Direto ao ponto

Sucesso individual, fracasso institucional

Artigo da The Economist analisa o impacto social nocivo do individualismo americano

Compartilhar:

Diante do fracasso no combate à pandemia, com mais de 500 mil mortos registrados, a ideia de que os Estados Unidos são um país excepcional, sempre na vanguarda da defesa de sua população, ficou abalada. “O que está por trás da recusa em adotar precauções básicas, do distanciamento social às máscaras?”, indaga Scott Galloway, empreendedor e autor do livro Os quatro, em que analisa o fenômeno dos unicórnios Apple, Amazon, Facebook e Google, em artigo para a revista The Economist.

Para Galloway, a defesa apaixonada das liberdades individuais está causando confusão. “Em anos recentes, muitos americanos confundiram direitos individuais com egoísmo, assumindo a noção de que a liberdade é autossustentável, um direito de nascença que não exige sacrifícios ou ações coletivas. Essa atitude, porém, prejudicou as instituições e as tradições que garantiram a existência em si das liberdades e serviram como o tecido conjuntivo que mantinha o país unido. Essas atitudes são comorbidades sociais e, quando a pandemia chegou, o resultado foi trágico. Apesar de ter apenas 4% da população mundial (e quase 30% da riqueza mundial), a América registrou 25% das infecções e 20% das mortes por covid-19 em todo o mundo”, afirma no artigo.

O individualismo, explica, é parte fundamental da história do país. Dos peregrinos que chegaram em busca de liberdade religiosa aos empreendedores do Vale do Silício, o sucesso sempre foi visto como resultado de conquistas individuais. “O fracasso, por sua vez, é visto como falta de garra e de inteligência”, diz.

Ele mesmo um empreendedor do Vale do Silício, filho único, homem, branco e de classe média, hoje reconhece que a generosidade dos contribuintes da Califórnia foi fundamental para garantir seus estudos em escola pública de alta qualidade da primeira série à universidade. “Sim, o setor privado habilmente transforma tecnologias financiadas por pesquisas de instituições públicas em sucessos comerciais, e há um quê de genialidade nisso. Mas esse sucesso só existe graças a dezenas de milhares de engenheiros, muitos imigrantes, muitos estudantes de escolas públicas.”

Para Galloway, a adoração da América por inovadores individuais inspira as conquistas reais. A oportunidade de sucesso atrai os ambiciosos e quem quer trabalhar duro, gente de todas as partes do mundo. “Mas o mito se torna um fardo quando a sociedade se apaixona tão perdidamente pela ideia de sucesso a ponto de colocar as instituições em risco.”

O ápice da escalada do individualismo foi o rompimento dos Estados Unidos com instituições como a Organização Mundial de Saúde (o que já foi revertido pelo presidente Biden). O autor lembra que a Declaração de Independência do país não afirma simplesmente que os direitos são “inquestionáveis”, mas, sim, que “para garantir esses direitos, Governos são instituídos entre Homens”.
Ou seja, os fundadores do país respeitavam o Estado como veículo capaz de garantir a liberdade. E, assim, proteger do vírus toda a coletividade – e não cada um dos indivíduos.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Jornada de trabalho

Redução da jornada: um passo para a saúde mental e inclusão no trabalho

A redução da jornada para 36 horas semanais vai além do bem-estar: promove saúde mental, equidade de gênero e inclusão no trabalho. Dados mostram como essa mudança beneficia especialmente mulheres negras, aliviando a sobrecarga de tarefas e ampliando oportunidades. Combinada a modelos híbridos, fortalece a produtividade e a retenção de talentos.

Liderança na gestão do mundo híbrido

Este modelo que nasceu da necessidade na pandemia agora impulsiona o engajamento, reduz custos e redefine a gestão. Para líderes, o desafio é alinhar flexibilidade, cultura organizacional e performance em um mercado cada vez mais dinâmico.

Liderança, times e cultura, Cultura organizacional, Gestão de pessoas
Entenda como utilizar a metodologia DISC em quatro pontos e cuidados que você deve tomar no uso deste assessment tão popular nos dias de hoje.

Valéria Pimenta

Inovação
Os Jogos Olímpicos de 2024 acabaram, mas aprendizados do esporte podem ser aplicados à inovação organizacional. Sonhar, planejar, priorizar e ter resiliência para transformar metas em realidade, são pontos que o colunista da HSM Management, Rafael Ferrari, nos traz para alcançar resultados de alto impacto.

Rafael Ferrari

6 min de leitura
Liderança, times e cultura, ESG
Conheça as 4 skills para reforçar sua liderança, a partir das reflexões de Fabiana Ramos, CEO da Pine PR.

Fabiana Ramos

ESG, Empreendedorismo, Transformação Digital
Com a onda de mudanças de datas e festivais sendo cancelados, é hora de repensar se os festivais como conhecemos perdurarão mais tempo ou terão que se reinventar.

Daniela Klaiman

ESG, Inteligência artificial e gestão, Diversidade, Diversidade
Racismo algorítimico deve ser sempre lembrado na medida em que estamos depositando nossa confiança na inteligência artificial. Você já pensou sobre esta necessidade neste futuro próximo?

Dilma Campos

Inovação
A transformação da cultura empresarial para abraçar a inovação pode ser um desafio gigante. Por isso, usar uma estratégia diferente, como conectar a empresa a um hub de inovação, pode ser a chave para desbloquear o potencial criativo e inovador de uma organização.

Juliana Burza

ESG, Diversidade, Diversidade, Liderança, times e cultura, Liderança
Conheça os seis passos necessários para a inserção saudável de indivíduos neuroatípicos em suas empresas, a fim de torná-las também mais sustentáveis.

Marcelo Franco

Lifelong learning
Quais tendências estão sendo vistas e bem recebidas nos novos formatos de aprendizagem nas organizações?

Vanessa Pacheco Amaral

ESG
Investimentos significativos em tecnologia, infraestrutura e políticas governamentais favoráveis podem tornar o país líder global do setor de combustíveis sustentáveis

Deloitte

Estratégia, Liderança, times e cultura, Cultura organizacional
À medida que o mercado de benefícios corporativos cresce as empresas que investem em benefícios personalizados e flexíveis não apenas aumentam a satisfação e a produtividade dos colaboradores, mas também se destacam no mercado ao reduzir a rotatividade e atrair talentos.

Rodrigo Caiado