Dossiê HSM

Tendências e oportunidades em tempos incertos

Pelos sinais do presente, o futuro próximo será condicionado por cibersegurança, fusões e aquisições e supply chain

Hércules Maimone

Compartilhar:

O ano de 2020 foi um futuro nada parecido com o que se imaginava em 1990, 2000, 2010 ou mesmo 2019. Estudos, pesquisas e livros que pensavam o futuro com base no presente se tornaram obsoletos do dia para a noite. Antes de março do ano passado, o Brasil cogitava o início de uma recuperação econômica. Quem buscava empregos começava a pensar que dias melhores estariam por vir, pois o cenário dava sinais de recuperação. Era normal estar carregado de boas perspectivas, de um olhar otimista, bastante comum em todo início de ano, e novamente vivemos isso, agora, nos primeiros dias de 2021.

Porém, após as consequências de uma pandemia que mudou completamente a forma de viver em nosso planeta, ser simplesmente otimista não é tudo. A cautela é fundamental.

Mesmo com tantos desafios e impactos negativos na economia, alguns setores avançaram, pois apoiaram-se na aceleração digital e colocaram em prática – em dois a cinco meses – o que era previsto para ser adotado em mais tempo.
Enquanto muitas empresas naufragaram, outras, sólidas, mostraram-se resilientes e souberam navegar com segurança em mares revoltos e imprevisíveis. Mas, se 2020 foi inimaginável, o que é possível esperar para os próximos anos em alguns setores? Trago a seguir alguns destaques das nossas pesquisas.

## Cibersegurança integrada
Em meio ao processo de aceleração digital, com as empresas lançando mão cada vez mais de recursos de tecnologia e reforçando sua presença online, avança natural e consideravelmente o investimento das companhias em segurança cibernética. Mas, de acordo com a pesquisa Global Digital Trust Insights Survey 2021, feita pela PwC com 3.249 executivos de negócios e tecnologia do Brasil e de todo o mundo (55% deles, atuantes em grandes empresas), há elementos além-tecnologia que devem ser considerados nesse tema.

Os líderes de segurança cibernética não têm mais um foco exclusivo em tecnologia, apesar de, claro, ela ainda estar muito presente no dia a dia desses profissionais. O que eles mais fazem – e 2021 será um ano em que isso poderá ficar mais claro – é trabalhar em uma estreita colaboração com as equipes de negócio, tentando fortalecer a resiliência da empresa de forma geral.
O resultado disso, de acordo com a pesquisa, é que as áreas de segurança da informação têm se fortalecido, resistindo às investidas de invasores como nunca antes havia sido observado.

Também é importante destacar que a tecnologia passa agora por uma fase de evidente amadurecimento, de modo que o trabalho da segurança cibernética tem sido simplificado e integrado aos processos da empresa. Novas camadas de proteção, adicionadas por soluções digitais e um contínuo e automático monitoramento, já estão levando a segurança a um novo patamar dentro das companhias.
Vale dizer que os executivos-chefes de segurança da informação (CISOs, na sigla em inglês) atualmente desenvolvem uma visão estratégica que permite a eles, quando não estão realizando o trabalho de controlar o dia a dia da cibersegurança de uma empresa, exercitar a criatividade e conceber novas soluções para problemas de todos os tipos. E os que ainda não adotaram essa visão, vão adotá-la.

## Fusões e aquisições em franca recuperação
Outro setor que merece especial atenção em 2021 é o de fusões e aquisições (M&A na sigla em inglês). A expectativa, em 2020, era a de que a atividade do setor diminuísse em relação a 2019 por conta das incertezas relacionadas à economia global, das tensões comerciais entre Estados Unidos e China e também em função das eleições presidenciais dos EUA. Com a pandemia causada pelo novo coronavírus, o cenário se tornou ainda mais inóspito e os volumes das negociações caíram 13% no primeiro semestre de 2020. Entretanto, muitas das transações que estavam em suspenso no início da pandemia foram finalmente retomadas, registrando uma recuperação em V e mudando todo o panorama.

De acordo com o estudo Tendências setoriais de M&A no mundo, da PwC, a atividade de M&A deve se recuperar antes da economia global. Em 2021, as empresas que entenderem fusões e aquisições como parte de um plano de longo prazo estarão mais próximas de aproveitar oportunidades que invariavelmente surgirão. Também é importante destacar que, historicamente, companhias que se envolvem em M&A quando períodos de incerteza econômica têm início acabam tendo melhores retornos do que as empresas que preferem aguardar para agir. Logo, há uma tendência que aponta para a recuperação do setor.

Entre os diversos indicadores positivos que têm sido importantes para o momento e o futuro da atividade de M&A estão os níveis mínimos históricos das taxas de juros, os níveis recordes de caixa corporativo e de capital de mercados privados, a existência de fontes alternativas de capital e o fato de os bancos estarem voltando a emprestar. Também reforçam o cenário favorável para fusões e aquisições o retorno da liquidez nos mercados de títulos e o provável crescimento do número de empresas em dificuldades ou falimentares, que buscarão opções após o fim dos programas de apoio oferecidos pelo governo.

Com o surgimento de cepas causadoras de mutações da Covid-19, novas ondas da doença, recorrentes lockdowns e incertezas seguem no horizonte, e isso continuará impactando os mercados de forma decisiva durante um tempo considerável. Diante do exposto, as empresas multinacionais serão obrigadas a aprender a trabalhar em um ambiente cada vez mais local, existindo aí uma oportunidade para que companhias aproveitem o momento e utilizem fusões e aquisições para repensarem suas estratégias de atuação.

Olhando para a frente, lembramos de uma recente pesquisa da PwC sobre a Covid-19, feita com mais de 900 CFOs globais, a qual apontou que fusões e aquisições seguirão presentes na estratégia de recuperação das empresas. Cerca de 25% dos entrevistados declararam que usariam operações de M&A para trabalhar a reconstrução ou a ampliação dos fluxos de receita de suas companhias. Prevemos também o uso contínuo de fusões e aquisições para inovação e P&D. Com a digitalização acelerando tendências e originando mais transações intersetoriais, é possível esperar altos volumes de investimentos para aquisição de empresas de menor porte. É um cenário em franca transformação.

## Cadeia de fornecimento: integração amadurecida
As transformações pelas quais o mundo passa vêm desafiando a cadeia de fornecimento, e uma das mudanças mais relevantes são o comportamento e as expectativas dos clientes, que atualmente exigem ainda mais transparência das empresas e mais rapidez no atendimento e nas entregas. Em paralelo, outros desafios seguem em pauta, como aumento de demanda, escassez de suprimentos e até mesmo antes impensáveis crises globais, como a provocada atualmente pela Covid-19 – que demonstrou, entre outros fatores, a necessidade (para não dizer urgência) de não depender exclusivamente de fornecedores estrangeiros.

Para ser possível compreender melhor o atual modelo dos negócios e prever cenários dentro dos próximos cinco anos, a PwC entrevistou 1,6 mil executivos e tomadores de decisão da cadeia de fornecimento em 33 países, entre eles o Brasil, entre outubro de 2019 e janeiro de 2020. O resultado disso foi o estudo Ecossistemas conectados e autônomos de cadeia de fornecimento 2025, que examina toda a rede de organizações, pessoas, atividades, informações e recursos voltados a levar um produto ou serviço do ponto A – os fornecedores – até o ponto B – os clientes.

No cenário nacional, um dos principais destaques do estudo é o fato de que a maioria das empresas nacionais tem nível médio a alto de maturidade de integração da cadeia de fornecimento, com 36% delas apresentando um ecossistema bem organizado do início ao fim.

Já 37% das companhias dão alta prioridade à transparência da cadeia, resultado que fica acima da média global de 23%, enquanto 36% já implementaram a transparência, contra 28% no mundo. Inteligência artificial (IA) é um recurso empregado por 17% delas para gerar transparência, nível que é bastante próximo ao observado em empresas consideradas novatas digitais.

Mais um dado importante, que indica caminhos: segundo o estudo, apenas 20% das empresas nacionais adotam o planejamento do início ao fim da cadeia, resultado em linha com o global, sendo que 22% utilizam a análise avançada no planejamento, índice que também acompanha o cenário observado fora do País.

Outro ponto interessante, que coloca o Brasil em destaque em comparação com o panorama mundial, diz respeito à implementação de logística inteligente, com 41% ante 32% de média mundial. Em contrapartida, os resultados nacionais estão abaixo da média global em todas as opções de uso de IA no impulsionamento de ecossistemas da cadeia de fornecimento.

Por fim, os resultados do estudo mostram também que investimentos feitos na cadeia de fornecimento são recompensados. Como vimos ao longo de toda esta reflexão, quem saiu na frente – seja no processo de transformação digital, seja no de M&A ou no de visão integrada da cibersegurança – está colhendo os frutos.
Para 2021 e adiante, a expectativa é que as empresas que promovem significativos investimentos em suas cadeias de fornecimento terão economia operacional maior nos custos anuais, bem como aumento na receita.

__UMA COISA FICA EVIDENTE:__ a importância de um olhar atento para as necessidades dos consumidores, as mudanças do mercado e as ondas de incertezas que permeiam o mundo hoje em dia. Essa percepção é a receita certa para que empresas possam evoluir em um momento tão complexo da nossa história, mas repleto de oportunidades.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Quem pode mais: o que as eleições têm a nos dizer? 

Exercer a democracia cada vez mais se trata também de se impor na limitação de ideias que não façam sentido para um estado democrático por direito. Precisamos ser mais críticos e tomar cuidado com aquilo que buscamos para nos representar.