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Tom Peters: 13 coisas mais estratégicas que a estratégia

Em 2005, Tom Peters listou as iniciativas que considerava mais importantes para as empresas tomarem. Confira se ainda valem hoje
Adriana Salles Gomes é diretora-editorial de HSM Management.

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Estratégia é importante, mas, nas empresas, há questões mais “estratégicas” do que ela, garantia o especialista em administração Tom Peters 15 anos atrás. Questões essas que devem obrigatoriamente estar na agenda de todos os executivos, para que eles não sejam “economicamente burros”, acrescentava.

## AS PERGUNTAS DE 2005
### 1. Você tem talentos incríveis por toda parte? Estimula esses talentos em missões audaciosas?

Les Wexner, fundador da Limited, virou empresário para valer quando começou a sentir tanto prazer em escolher pessoas como sentia em escolher roupas descoladas. Depois de escolher, o que fazemos com essas pessoas? Dê a elas missões inspiradoras! O problema de 99 entre cem organizações é que as pessoas quase nunca são “livres” para “dar o melhor de si” e “descobrir grandeza”.

### 2. Seu pool de talentos está cheio de pessoas maravilhosamente peculiares que outros chamariam de problemáticas?

Você já deu uma espiada no livro de história de seu filho? Um almanaque de desajustados. Alexandre, o Grande. Napoleão. Drake. Nelson. Joana D’Arc. De Gaulle. Churchill. Jefferson. Hamilton. Copérnico. Gates. Só encrenqueiros! Precisamos importar o que achamos natural em um livro de história do ensino médio para nossas empresas: bem-vindos, fazedores da história! E se pergunte: como você classifica a si mesmo na Escala dos Desajustados-Pioneiros?

### 3. Seu board é tão “descolado” quanto seus produtos?

Sexo. Cor. Idade. Escolha qualquer parâmetro, e a composição do conselho de administração será uma vergonha. Espere, retiro o que disse. Substitua a palavra “vergonha” por “burrice”. Como na expressão “economicamente burro”. “O gargalo fica na parte de cima da garrafa”, lembra-nos o “guru” de estratégia Gary Hamel.

### 4. Sua meta principal é criar uma “cultura” que privilegie a inovação e o empreendedorismo?

Seth Godin disse: “Você não consegue ser notável se seguir alguém notável”.
Paul Goldberger, da New York Times Magazine, vê um fenômeno da imitação que ele chama de “a mesmice das coisas”. “Embora tudo possa ser melhor, tudo está cada vez mais a mesma coisa.” E o toque final vem de Kjell Nordström e Jonas
Ridderstråle: “A ‘sociedade do excesso’ tem um excesso de empresas semelhantes, que empregam pessoas semelhantes, com bagagens educacionais semelhantes, que vêm com ideias semelhantes, produzem coisas semelhantes, com preços e qualidade semelhantes. Para obtermos sucesso, temos de parar com essa porcaria de sermos normais”. O problema: para isso, é essencial uma “mudança de cultura” de primeira ordem.

### 5. As recompensas finais cabem aos que exibem um inquebrantável “viés para a ação”.

John Boyd, que foi piloto de caça na guerra da Coreia, criou os “ciclos OODA”, sigla que significa Observar-Orientar-Decidir-Agir. Quem tivesse os ciclos OODA mais rápidos desorientava o inimigo. Nos termos do ex-boxeador Muhamad Ali: “Deve-se flutuar como uma borboleta e ferroar como uma abelha”. Isso é um “viés para a ação”. Toda empresa precisa ter.

### 6. Seu lema é “recompensar os fracassos excelentes e punir os sucessos medíocres”?

Pode me chamar de ingênuo. Mas estou convencido de que qualquer atividade, mesmo que aparentemente humilde, pode se tornar uma magnífica obra de arte. Jim Collins acha que são necessárias para isso BHAGs (suas Metas Grandes, Audaciosas e Cabeludas, em inglês). Beleza! Steve Jobs, da Apple, exorta a equipe de um novo produto: “Vamos deixar uma marca no universo”. Beleza!

### 7. Você concorda com o ditado “Não queremos simplesmente ser os melhores em algo; queremos ser os únicos”?

Isso vem de Jerry Garcia, da banda Grateful Dead. Eu abomino quem não consegue entender isso.

### 8. Você aprimora o ditado de Garcia acrescentando: “adotamos o lema do melhor fornecedor”?

Vou plagiar o mestre irlandês Charles Handy, que disse anos atrás: “As empresas ainda terão importância no mundo, mas como ‘organizadoras’, não como ‘empregadoras’”. Eu fico imaginando como montar uma empresa farmacêutica minha baseada na terceirização.

### 9. Você abraça as novas tecnologias com o entusiasmo de uma criança e o empenho de um revolucionário?

Sistemas e tecnologias de informação são meras “ferramentas” − mas têm o poder de realizar muitíssimo mais, reinventando setores industriais por completo e virando do avesso a ordem das coisas, se… o chefe tiver visão e garra. “Cuidado com a tirania de fazer pequenas mudanças em coisas pequenas. Ao contrário, faça grandes mudanças em coisas grandes”, já disse um ex-CEO da Pepsico.

### 10. Você “atende” e “satisfaz” os clientes? Ou “faz das tripas coração” por ele?

O dinamarquês Rolf Jensen diz: “O sol está se pondo na sociedade da informação mesmo antes de nos termos ajustado a suas exigências como indivíduos e como empresas. Estamos diante de outro tipo de sociedade: a sociedade do sonho. Os produtos futuros terão de apelar a nossos corações, não a nossa mente”, escreve em The Dream Society. Isso exige uma cultura de fazer das tripas coração.

### 11. Você entende – em sua medula – que os dois maiores mercados subatendidos são as mulheres e os idosos?

Novas ferramentas como o marketing um a um não deveriam ser uma desculpa para ignorar burramente algo muito maior: o potencial de realinhar a empresa para atender melhor as mulheres e os idosos.

### 12. Os líderes de sua empresa são acessíveis? Importam-se com os funcionários?

Talvez o “Nós nos importamos” não tivesse relevância para a empresa industrial tradicional, e o mantra do velho chefe fosse algo como “Venha trabalhar. Bico calado. Ou passe fome”. Mas agora, sem moralismo, a atitude “Nós nos importamos” não é opcional. Uma pesquisadora disse que passamos pela era agrícola até a industrial, e à era da intensificação da informação, e vemos no horizonte a era da intensificação da criação. E esta se encontra o mais distante possível do velho chefe. O mantra do chefe atual (chefe?) é mais do tipo: “Socorro! Por favor, empenhe seu coração, sua alma e sua imaginação aqui!”

### 13. Você entende o mantra nº 1 dos negócios desta década de 2000: “NÃO TENTE COMPETIR EM PREÇO COM A WALMART NEM EM CUSTO COM A CHINA?”.

__A PERGUNTA DE 2020__
A não ser pela competitividade da Walmart em preços, por usar o termo “terceirização” em vez de “ecossistema” e por falar de marketing um a um em vez de martech, alguma coisa lhe parece fora de ordem nesse artigo de 2005?

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