Carreira

Trabalho sem assédio

Pesquisa inédita, realizada pelo LinkedIn e a Think Eva, com 414 mulheres, aborda o ciclo do assédio sexual nos ambientes profissionais

Neivia Justa

Fundadora da #JustaCausa, do programa #lídercomneivia e dos movimentos #ondeestãoasmulheres e #aquiestãoasmulheres...

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Você sabe definir e identificar um episódio de assédio sexual?  

Existem canais de denúncia na empresa onde você trabalha?

Já foi vítima de assédio sexual? Teve coragem de denunciar?

O que aconteceu com a pessoa que assediou você?

No começo de 2020, pouco antes da pandemia se instalar em nossas vidas, fui convidada pelo LinkedIn para protagonizar, juntamente com outras três líderes Top Voices, uma campanha de educação e combate ao assédio sexual no ambiente de trabalho. Aceitei prontamente. 

Sou mulher, líder e mãe de duas adolescentes. Fui vítima de um escancarado episódio de assédio sexual no meu primeiro emprego corporativo em São Paulo. 

Era 1993. Não se falava sobre isso. Não havia canal de denúncia e nem a quem recorrer. E, mesmo que houvesse, quem você acredita que seria responsabilizada pelo assédio?

Infelizmente, passados 27 anos, pouca coisa mudou na dura realidade do assédio sexual no ambiente de trabalho. A grande diferença é que agora nós **podemos** falar sobre isso.

Definido por lei como o ato de “constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função” – código Penal, art. 216-A-, o assédio sexual é um velho conhecido nosso e um agente limitante da nossa carreira. 

É isso que comprovam os dados da pesquisa nacional, inédita, sobre “o ciclo do assédio sexual nos ambientes profissionais” realizada pelo LinkedIn e a Think Eva, com 414 mulheres, 99% de índice de confiabilidade e representativa da população brasileira em relação à raça, região, idade e renda.

Quase metade das mulheres entrevistadas já sofreu assédio sexual. Negras (pretas e pardas) e mulheres com rendimentos menores são as principais vítimas. A maioria delas ocupa cargos de assistente (32,5%), posição pleno ou sênior (18,6%), estagiária (18,1%) e posições júnior (13,4%). 

Embora mulheres em cargos de direção representem o menor número (2,4%), o assédio sexual não deixa de ser uma realidade para elas. Entre as entrevistadas com função gerencial, 60% afirmou já ter sido vítima. No caso de diretoras, o número chegou a 55%.

Todavia, a identificação dos casos continua sendo um grande desafio – 10% das entrevistadas dizem não saber se já passaram por algum episódio de assédio sexual, assim como outras 10% não sabem identificar situações correlatas em seu ambiente de trabalho. O assédio segue sendo associado às violências mais explícitas, como a física, deixando de lado a verbal e a psicológica, mais sutis.

Raiva, nojo, medo, impotência, vergonha, humilhação e culpa são os principais sentimentos que as vítimas relatam. Muitas sentem-se confusas e em dúvida (15%). E outras tantas acham que a culpa pela violência é delas (10%)

O assédio gera danos emocionais e profissionais profundos nas mulheres que, frequentemente, perdem a autoconfiança, não conseguem evitar um impacto negativo nas suas performances profissionais, carregam a sensação de que seriam culpabilizadas pelo que aconteceu ou de que foram elas que provocaram o episódio.

Uma em cada seis vítimas de assédio sexual no ambiente de trabalho pede demissão, 35,5% afirmam viver sob constante medo, 31,7% sentem-se desanimadas e cansadas e 30,3% perdem a confiança em si e nos outros. Isso sem falar dos sintomas de ansiedade e depressão que aparecem em quarto lugar no ranking de efeitos devastadores na vida das mulheres vítimas.

Apenas 5% das mulheres recorrem ao RH da empresa onde trabalham. Para 78,4% delas, a impunidade é a maior barreira para a denúncia, seguida de políticas ineficientes (63,8%) e medo (63,8%).

Elas se sentem impotentes e isso faz com que se exilem no silêncio e na solidão. Metade delas prefere dividir o ocorrido apenas com pessoas próximas; 33% não fazem nada e 14,7% optam pela demissão.

Enquanto isso, é comum ver o agressor manter seu emprego, sua rede de relacionamento e sua carreira intacta.

E, assim, o ciclo do assédio sexual faz com que as empresas percam talentos, além de limitar e até impedir a continuação da carreira das mulheres.

Precisamos encarar com seriedade essa mazela corporativa. E assumir a responsabilidade de amparar as vítimas de forma transparente e comprometida, ouvir, encaminhar e solucionar as denúncias, e agir para evitar a sistemática repetição do crime de assédio sexual.

O que você, como líder, tem feito para promover as mudanças culturais e estruturais que sua empresa precisa, usando seu #lugardepoder para quebrar esse ciclo e construir um ambiente profissional seguro, livre de assédio e violência sexual?

Já passou da hora de você assumir um compromisso antiassédio, oficial e público.

A construção de uma organização antirracista, antissexista e mais igualitária para todas as pessoas começa com você. Aqui e agora.

#JustaCausa

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