A transformação digital está redefinindo o mercado de trabalho, e diversas empresas têm tomado medidas ousadas para acompanhar essa mudança. Em janeiro deste ano, a SAP, companhia alemã desenvolvedora de softwares de gestão empresarial, anunciou uma reestruturação estratégica focada na integração da Inteligência Artificial (IA) em suas operações. Com um investimento de 2 bilhões de euros, a empresa está implementando um programa que afeta cerca de 8.000 de seus 108.000 funcionários, equilibrando dois objetivos: requalificar seus talentos para a era da IA e oferecer programas de demissão voluntária.
Essa iniciativa não apenas destaca a urgência de preparar a força de trabalho para o impacto da IA, mas também evidencia os benefícios econômicos dessa transição. Nesse cenário, o upskilling e reskilling emergem como ferramentas indispensáveis, não apenas para as empresas, mas também para os trabalhadores que desejam se manter competitivos, relevantes, preparados para os desafios atuais e futuros de um mercado em constante evolução.
Vamos entender como essas estratégias funcionam, suas diferenças e por que se tornaram tão cruciais na era da transformação digital.
O que é Upskilling e Reskilling?
Upskilling é o processo de aprimorar ou atualizar habilidades, competências e conhecimentos de um profissional dentro da sua área de atuação, visando melhorar seu desempenho em uma função atual ou avançar na carreira. Por exemplo, um programador aprendendo novas linguagens de programação para acompanhar as demandas do mercado é um caso de upskilling.
Esse processo é frequentemente promovido pelas empresas, que reconhecem o valor de investir no aprimoramento de suas equipes para atender às novas demandas do mercado. Programas de upskilling geralmente incluem treinamentos internos, workshops especializados e até mesmo parcerias com instituições de ensino para garantir que os profissionais estejam alinhados às tendências do setor.
Já o reskilling é a aquisição de habilidades completamente novas, preparando o profissional para transitar para uma nova função ou área. Esse movimento é especialmente relevante em um mercado onde muitas profissões estão desaparecendo ou sendo significativamente alteradas pela tecnologia. Um jornalista que aprende a operar ferramentas de análise de dados para conseguir migrar para a área de ciência de dados, por exemplo, está passando por um processo de reskilling.
O reskilling exige esforço tanto do profissional quanto das empresas. Por parte do trabalhador, demanda flexibilidade, disposição para aprender e explorar novas áreas. Por parte das organizações, requer planejamento estratégico e investimento em treinamentos específicos, muitas vezes personalizados para atender às necessidades da nova função ou área de negócios. É uma estratégia não apenas de adaptação, mas também de sobrevivência em um mercado de trabalho que muda cada vez mais rápido.
Atualização de habilidades na era da IA Generativa
Com o advento da IA Generativa, o mercado de trabalho enfrenta uma transformação profunda e significativa. De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), a inteligência artificial afetará 40% dos empregos em todo o mundo. Essas tecnologias não apenas automatizam tarefas repetitivas, mas também ampliam as possibilidades criativas e analíticas. Isso tem levado muitos trabalhadores a se perguntarem sobre essas mudanças.
Uma pesquisa realizada pela Jitterbit, em parceria com a Censuswide, revelou que 85% dos trabalhadores esperam que a IA melhore as suas funções. Além disso, 96% dos colaboradores acreditam que a ferramenta pode melhorar as suas competências profissionais e 61% não estão preocupados com a possibilidade da tecnologia de substituir as funções dos humanos.
Esses dados evidenciam uma mudança significativa na percepção dos trabalhadores em relação à Inteligência Artificial. Em vez de temê-la como uma ameaça iminente aos empregos, a maioria vê a IA como uma ferramenta poderosa para potencializar suas capacidades e otimizar suas funções. Além disso, o fato de a maioria não demonstrar preocupação com a substituição reforça que muitos acreditam na coexistência entre a tecnologia e o trabalho humano, em um cenário onde a inovação serve para complementar, e não substituir, as nossas habilidades.
Ou seja, aprender a utilizar ferramentas de IA Generativa não é apenas um diferencial competitivo, mas uma forma de se manter relevante. Para trabalhadores que enfrentam barreiras, como medo de mudanças ou falta de conhecimento, investir em treinamentos curtos e práticos pode ser o primeiro passo para uma transição tranquila.
Ainda faz sentido realizar uma graduação?
Indo um pouco mais além, acredito que essa discussão acerca da aprendizagem contínua esbarra na questão sobre o valor da graduação. Muitos se perguntam se é realmente necessário investir anos em uma formação tradicional quando cursos curtos podem oferecer o que o mercado exige no momento.
Embora uma graduação ainda seja fundamental para muitas carreiras, sua eficiência em preparar trabalhadores para novas demandas tecnológicas é debatida, e os gestores já entendem que um diploma não é capaz de garantir que o contratado domine bem as exigências para o cargo. De acordo com levantamento do portal Intelligent.com, 45% das empresas dizem que eliminarão os requisitos de bacharelado em 2024.
Cursos profissionais oferecem uma alternativa prática e direcionada, permitindo que profissionais adquiram habilidades específicas de forma rápida, sendo uma alternativa viável para preparar os profissionais de maneira eficaz e ágil, além de ajudar a atualizar-se diante de mudanças rápidas no mercado.
No entanto, é crucial ressaltar que a valorização do conhecimento e da capacitação seguem enquanto um grande diferencial. Aqui, não se trata de descartar a graduação, mas de entender o que cada formato oferece. A faculdade ensina, além de conhecimentos técnicos, competências valiosas para qualquer área. O relatório divulgado pelo Fórum Econômico Mundial, da Organização das Nações Unidas (ONU), revelou as habilidades do futuro, indicadas pela entidade como aquelas questão se tornando cada vez mais requisitadas no mercado de trabalho.
Entre elas, destacam-se a flexibilidade cognitiva, julgamento e a tomada de decisões. Esses atributos são muitas vezes desenvolvidos em disciplinas acadêmicas, projetos interdisciplinares e ambientes de pesquisa que estimulam o raciocínio analítico e a resolução de problemas complexos. Além disso, habilidades como inteligência emocional, coordenação e gestão de pessoas estão intrinsecamente ligadas à experiência de vivência em grupo, comum nos cursos de graduação.
Portanto, as faculdades têm um papel crucial em preparar o profissional para o futuro. No entanto, é essencial que também evoluam seus currículos para incorporar as novas necessidades do mercado, conectando conteúdos acadêmicos à prática profissional.
Uma escolha estratégica
Independentemente do caminho escolhido – graduação, cursos curtos ou treinamentos específicos – a atualização constante é fundamental para todos os profissionais. Tanto upskilling quanto reskilling são investimentos estratégicos que não apenas garantem competitividade, mas também oferecem a possibilidade de explorar novos horizontes profissionais.
Seja aprendendo a operar ferramentas de IA Generativa, adquirindo competências técnicas para migrar de área ou aperfeiçoando conhecimentos já existentes, a mensagem é clara: o futuro do trabalho pertence a quem escolhe aprender continuamente. Afinal, requalificar-se não é apenas uma questão de necessidade, mas uma oportunidade de crescimento e reinvenção.