Gestão de Pessoas, Estratégia e execução, Gestão de pessoas
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Tudo o que você queria dizer para a liderança microgerenciadora, mas nunca teve coragem de falar

Cofundadora da Ambidestra. Consultora e mentora em estratégia, inovação e transformação organizacional.

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Ao longo das minhas quase duas décadas como executiva, vivi inúmeras situações envolvendo este vício corporativo: a microgestão. Embora muitas vezes este comportamento seja decorrente de um desejo de garantir o sucesso das iniciativas, todo mundo sabe que ele pode sufocar o crescimento das equipes e a inovação nas organizações. Refletindo sobre meus primeiros dias como gestora, lembro-me de insistir em aprovar cada pequena decisão. Minhas intenções eram obviamente as melhores – mas logo percebi que essa abordagem levava à frustração da equipe e atrapalhava nosso progresso e velocidade.

Hoje parece óbvio. Mas por que isso acontecia?

De uma perspectiva neurocientífica, a presença ou ausência de autonomia pode levar a reações distintas no cérebro, impactando resultados tanto nos indivíduos quanto na organização. Estudos empíricos demonstram que o aumento da autonomia está correlacionado com maior produtividade e melhor humor entre os funcionários, de acordo com uma pesquisa publicada em “Frontiers in Psychology”. Isso ocorre porque a autonomia está intimamente ligada ao sistema de recompensa do cérebro: quando os indivíduos percebem uma sensação de controle sobre seu próprio trabalho, o cérebro libera dopamina, um neurotransmissor associado ao prazer e à motivação. Essa liberação reforça comportamentos positivos e aumenta a motivação intrínseca. Por outro lado, a falta de autonomia pode ativar a resposta ao estresse do cérebro, aumentando os níveis de cortisol, o que pode levar à diminuição da motivação e do engajamento, impactando também na produtividade e no humor.

E o que podemos fazer para mudar?

Fiz uma retrospectiva por aqui para mapear alguns dos sinais comuns que observei tanto como líder quanto como liderada e explorar algumas estratégias para ajudar a promover um ambiente mais inspirador. E, quando o líder for você mesmo, qualquer semelhança não é mera coincidência.

1. Se sente incapaz de se desconectar, mesmo durante as férias

Sintoma: a tomada de decisão é interrompida na sua ausência, o que indica uma dependência excessiva de sua contribuição.

Solução: cultive uma equipe capaz de operar de forma independente, delegando responsabilidades e confiando na sua competência. Isso não apenas alivia sua carga de trabalho, mas também aumenta a confiança dos seus membros.

2. Você é claramente o gargalo

Sintoma: quando todas as tarefas aguardam sua aprovação, a autonomia da equipe diminui o progresso empaca.

Solução: capacite sua equipe para resolução de problemas, incentivando a autorresponsabilidade. Seja humilde para reconhecer que seu jeito não é o único ou necessariamente o melhor.

3. O ambiente se tornou uma “câmara de eco”

Sintoma: de “fachada”, a positividade está estampada e os acordos com as suas opiniões e decisões são constantes; mas, internamente, o medo e a falta de comprometimento prevalecem.

Solução: incentive o diálogo aberto valorizando perspectivas diversas. Expresse gratidão àqueles que desafiam ideias de forma construtiva, promovendo uma cultura onde a inovação prospera.

4. Reuniões onde todos permanecem com a opção “mudo” ativa (e literalmente ficam também)

Sintoma: a falta de participação em reuniões pode sinalizar uma equipe com medo ou desengajada. Se você não consegue se lembrar da última vez que membros da equipe fizeram uma pergunta e eles não demonstram curiosidade, isso sugere uma abordagem diretiva em vez de inquisitiva.

Solução: solicite ativamente a contribuição de todos os membros, criando um espaço seguro para compartilhar dúvidas, ideias e preocupações. Pergunte regularmente à sua equipe: “O que não estamos enxergando?” para descobrir pontos ocultos e promover a resolução colaborativa de problemas e propostas de ideias mais inovadoras.

5. Está sobrecarregado com a agenda lotada de reuniões e à beira de um burnout

Sintoma: reuniões constantes e para qualquer assunto podem indicar uma necessidade de controle, substituindo a confiança nas capacidades da sua equipe. Sente-se constantemente exausto, com hábitos de trabalho insustentáveis.

Solução: avalie a necessidade de cada reunião. Assim como um planejamento de orçamento “base zero”, exclua da sua agenda todas as reuniões e permita que sua equipe assuma a liderança. Opte por participar daquelas onde sua presença for verdadeiramente essencial. Defina limites saudáveis ​​entre vida profissional e pessoal, priorizando o autocuidado e incentivando que sua equipe faça o mesmo.

Você já sabe, mas é sempre bom lembrar. E reconhecer e abordar esses sintomas de microgestão, fazendo ajustes conscientes, é o caminho para criar ambientes de trabalho mais equilibrados e produtivos, e para construir uma equipe autônoma, inovadora e feliz.

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Cofundadora da Ambidestra. Consultora e mentora em estratégia, inovação e transformação organizacional.

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