cotidianas, é viral e imparável. Quem não se adaptar será atropelado por ela.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Organização

A difícil arte de premiar sem capitular

Desde Alfred Nobel, o ato de reconhecer os feitos dos seres humanos não é uma tarefa trivial, mas quando bem-feita costuma resultar em ganho reputacional para que premia e para quem é premiado

ESG
No mundo corporativo, onde a transparência é imperativa, a Washingmania expõe a desconexão entre discurso e prática. Ser autêntico não é mais uma opção, mas uma necessidade estratégica para líderes que desejam prosperar e construir confiança real.

Marcelo Murilo

8 min de leitura
Empreendedorismo
Em um mundo onde as empresas têm mais ferramentas do que nunca para inovar, por que parecem tão frágeis diante da mudança? A resposta pode estar na desconexão entre estratégia, gestão, cultura e inovação — um erro que custa bilhões e mina a capacidade crítica das organizações

Átila Persici

0 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A ascensão da DeepSeek desafia a supremacia dos modelos ocidentais de inteligência artificial, mas seu avanço não representa um triunfo da democratização tecnológica. Embora promova acessibilidade, a IA chinesa segue alinhada aos interesses estratégicos do governo de Pequim, ampliando o debate sobre viés e controle da informação. No cenário global, a disputa entre gigantes como OpenAI, Google e agora a DeepSeek não se trata de ética ou inclusão, mas sim de hegemonia tecnológica. Sem uma governança global eficaz, a IA continuará sendo um instrumento de poder nas mãos de poucos.

Carine Roos

5 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A revolução da Inteligência Artificial está remodelando o mercado de trabalho, impulsionando a necessidade de upskilling e reskilling como estratégias essenciais para a competitividade profissional. Empresas como a SAP já investem pesadamente na requalificação de talentos, enquanto pesquisas indicam que a maioria dos trabalhadores enxerga a IA como uma aliada, não uma ameaça.

Daniel Campos Neto

6 min de leitura
Marketing
Empresas que compreendem essa transformação colhem benefícios significativos, pois os consumidores valorizam tanto a experiência quanto os produtos e serviços oferecidos. A Inteligência Artificial (IA) e a automação desempenham um papel fundamental nesse processo, permitindo a resolução ágil de demandas repetitivas por meio de chatbots e assistentes virtuais, enquanto profissionais se concentram em interações mais complexas e empáticas.

Gustavo Nascimento

4 min de leitura
Empreendedorismo
Pela primeira vez, o LinkedIn ultrapassa o Google e já é o segundo principal canal das empresas brasileiras. E o seu negócio, está pronto para essa nova era da comunicação?

Bruna Lopes de Barros

5 min de leitura
ESG
O etarismo continua sendo um desafio silencioso no ambiente corporativo, afetando tanto profissionais experientes quanto jovens talentos. Mais do que uma questão de idade, essa barreira limita a inovação e prejudica a cultura organizacional. Pesquisas indicam que equipes intergeracionais são mais criativas e produtivas, tornando essencial que empresas invistam na diversidade etária como um ativo estratégico.

Cleide Cavalcante

4 min de leitura
Empreendedorismo
A automação e a inteligência artificial aumentam a eficiência e reduzem a sobrecarga, permitindo que advogados se concentrem em estratégias e no atendimento personalizado. No entanto, competências humanas como julgamento crítico, empatia e ética seguem insubstituíveis.

Cesar Orlando

5 min de leitura
ESG
Em um mundo onde múltiplas gerações coexistem no mercado, a chave para a inovação está na troca entre experiência e renovação. O desafio não é apenas entender as diferenças, mas transformá-las em oportunidades. Ao acolher novas perspectivas e desaprender o que for necessário, criamos ambientes mais criativos, resilientes e preparados para o futuro. Afinal, o sucesso não pertence a uma única geração, mas à soma de todas elas.

Alain S. Levi

6 min de leitura
Carreira
O medo pode paralisar e limitar, mas também pode ser um convite para a ação. No mundo do trabalho, ele se manifesta na insegurança profissional, no receio do fracasso e na resistência à mudança. A liderança tem papel fundamental nesse cenário, influenciando diretamente a motivação e o bem-estar dos profissionais. Encarar os desafios com autoconhecimento, preparação e movimento é a chave para transformar o medo em crescimento. Afinal, viver de verdade é aceitar riscos, aprender com os erros e seguir em frente, com confiança e propósito.

Viviane Ribeiro Gago

4 min de leitura