“A maioria das pessoas superestima o que pode fazer em um ano e subestima o que pode fazer em dez anos.” – Bill Gates”.
A COP 29, conferência que versa sobre as mudanças climáticas, sediada no Azerbaijão, evidenciou para mim, o que Bill Gates trás nessa frase. De que é necessário uma boa dose de tempo para que transformações profundas ocorram. Essa conferência extrapola as negociações entre países. Sua relevância, dado o cenário de extrapolação dos limites planetários, que estamos vivendo, tem atraído cada vez mais, grandes organizações públicas e privadas de todos os países que participam, em um grande encontro de trocas de sinergias, oportunidades de negócio e de mitigação de riscos. E, tudo isso, seria impensável há 10 anos atrás.
E, de verdade, não importam as motivações para estarem ali. Algumas estão por pura convicção de sua responsabilidade e contribuição na agenda, outras por pressão de investidores, órgãos regulatórios e consumidores. E, tudo bem. O importante, é seguirmos avançando em todas as frentes: os governos chegando em bons acordos; as empresas estabelecendo compromissos públicos de descarbonização de suas operações envolvendo suas cadeias de valor, bem como estabelecendo uma comunicação transparente de seus avanços; e a sociedade civil se auto-responsabilizando por suas escolhas de consumo, onde trabalhar e o que produzir.
É, como nos ensinou o Azerbaijão, com sua cultura milenar na produção de tapetes: seu processo se dá, amarrando um nó de cada vez, no intrincado tecido de uma obra-prima resiliente o suficiente para durar séculos.
Os temas dessa COP foram o financiamento climático, em que a negociação é o fluxo de recursos dos países desenvolvidos para os países em desenvolvimento, uma vez que acordou-se, que esses mais industrializados, possuem maior contribuição no aquecimento global. Até o momento da escrita deste artigo, não havíamos chegado a uma cifra final.
Ainda, a boa notícia, é que conseguiram destravar o mercado global de carbono. Houve o fechamento das regras gerais do Artigo 6 do Acordo de Paris, que estabelece o mercado global de crédito de carbono entre países, operado pela Convenção do Clima. Esse gol, poderá destravar assim, os repasses para o Brasil. Uma vez, que o país prevê reduzir suas emissões de gases de efeito estufa entre 59% e 67% até 2035, tomando como base níveis de 2005. Isso de acordo com a nova NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada) entregue pelo Vice-Presidente, Geraldo Alckmin, no início da conferência.
Essas negociações pavimentaram o caminho de Baku para Belém em 2025. Os negociadores brasileiros, dentre eles, Ana Toni, foram bravíssimos, já reconhecidos internacionalmente, como os que criam pontes e conseguem destravar pontos sensíveis da negociação entre as partes interessadas.
Teremos, assim, um ano para preparar a COP 30, 10 anos após o Acordo de Paris, em que estabeleceu-se limitar o aquecimento global em 1.5°C. Sem êxito até o momento. Espera-se então, que uma nova repactuação nessa conferência resulte em acordos mais ambiciosos, com a entrega das novas NDCs dos países signatários da conferência, incluindo uma transição socialmente justa, e a criação de uma Meta Global de Adaptação, em que os países terão um mecanismo para reportar e mais clareza sobre o que podem fazer para se adaptar às consequências da crise climática, como secas, inundações e eventos climáticos extremos.
O acordo de metas robustas de redução de emissões de gases de efeito estufa é sobretudo uma questão econômica, mesmo porque, sem essa redução, o custo da adaptação climática tende a aumentar cada vez mais, aumentando assim, custos e riscos de transição, climáticos, e reputacionais. Estima-se que o custo dos eventos climáticos extremos dos últimos 10 anos custaram USD 2 tri, de acordo com o International Chamber of Commerce (ICC).
Bem, cabe a nós então, anfitriar uma COP que estimule a integração dos desafios climáticos globais à regeneração da natureza e da sociedade, suportando a construção de um novo sistema econômico que incorpore externalidades negativas e positivas nos modelos de negócios. E mensurar e valorar o capital natural, social e humano integrado ao capital financeiro, gerando portanto, um sistema de criação e gestão de valor positivo.
Afinal, não precisaríamos estar trabalhando em metas de redução de emissões e agora em metas de adaptação, se não tivéssemos errado em não contabilizar as externalidades nos balanços corporativos e das nações. Não é mesmo?
Sigamos, enfim, tecendo nó a nó de Baku até Belém, assumindo que a solução somos nós e que faremos juntos uma bela conferência, onde o palco é a maior floresta tropical do mundo.