Saúde Mental

Três estágios dos programas de saúde mental para o futuro do trabalho

As organizações devem estar cada vez mais atentas a pauta da saúde mental dos seus colaboradores. O descaso com o assunto pode ter resultados negativos no futuro da empresa e fomentar o fenômeno do "quiet quitting"
Fundadora e CEO da Vittude, referência no desenvolvimento e gestão estratégica de programas de saúde mental para empresas. Engenheira civil de formação, possui MBA Executivo pelo Insper e especialização em Empreendedorismo Social pelo Insead, escola francesa de negócios. Empreendedora, palestrante, TEDx Speaker e produtora de conteúdo sobre saúde mental e bem-estar, foi reconhecida em 2023 como LinkedIn Top Voice e, em 2024, como uma das 500 pessoas mais influentes da América Latina pela Bloomberg Linea.

Compartilhar:

Quando se trata de saúde mental, nossas empresas ainda vivem o modelo de gestão criado na era da revolução industrial. Com foco na produtividade a qualquer custo, o impacto nos trabalhadores nessa época nem era considerado nessa equação. Hoje evoluímos nos métodos de trabalho, organizamo-nos em equipes colaborativas e entendemos a importância da criatividade e da inovação para as demandas do negócio na era digital. Mas pouco avançamos na pauta de saúde mental.

A cada semana, converso com pelo menos dez empresas de grande porte. Quando pergunto a gestores e líderes de RH quais são os indicadores do FAP (fator acidentário de prevenção) nos três últimos anos, ou quantos pedidos de afastamento por CID-F (código internacional de doenças relacionados aos transtornos mentais) a empresa teve no último ano, vejo quase invariavelmente a mesma cara de paisagem como resposta. Se pergunto como eles avaliam a qualidade da saúde mental dos seus colaboradores, ouço com frequência que há alguns “casos isolados” de transtorno, mas que no geral tudo está bem. Insisto no questionamento e pergunto como eles medem o nível de engajamento dos funcionários e se acompanham os motivos pelos quais acontecem as demissões voluntárias. A resposta continua invariavelmente evasiva.

O resultado desse descaso com a saúde mental dos colaboradores volta na forma de presenteísmo, turnover, dias perdidos de trabalho e em um fenômeno conhecido como *quiet quitters*, em que funcionários só entregam o mínimo esperado para sua manutenção no emprego.

## Como vamos mudar esse cenário?
As empresas que iniciam uma jornada de saúde mental começam normalmente pelo estágio de conscientização, depois transformam o cuidado com os colaboradores em estratégia. Poucas estão no estágio de reinvenção, como conto logo abaixo.

### Três estágios de maturidade dos programas de saúde mental
### 1º) Conscientização
A grande maioria das organizações, 95% delas, está no estágio inicial, de conscientização. Elas ainda não medem os KPIs que comentei acima, não sabem da importância de um programa estratégico estruturado e não imaginam o impacto positivo em aumento de produtividade e lucratividade que poderiam ter ao investir em saúde mental.

Por isso chamo essa etapa de conscientização. Algumas empresas podem até ir além do básico exigido pela lei trabalhista, e oferecem soluções isoladas, como uma palestra de conscientização no “Setembro Amarelo”, a concessão de benefício de aula de meditação ou pilates.

Costumo dizer que aqui há apenas gastos com ações desconectadas e nenhum investimento.

### 2º) Estratégia
Empresas que já estruturam programas estratégicos de saúde mental são 4,9% do total. O nível de conscientização e entendimento do tema está na agenda do C-level e existem KPIs de negócio atrelados à saúde mental. As empresas têm programas claros, coordenados e consistentes no tema e calculam o ROI dos investimentos.

Aliás, é bom dizer que essas empresas recebem até quatro vezes o retorno do valor investido nos programas, além de melhorar sensivelmente a qualidade da saúde mental dos colaboradores, a segurança psicológica do ambiente de trabalho e consequentemente o aumento do engajamento e da produtividade das equipes.

### 3º) Reinvenção
Apenas cerca de 0,01% das empresas estão nesse estágio. Sabe aquelas empresas que investem em um chief happinness officer, pensam em novos modelos de trabalho e criam novos designers organizacionais?

Essas empresas estão reinventando a forma de liderar pessoas e colocam a saúde mental no centro dessa discussão. Elas saíram da gestão da era industrial lá do início do texto.

As organizações que chegam nesse estágio ainda não têm a receita do bolo, mas estão testando, medindo e ajustando. Elas verdadeiramente entenderam que saúde mental e futuro do trabalho caminham lado a lado e é a única forma sustentável de fazer negócios.

Meu sonho grande é que a maioria das empresas chegue a esse estágio no futuro próximo. Até porque, se as pessoas não tiverem saúde mental, não haverá futuro do trabalho.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Quando o colaborador é o problema

Ambientes tóxicos nem sempre vêm da cultura – às vezes, vêm de uma única pessoa. Entenda como identificar e conter comportamentos silenciosos que desestabilizam equipes e ameaçam a saúde organizacional.

Marketing & growth, Inovação & estratégia, Tecnologia & inteligencia artificial
12 de setembro de 2025
O futuro do varejo já está digitando na sua tela. O WhatsApp virou canal de vendas, atendimento e fidelização - e está redefinindo a experiência do consumidor brasileiro.

Leonardo Bruno Melo - Global head of sales da Connectly

4 minutos min de leitura
Liderança, Cultura organizacional, Inovação & estratégia, Tecnologia & inteligencia artificial
11 de setembro de 2025
Agilidade não é sobre seguir frameworks - é sobre gerar valor. Veja como OKRs e Team Topologies podem impulsionar times de produto sem virar mais uma camada de burocracia.

João Zanocelo - VP de Produto e Marketing e cofundador da BossaBox

3 minutos min de leitura
Cultura organizacional, compliance, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Liderança
10 de setembro de 2025
Ambientes tóxicos nem sempre vêm da cultura - às vezes, vêm de uma única pessoa. Entenda como identificar e conter comportamentos silenciosos que desestabilizam equipes e ameaçam a saúde organizacional.

Tatiana Pimenta - CEO da Vittude

5 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Inovação & estratégia
9 de setembro de 2025
Experiência também é capital. O ROEx propõe uma nova métrica para valorizar o repertório acumulado de profissionais em times multigeracionais - e transforma diversidade etária em vantagem estratégica.

Fran Winandy e Martin Henkel

10 minutos min de leitura
Inovação
8 de setembro de 2025
No segundo episódio da série de entrevistas sobre o iF Awards, Clarissa Biolchini, Head de Design & Consumer Insights da Electrolux nos conta a estratégia por trás de produtos que vendem, encantam e reinventam o cuidado doméstico.

Rodrigo Magnago

2 minutos min de leitura
Tecnologia & inteligencia artificial, Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
5 de setembro de 2025
O maior desafio profissional hoje não é a tecnologia - é o tempo. Descubra como processos claros, IA consciente e disciplina podem transformar sobrecarga em produtividade real.

Diego Nogare

6 minutos min de leitura
Marketing & growth, Cultura organizacional, Inovação & estratégia, Liderança
4 de setembro de 2025
Inspirar ou limitar? O benchmark pode ser útil - até o momento em que te afasta da sua singularidade. Descubra quando olhar para fora deixa de fazer sentido.

Bruna Lopes de Barros

3 minutos min de leitura
Inovação
Em entrevista com Rodrigo Magnago, Fernando Gama nos conta como a Docol tem despontado unindo a cultura do design na organização

Rodrigo Magnago

4 min de leitura
ESG, Inovação & estratégia, Tecnologia & inteligencia artificial
3 de setembro de 2025
O plástico nasceu como símbolo do progresso - hoje, desafia o futuro do planeta. Entenda como uma invenção de 1907 moldou a sociedade moderna e se tornou um dos maiores dilemas ambientais da nossa era.

Anna Luísa Beserra - CEO da SDW

0 min de leitura
Inovação & estratégia, Empreendedorismo, Tecnologia & inteligencia artificial
2 de setembro de 2025
Como transformar ciência em inovação? O Brasil produz muito conhecimento, mas ainda engatinha na conversão em soluções de mercado. Deep techs podem ser a ponte - e o caminho já começou.

Eline Casasola - CEO da Atitude Inovação

5 minutos min de leitura