Quando era criança, Chris Wayne cresceu vendo o pai cuidando de 16 hectares de plantações em Danbury, Connecticut, Estados Unidos. No entanto, foi só depois de passar dois anos na Costa Rica, logo após a formatura na faculdade, que ele voltou a se interessar por agricultura.
O motivo para a viagem era um projeto de construção de casas, mas, enquanto morava no país, um vizinho precisou de ajuda em sua fazenda. Por conta da experiência na infância, Wayne se apresentou como voluntário, e foi o que bastou. “Eu redescobri o amor e o respeito pelo trabalho de agricultor”, relata.
Ao retornar para Nova York, em 2009, Wayne se candidatou a um emprego na organização sem fins lucrativos GrowNYC (da qual se tornaria diretor), voltada para a agricultura urbana e a defesa do meio ambiente, e passou uma temporada gerenciando a Greenmarket, rede de feiras ao ar livre ligada à GrowNYC onde é possível comprar legumes, verduras e frutas diretamente dos produtores.
Naquela época, a GrowNYC conduzia um programa chamado New Farmers Development Project, que tinha como missão primordial dar apoio a agricultores imigrantes. Por falar espanhol, Wayne foi contratado no âmbito desse projeto.
Jovens imigrantes chegavam aos Estados Unidos com grande domínio da área e desejo real de trabalhar no campo, mas não possuíam os recursos para transformar o conhecimento em um negócio bem-sucedido. Deu certo. Em dez anos, em torno de 160 imigrantes haviam passado pelo programa e aprendido sobre financiamento e gestão, e cerca de 20 lançaram empreendimentos próprios.
Em 2011, entretanto, Wayne e sua equipe na GrowNYC observaram uma mudança na visão sobre o agronegócio. “Mais pessoas começavam a pensar na agricultura como uma carreira viável, algo que as conectava com o que comiam e com o meio ambiente, que se encaixava no sistema de valores que estavam desenvolvendo”, diz ele.
Aumentava o interesse da classe média de Nova York pelo agronegócio e a população de baixa renda via na atividade uma oportunidade.
Em 2011 mesmo, a GrowNYC lançou a incubadora de startups agrícolas FARMroots, que oferece apoio a novos agricultores e fazendeiros experientes e que, ao longo do tempo, já atendeu mais de 300 pessoas. O objetivo? Aumentar a oferta de recursos à disposição de agricultores.
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DIRETO DO PRODUTOR
O New Farmers Development Project deu lugar ao Beginning Farmer Program. O novo programa inclui um curso de oito semanas com conteúdo que abrange temas como obtenção de ganhos de escala em pequenos empreendimentos, gestão financeira e comercialização de produtos. Além disso, prevê uma ação de aconselhamento, pessoalmente, para conectar novos fazendeiros com quem já está bem-estabelecido no ramo.
Graças à subvenção do Departamento de Agricultura do governo dos Estados Unidos, a FARMroots pode oferecer o programa gratuitamente.
As mulheres constituem entre 60% e 70% das turmas – o que representa um avanço importante em um setor de atividade em que as mulheres têm sido, historicamente, sub-representadas. Cerca de metade dos participantes é composta por imigrantes, e 30% são afro-americanos. Até hoje, mais de 40 agricultores que concluíram o programa iniciaram o próprio negócio. A iniciativa também acabou estimulando um ciclo do bem: quem faz o curso da FARMroots está especialmente preocupado em levar suas mercadorias para áreas de baixa renda, comercializando em 23 mercados de venda direta do agricultor para o consumidor e por meio de 10 comunidades que, de outra maneira, teriam muita dificuldade para obter acesso a produtos frescos.
A FARMroots ainda tem outras duas facetas, estas voltadas para fazendeiros já estabelecidos:
1. Oferece apoio de marketing a quem quer comercializar seus produtos pela rede Greenmarket. Nos próximos cinco anos, estima-se que a iniciativa possa representar um aumento de US$ 1,7 milhão na receita dos fazendeiros.
2. Ajuda empreendedores que estão se aposentando a fazer a transição para seus herdeiros.
A incubadora nova-iorquina não está sozinha nesse tipo de apoio multidisciplinar a agricultores nos Estados Unidos, e a proliferação desse tipo de entidade é, na visão de Wayne, muito positiva. “Os agricultores, especialmente os que têm produção diversificada e em pequena escala, precisam dominar uma enorme gama de conhecimentos para ter êxito. Por isso, é inevitável que necessitem de apoio. Programas como os nossos os transformam em agricultores viáveis, sustentáveis”, explica.
Organizações como a FARMroots, que apoiam empreendedores socialmente vulneráveis na agricultura, estão mudando a imagem do setor nos Estados Unidos. “Isso reflete mudanças que estão ocorrendo na sociedade”, afirma Wayne. E em outros países?