Em abril e maio de 2024, o estado do Rio Grande do Sul enfrentou a maior catástrofe climática de sua história. As chuvas intensas afetaram mais de 90% do estado, resultando em 183 mortes, mais de 600 mil desalojados e prejuízos econômicos estimados em R$ 97 bilhões. Um ano depois, é essencial relembrar esse episódio não apenas como uma tragédia, mas como um alerta sobre a urgência de ações concretas diante das
mudanças climáticas.
Entre a crise climática e a desigualdade estrutural
As enchentes foram resultado de uma combinação de fatores climáticos extremos. O fenômeno El Niño contribuiu para o aumento das chuvas, mas estudos indicam que as mudanças climáticas dobraram a probabilidade de ocorrência de eventos tão severos e aumentaram sua intensidade em até 9%. Além disso, falhas na infraestrutura urbana, como sistemas de contenção e drenagem inadequados, agravaram os impactos das chuvas.
A tragédia expôs vulnerabilidades sociais profundas. Comunidades indígenas, quilombolas e populações em situação de vulnerabilidade foram desproporcionalmente afetadas. A agricultura sofreu perdas significativas, com danos a culturas como soja, arroz e milho, além de erosão do solo que comprometeu a produtividade futura.
Depois da enchente: respostas urgentes
Diante da devastação provocada pelas enchentes, o governo federal anunciou o repasse de R$ 98,7 bilhões para ações emergenciais e reconstrução, enquanto o governo estadual destinou R$ 2,4 bilhões para medidas de curto, médio e longo prazo. Apesar dos valores expressivos, as críticas são contundentes: a população afetada foi louco ouvida, e as ações carecem de um olhar mais atento para as desigualdades estruturais que amplificaram a tragédia.
Sem planejamento integrado e políticas voltadas à resiliência climática, o risco é de que o ciclo de destruição se repita – e com ainda mais força. As enchentes de 2024 não podem ser tratadas como um desastre pontual. Elas são o reflexo direto do colapso climático e da negligência histórica com infraestrutura, planejamento urbano e justiça social. Se não enfrentarmos as causas estruturais dessa crise, estaremos apenas reagindo ao próximo desastre, em vez de preveni-lo.
A reconstrução deve ser mais do que levantar muros: ela precisa derrubar barreiras de desigualdade e construir um caminho sustentável para o futuro. Enquanto indivíduos, temos o poder – e a responsabilidade – de cobrar medidas mais ambiciosas e eficazes dos governantes, apoiar organizações que lutam pela justiça climática e mudar hábitos que contribuem para o aquecimento global. Precisamos transformar indignação em mobilização: exigir transparência no uso dos recursos, pressionar por políticas públicas inclusivas e votar em representantes comprometidos com o meio ambiente.
O futuro não será seguro se continuarmos tratando a crise climática como um problema distante. Ele começa com nossas escolhas hoje, afinal não queremos que aquelas cenas se repitam em nossa história.