A inteligência artificial (IA) já vem fazendo parte das inovações há vários anos, em uma crescente que foi acelerada exponencialmente no pós-pandemia e com a popularização de modelos generativos, como o ChatGPT, dentre outras ferramentas que possibilitam estarmos mais ágeis e atualizados.
Em uma sociedade onde a disposição de informações é imensa, um grande obstáculo tem sido justamente lidar com a acuracidade das informações. Saber escolher fontes confiáveis e focar no que é mais importante é um desafio constante nessa jornada, uma vez que seria irreal acompanhar a rapidez das informações e se manter atualizado em relação a tantos assuntos.
Nesse contexto, as áreas que no passado eram chamadas de recursos humanos, e há muito foram repensadas para gente e gestão (ou outras derivações), também têm feito uso dessas ferramentas.
Empresas especializadas nas ferramentas necessárias para as áreas de gente têm estudado formas de procurar a pessoa certa para o lugar certo, atrair essas pessoas, bem como realizar um processo seletivo que faça sentido para a cultura de cada organização. Após a entrada do colaborador, também se tem repensado as avaliações de desempenho, os mecanismos de treinamento e desenvolvimento e até mesmo o offboarding de colaboradores, pensando na jornada de ponta a ponta.
Apesar desse cenário em descobrimento, a IA tem feito um papel importante de aceleração. Em processos de recrutamento e seleção, por exemplo, percebe-se que a maior parte das empresas que sempre trabalhou com pesquisas comportamentais (DISC, PI, MBTI, dentre outras), testes de lógica, inglês, Excel etc., têm tido a chance de repensar seus processos. Se antes utilizava-se apenas ferramentas para otimizar processos, integrando a IA pode-se focar na experiência do candidato.
Ao passar por essa perspectiva da pessoa, ao invés da visão costumeira de processo, se pensa a jornada do candidato desde o instante em que ele é atraído pela vaga até o momento em que é selecionado (ou até o momento da devolutiva). A perspectiva de colocarmos a pessoa no centro é uma visão incrível que pode ser potencializada pela IA quando nos permite avançar, aprofundar, entender e conhecer os candidatos no objetivo ganha-ganha de encontrar a pessoa certa para cada posição.
Na Peers Consulting & Technololgy, por exemplo, fazemos uso da IA internamente, para nossos programas, e com produtos que envolvem inteligência artificial externamente para auxiliar as empresas nessa caminhada. Um bom exemplo interno foi a recente triagem automática de currículos no nosso último programa de estágio, o CD Peers, com entrada em agosto de 2023. Eram quase 3.500 currículos, e criamos uma triagem automática que previa todas as interações assíncronas que havíamos tido com eles: suas experiências, vivências, formações e notas nos testes de lógica, Excel e inglês.
Há possibilidades também de criar chatbots para recrutamento e entrevista, chatbots para soluções internas de gente das empresas, análise de sentimentos dos colaboradores (e, se possível, inferir inclusive o nível de satisfação do colaborador sem necessariamente fazer essa pergunta), recomendação de treinamentos ou mesmo de um mentor mais aderente às experiências e perfil, além de prever turnover e até desenvolver carreira com base no histórico e no objetivo de cada pessoa.
Um cuidado importante reside justamente nesse fato: traçar o objetivo para o qual se quer dar foco. O que muitos processos de recrutamento ainda carecem, por exemplo, é buscar trazer a pessoa certa para o lugar certo colocando a experiência do candidato no centro. A intensa ansiedade, a falta de profundidade nos temas e a grande gama de informações disponíveis por muitas vezes nos confundem. Queremos tudo para ontem, mas o que era esse tudo mesmo?
Certa vez o autor de *Rápido e devagar*, Daniel Kahneman, estava ministrando uma conversa com estudantes de MBA da The Wharton School da University of Pennsylvania, nos Estados Unidos, e fez uma fala sobre vieses cognitivos, mencionando que justamente queremos utilizar algoritmos para reduzir vieses inconscientes – esse barulho que nos atrapalha tantas vezes sem percebermos e nos faz tomar decisões equivocadas, preconceituosas, descuidadas de um olhar atento e profundo ao próximo.
Ao mesmo tempo, vale lembrar que os algoritmos são desenhados por humanos – os quais possuem vieses cognitivos inconscientes. Sendo assim, a resposta de utilizar a IA não deveria ser vista como uma solução simplista para resolver os defeitos humanos, mas sim como um caminho produtivo para este fim, desde que saibamos desenhar o que queremos, que o façamos com qualidade e profundidade, e que não percamos o foco.