Vivenciamos um contexto em que é inquestionável a relevância de questões ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês) para sociedade, empresas e investidores. Da mesma forma, é inexorável o quanto as tecnologias digitais já estão atreladas ao nosso cotidiano, como acessar serviços bancários, pedir comida e solicitar transporte por aplicativo, entre outros serviços relacionados à saúde, segurança e direitos cívicos.
Quando confrontamos as evoluções tecnológicas às diretrizes de ESG nas empresas, abrimos novos flancos bem relevantes de reflexão. De um lado, a transformação tecnológica é uma grande aliada das empresas no ganho de eficiência, competitividade e desempenho ambiental, social e de governança. De outro, o atual nível de escalabilidade e evolução abre novas fronteiras de desafios conceituais, éticos e materiais sobre potenciais impactos concretos na perspectiva ambiental, social e econômica.
Em uma perspectiva mais positiva, a digitalização pode ajudar a reduzir o consumo de energia e a emissão de poluentes pelo uso de recursos mais limpos e eficientes, além da sensorização e do uso intensivo de dados. Da mesma forma, a automação de processos pode melhorar a segurança e a qualidade dos produtos e serviços, garantindo melhores condições de trabalho para os funcionários.
Contudo, quando afunilamos esses desafios para o microcosmo de como as coisas acontecem na “cozinha” das empresas, identificamos efeitos colaterais que precisam ser solucionados.
A significativa elevação da demanda energética é um destes efeitos colaterais. Empresas e sociedade precisam ter uma perspectiva sistêmica e transversal sobre os diferentes impactos adversos dessa jornada evolutiva. Logo, mais importante que o conhecimento técnico, é fundamental que as organizações avancem nos aspectos culturais sobre como trabalham seus impactos ambientais e sociais para que a tomada de decisão seja mais completa.
Isso é importante para garantir que todos os profissionais da organização participem e sejam responsáveis pelas áreas de infraestrutura, administrativa ou de programação. A forma como se organiza a arquitetura de dados, processos e fluxos tecnológicos pode demandar mais processamento das máquinas e, consequentemente, mais energia. Ao final, esse esforço pode se somar a ineficiências e impactos negativos.
Logo, a prática de inventariar, aperfeiçoar e trocar constantemente softwares e sistemas corporativos, buscando mais eficiência e assertividade, melhora a produtividade e tem o potencial de reduzir impactos ambientais.
Na evolução desse pensamento sobre ganhos de eficiência está também o repensar nos modelos de operações. Nesse contexto, as soluções em nuvem estão se tornando cada vez mais acessíveis e começam a ser vistas dentro de um “pool” de alternativas mais interessantes do que as soluções “on premise” (servidor local). Isso porque nas soluções locais quase sempre haverá um nível elevado de energia sendo desperdiçada com máquinas rodando em ociosidade, além da demanda de materiais físicos em redundância.
Também nas soluções locais existem riscos e impactos sistêmicos, como a disponibilidade hídrica, riscos físicos com segurança e outros fatores que podem agredir os espaços de instalação dos equipamentos. Para a sustentação desses espaços, também é necessária uma redundância para diminuir riscos de parada ou perda de dados da infra principal. A soma de tudo isso pode ser facilmente computada em ineficiências ambientais e perdas econômicas para o negócio.
Nas soluções em nuvem, o uso da energia pode ser mais racionalizado e melhor otimizado. Além disso, as estruturas físicas podem ser instaladas em locais com melhor acesso a energias de fontes renováveis, temperaturas mais frias e melhor disponibilidade de recursos hídricos. Tudo isso quando feito de forma planejada, tanto sobre o viés econômico quanto ambiental, traz ganhos múltiplos de eficiência para o negócio no que tange às chamadas agendas pré-competitivas.
Logo, a organização que se desafia a migrar sua infraestrutura computacional para a nuvem, já têm em mãos o potencial de iniciar uma redução do seu impacto ambiental direto. Além disso, ainda pode ter ganhos significativos em responsividade, flexibilidade e redução de riscos físicos sem ampliar investimentos.
Também é um imperativo considerar os aspectos sociais e éticos da escalada tecnológica sobre a vida das pessoas. Nos dias atuais, são evidentes os riscos e impactos dessa evolução tecnológica nas relações e na vida social das pessoas.
Nesse contexto, muito se questiona sobre o nível de influência direta do avanço tecnológico na degradação do emprego, em especial com a atual escalada das inteligências computacionais. São questões sobre a eliminação de empregos de diferentes níveis de qualificação, a proteção de dados pelo risco de exposição, os usos indevidos ou não autorizados de conteúdo e informações. Dado que a origem de tudo isso, na sua maioria, tem participação direta das empresas, logo todas terão sua parcela de responsabilidade, seja pelo problema, seja pela solução.
Por essas e outras, que desde sempre advogo que a agenda ESG dentro das organizações não é responsabilidade de uma área em si, mas de todas as pessoas que fazem parte da dinâmica do negócio. Portanto, ESG precisa estar presente como um elemento intrínseco e transversal em toda a organização. Quando conseguimos evoluir para esse patamar, qualquer profissional passa a se questionar o que ele tem a ver com as demandas ESG do negócio que participa. E a resposta deve sempre ser: tudo!!!
Assim, todos os profissionais passam a buscar soluções de maior amplitude a partir das suas especialidades e zona funcional de contribuição de forma sistêmica.
Em resumo, ESG e transformação digital são dois temas cada vez mais importantes para empresas, investidores, sociedade e pessoas. Além disso, é possível concluir que esses temas estão transversalmente conectados e, portanto, as diretrizes de ESG devem compor um direcional competitivo e estratégico do negócio, inclusive para questionar paradigmas consolidados e romper barreiras anacrônicas que cristalizam fórmulas de sucesso de um passado que não existe mais.
Afinal, as decisões de “sucesso” que nos trouxeram até aqui não necessariamente nos levarão para o próximo passo. Ainda mais quando falamos dos desafios presentes da humanidade em termos de desenvolvimento sustentável.